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Recursos para o astrónomo amador

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Almanaque (informação essencial, fenómenos astronómicos, gráficos e listagens)

- Fenómenos astronómicos - 2024
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Links

Selecção de endereços...

- Sky & Telescope (a renomada revista)

- Spaceweather (um "boletim meteorológico" do sistema Sol-Terra, permite, por exemplo, visualizar manchas solares praticamente em directo)

- TheSkyLive.com (o céu nocturno observável, imensa informação; inserir localização geográfica)

- Orbital Elements (Gideon van Buitenen; cometas, asteróides, etc., elementos orbitais actualizados)

- CelesTrak (T.S. Kelso; NORAD GP Element Sets; TLEs, elementos orbitais satélites artificiais)

- MPC (Minor Planet Center; cometas e asteróides, elementos actualizados)

- Astorb (The Asteroid Orbital Elements Database; asteróides: elementos orbitais de elevada precisão; Lowell Observatory)

- Aerith.net (Seiichi Yoshida; cometas actualmente observáveis)

- Comet Observation database (COBS) (cometas actualmente observáveis)

- JUPOS (Database for Object Positions on Jupiter, inclui dados da longitude da GRS "Grande Mancha Vermelha")

- Transit Times of Jupiter's Great Red Spot (Longitude da Grande Mancha Vermelha - simulador interactivo no sítio da Sky&Telescope)

- IOTA (International Occultation Timing Association; ocultações: previsões, tutoriais, registos, programas)

- TWAN ("The World At Night"; fotografia, ciência e cultura)

- RapidTables (conversão de medidas anfulares em decimais e vice-versa)

- Deep-Sky Watch (Michael Vlasov; atlas e outros recursos vocacionados para a observação dos objectos do céu profundo)

- Night Sky Planner (Larry McNish; ferramenta que permite preparar sessões de observação segundo diversos parâmetros)

- Richard Orr's Astronomy Drawings (magnífico acervo de esboços de astronomia, um "guia" visual que permite compreender, realisticamente, o que de facto se pode observar)

Sky Publishing Corp. website - FEV98
Popularizada há poucas décadas, a web revolucionou o acesso à informação, divulgação, colaboração e também o comércio da astronomia. Detalhe da página Sky Online em Fevereiro de 1998.



Software

Atari Planetarium
Starry Night

Algumas referências do passado (clicar nas imagens)

 
A diversidade é imensa. A escolha depende, principalmente, das funcionalidades pretendidas e da qualidade e estabilidade das implementações. Convém conhecer as funcionalidades, bases de dados que pode utilizar e limitações. Apesar de toda a informação disponibilizada online, nada se compara à comodidade da utilização destas ferramentas na simulação, filtragem de informação relevante, impressão de cartas adequadas ao contexto específico e detalhe pretendido. Dos imensos títulos que experimentámos ao longo dos anos, divulgamos os seguintes (principalmente na categoria "planetários"), com enfoque na qualidade e na cartografia, não na simulação realista ou "diversões" multimédia; ordem alfabética.


COELIX APEX (Jean Vallières, NGC7000). Criado pelo renomado astrónomo do Québec, é disponibilizado gratuitamente desde versão 3 (com código de activação solicitado por email). Windows x32 e x64. O interface é organizado mas um pouco "anquilosado" (v. captura). O módulo 'planetário' (Whole Sky View) é elementar e pouco interactivo (sem selecção de áreas de interesse, zoom ou navegação utilizando cursores). Torna-se oneroso movimentar o mapa ou sequer clicar num determinado objecto para aceder ao popup de informação. Todavia, esta autêntica "colecção" de programas possui uma ferramenta autónoma de ampliação (Zoomed view), coloca Fields of view vocacionados para a observação equipada, exporta mapas (Sky Maps, graficamente austeros mas completos e, em certa medida, editáveis), inclui funcionalidades básicas de planeamento de sessões de observação, efemérides, listagens de fenómenos cruzando informação, múltiplos gráficos, etc. Um "almanaque virtual" absolutamente indispensável que até calcula as ocultações de estrelas e planetas pela Lua (exemplo, .PDF, 175KB), lista fenómenos (listagens diárias, mensais, gráfico anual), procura eclipses, etc. Controla telescópios (c/ protocolo ASCOM, um standard aberto que possibilita interface digital entre equipamentos astronómicos). Apesar de devolver resultados muito precisos nas tabelas de efemérides, apresenta incoerências nos rise/transit/set times (nomeadamente da Lua) noutros módulos (e.g., Whole Sky View), exigindo assim verificação atenta. Programa não permite filtrar os objectos mapeados (e.g., galáxias) por magnitude, o que impede a impressão de cartas adaptadas e legíveis, expurgadas dos objectos inacessíveis ao nosso equipamento ou circunstâncias. Actualiza facilmente elementos de asteróides e cometas, não mapeia satélites artificiais. O maior catálogo de estrelas incluído é o veterano GSC. Resumo: generoso conjunto de programas, muito proficiente no que respeita à exportação de efemérides (e outras listagens) que permitem antecipar os fenómenos observáveis (exemplo), particularmente débil no importante módulo 'planetário' e no mapa lunar. O suporte técnico é responsivo, programa é assiduamente actualizado.


CyberSky (Stephen Michael Schimpf). Atenção: a comercialização detse programa terminou em Maio de 2024. Exclusivo do Windows, compatível com versões x64, o seu design procura(va) criar familiaridade emulando interface do MS Office. Sempre disponibilizou Trial version. Trata-se de um programa muito ágil na utilização, com funcionalidades de mapeamento e impressão muito competentes. Disponibiliza o fundamental na perspectiva do amador, opção muito satisfatória, dinâmico e customizável. Zoom gradual muito inteligente, em função da magnitude dos objectos, labels, objectos do céu profundo escrupulosamente mapeados/orientados (grafando igualmente labels dos objectos mais conspícuos dos catálogos Collinder, Stock, Trumpler, Kemble, etc.), asterismos, animações com potencialidades pedagógicas, planetas e principais satélites planetários (não renderiza detalhes das superfícies e atmosferas), cometas, asteróides, chuvas de meteoros, movimento próprio das estrelas, etc. Coloca campo de visão ou Telrad e exporta informação adicional (estações do ano, visibilidade planetas, fases lunares, etc.). Igualmente útil para produzir boas cartas de suporte (finder charts), apesar da eventual sobreposição dos labels. O aspecto mais inconseguido, na nossa opinião, é o conjunto de padrões pueris adoptados no desenho das constelações, que parecem seguir o autor e ilustrador H. A. Rey (1898-1977). Parecem-nos "complicados", não correspondendo à prática mais difundida na impressão de ilustrações e mapas. Resumo: programa muito eficiente e maduro, aperfeiçoado e estável, cumpre o que se propõe fazer! Funcionalidades impressionantes para uma instalação <125 MB. Pelas funcionalidades, agilidade na utilização (deslocamento, zoom, etc) e pela eficiente representação é o melhor de "médio calibre", suficiente para quase todos os desafios e muito fiável. Recomendado! Atenção: o suporte técnico é, actualmente, praticamente inexistente. Todavia, é possível actualizar os elementos orbitais de asteróides e cometas recorrendo a outras fontes, como aqui explicamos (.PDF, 608KB).

CyberSky


Earth Centered Universe (ECU) Pro (David J. Lane, Nova Astronomics). Planetário e software de controlo de telescópios, proprietário, cuja actual versão testámos brevemente (também conhecemos, há muitos anos, o ECULITE V3.2A, antiga versão low end, cujos elementos orbitais conseguimos actualizar). O interface do ECU privilegia a utilização do rato (cursores não são utilizados para movimentar o mapa), mas possui atalhos do teclado. É ágil e leve. O mapeamento é graficamente austero, configurável, esquemático e muito eficiente (captura). Os menus de suporte, a customização, as opções de filtragem/pesquisa, a o printing são sofisticados. Particularmente vocacionado para a observação de objectos do céu profundo. Estes últimos, numa selecção muito metódica e adequada, são correctamente orientados mas não se desenham outlines nas nebulosas (o que não é, em rigor, uma desvantagem, pois estas diáfanas nebulosidades são fenómenos eminentemente 'fotográficos', raramente acessíveis opticamente). O programa facilita a pesquisa online a partir do próprio interface. A configuração e integração dos catálogos estelares apresenta-se desnecessariamente complicada. Quando seleccionados concomitantemente diferentes acervos, podemos arriscar a duplicação de algumas estrelas (fenómeno visível com zoom intenso) ou (inversamente) caso utilizemos somente determinado catálogo (e.g., Tycho-2) podemos "perder" uma ou outra estrela conspícua (e.g., Theta (62) Aql). Como "solução", pode utilizar-se exclusivamente um catálogo mais vasto (e.g., GSC ou USNO A-2.0, este último não incluído no package), infelizmente descartando as úteis designações Bayer/Flamsteed (somente presentes no pequeno Bright Star Catalogue). Situação absurda! No que diz respeito ao Sistema Solar, o programa é limitadíssimo (o que é estranho tratando-se de uma suposta versão "Pro"): representa os planetas no céu virtual mas não inclui os seus satélites ou o mínimo detalhe (e.g., as faixas ou a Grande Mancha Vermelha de Júpiter, os anéis de Saturno, as fases de Vénus, os acidentes da superfície lunar...), o que afugenta o observador vocacionado para a observação planetária. Todavia, importa, converte e utiliza as mais completas bases de dados de cometas (MPC) e asteróides (MPC ou Lowell). A sua melhor característica, notável e quase exclusiva, é a versatilidade e legibilidade do seu output e dos mapas exportados ou impressos (com labels "inteligentes", sem interferências/sobreposições, mesmo nas regiões mais densas, indicação da magnitudes dos objectos, etc.) e "split charts" (impressão, na mesma página, de dois mapas da mesma zona do céu com diferentes escalas/níveis de detalhe). Resumo: programa com algumas funcionalidades extraordinariamente bem implementadas, estruturado numa lógica keep it simple, acompanhado por um bom manual. Todavia parco no que diz respeito a ferramentas e com um deplorável problema na gestão dos diversos catálogos estelares. Os termos do licenciamento parecem-nos demasiado onerosos e restritivos, exagerados para este segmento tão competitivo e repleto de alternativas.


GUIDE (Bill Gray, Project Pluto, Licença GPL). Prodigiosamente preciso, criado por um astrometrista de escol (igualmente autor de programas como Find_Orb ou o histórico Charon, que permite extrair informação posicional e fotométrica a partir de imagens CCD ou digitalizadas). Distribuido originalmente num DVD de dados, GUIDE pode funcionar a partir do HDD, suporte USB ou SD. Enorme, repleto de ferramentas, num interface com aparência um pouco "datada" e com alguns "problemas" de usabilidade (inúmeros settings nem sempre logicamente agrupados no sistema de menus, demasiados 'cliques' para algumas configurações, eventual necessidade de edição de parâmetros directamente em ficheiros de texto do programa, etc). Parece ter crescido "organicamente", não seguindo uma delineação definitiva. Cartografia com muita qualidade. Um verdadeiro "monstro", tal a quantidade de informação que disponibiliza, todavia permitindo uma navegação veloz e imersiva. Astrometria ao melhor nível através da implementação dos algoritmos disponíveis (VSOP e PS1996, baseados nas efemérides JPL) não truncados, i.e. com todos os termos para precisão máxima. Catálogos vastos, representação detalhadíssima dos objectos do céu profundo (filtrados em função das nossas escolhas) através de contorno, isophotes (criados por Eric-Sven Vesting) e fotografias (tipo DSS/RealSky) devidamente sobrepostas e orientadas, pormenores da superfície ou da atmosfera dos planetas (e.g., Júpiter) e principais satélites naturais (acautelando trânsitos, ocultações, sombras...), muitos detalhes no mapeamento da Lua (fotografias das melhores proveniências, e.g., Clementine LPI), gradualmente mostrados em função do zoom, etc. Exporta copiosa informação complementar acerca dos objectos (exemplo da estrela Arcturus, repare-se na barra de deslocamento reveladora da dimensão do texto). O sistema de ajuda é completo e inclui imensa informação (e.g., muitos objectos do céu profundo anexam os magníficos comentários das observações de Steve Coe (1949-2018), excepcional deep-sky observer e referência do SAC (Saguaro Astronomy Club), bem como informação técnica catalogada em diversas fontes, incluíndo tabelas para as estrelas variáveis. O acervo de opções da listagem Projection permite compreender que estamos perante um programa cartograficamente versátil e completo. Possibilita importação e edição de elementos de asteróides/cometas/satélites artificiais, calcula (nos contextos adequados) conjunções/trânsitos/eclipses abrangendo virtualmente todos os objectos (nestas funcionalidades, não há qualquer programa que rivalize). É tão detalhado que, como exemplo, nos trânsitos das sombras dos satélites de Júpiter também mapeia a zona penumbral! Claro que não se limita aos fenómenos dos satélites de Júpiter (aqui o trânsito da sombra de Titã, S6, sobre o globo de Saturno). Eclipses: desenha um mapa geográfico detalhado para qualquer fenómeno, com os dados para cada local abrangido. A sua precisão no cálculo de fenómenos (futuros ou históricos) compara-se à que encontramos em eclipsewise,com (Fred Espenak) e não conhecemos qualquer outro programa que o consiga fazer (nem SkyMap Pro nem WinEclipse). Apesar da admirável cartografia, a impressão afigura-se por vezes onerosa em termos de configuração. Todavia, as finder charts de pormenor (com pequeno FOV - campo de visão) são excelentes (quanto a nós as melhores e já testámos imensas, de múltiplas proveniências) pois correspondem fielmente ao que se vai observar na ocular, com adequada diferenciação das magnitudes estelares (detalhe importantíssimo). Determinadas operações são morosas e desnecessariamente laboriosas (e.g., para calcular conjunções ou eclipses entre dois objectos, é necessário encontrar e clicar num dos objectos envolvidos, depois encontrar e clicar no segundo e, finalmente, dizer ao programa para calcular acedendo ao menu "Extras"). E há mais alguns procedimentos "fatigantes". Indexa e pesquisa quase toda a informação de dezenas de catálogos (alguns muito especializados) mas, por vezes, prioriza no mapa alguns objectos ou opta por uma identificação em detrimento de outra mais comum, e.g., M69 é mapeado segundo a sua designação NGC). Resumo: o programa representa um esforço extraordinário de cartografia, sendo completíssimo mas simultaneamente ágil e veloz. Concebido para o cálculo rigoroso e para mapas de pormenor. Não está isento de falhas e "contratempos" devido à sua dimensão, complexidade e estrutura dos menus. Foram ultimamente reportados problemas de integração com as recentes implementações ASCOM (6.5) que decerto já não serão solucionados. Não sendo actualizado, não acompanhou os protocolos que suportam os mais recentes interfaces com equipamentos automáticos. GUIDE possui imensas hotkeys, felizmente configuráveis (permitindo agilizar uma utilização veloz e  eficiente, com recurso quase exclusivo ao teclado). Exige, no início, habituação aos procedimentos e a consulta do manual (aqui o nosso velho exemplar da versão 7.0, de 1998). Uma vez dominado, teremos ao nosso serviço uma ferramenta poderosíssima e, quanto a nós, incomparável.  Exemplos do milefólio de tabelas que exporta (imagens somente captam algumas linhas): informação básica, fenómenos dos principais satélites de Júpiter, passagens satélites artificiais (neste caso a ISS), listagem de asteróides até à magnitude 22 (vai mais "longe", se necessário!), lista de regiões observáveis na superfície de um planeta ou satélite (Marte, neste caso). E podíamos continuar, há muito mais! (Repare-se que a informação tabulada possui hiperligações e recorre a um código de cores que traduz a acessibilidade observacional do fenómeno ou objecto na data/hora específica)

GUIDE9.1

Que ninguém se deixe ludibriar pelos "bonecos" (opcionais) ao longo do horizonte na imagem acima. Este programa não é para brincar! Apela particularmente ao "astrometrista" ou ao cronologista, muito preciso no cálculo de conjunções, ocultações e eclipses, todavia servindo qualquer prática de observação pois, como referido, traduz eficazmente o que se pode observar, nas diversas circunstâncias e níveis de detalhe (exemplo de uma simplificada carta de busca em PDF exportada para localizar, entre outros objectos, NGC2261, a peculiar "Hubble's Variable Nebula", em Monoceros, próxima do enxame NGC2264; isophotes delineados elucidam a forma do "alvo" muito melhor do que um qualquer 'ícone' convencional. Com maior zoom programa sobrepõe fotografia correctamente dimensionada). É pois, como evidenciado, também fortíssimo na representação dos objectos do céu profundo. Decerto o melhor programa na mais exigente categoria (diremos único na sua categoria) mas não obviamente aconselhado aos newbies. Infelizmente, o seu desenvolvimento parece ter parado. Não é problemático pois software já atingiu a maturidade. Permite instalação versátil (não "intrusiva", sem acesso ao registry, etc.) e actualização dos elementos orbitais efémeros (cometas, asteróides, satélites artificiais). É suportado através de user mailing list. Pode funcionar agilmente em qualquer versão do Windows, ambiente macOS (Boot Camp, Parallels) ou Linux c/ recurso à layer de compatibilidade WINE.


Hallo Northern SKY (HNSKY; programado por Han Kleijn, supomos que continue a ser activamente desenvolvido). Apresentado como Semi-professional, open source e multi-plataforma (Windows / Linux / Mac / Raspberry Pi). Excelente usabilidade (pode ser utilizado de modo proficiente quase de imediato), ágil, configurável e bem estruturado (ver capturas: abrangente e região mais confinada, com galáxias correctamente orientadas), Pode utilizar os mais completos catálogos (GAIA DR2, UCAC4, NOMAD e PPMXL) e até algoritmos recentes  (e.g., DE431). Permite download dos elementos orbitais actualizados de asteróides e cometas. Interface facilmente configurável (cores, fontes, botões disponíveis na barra de menu, etc.). Tudo muito lógico, servido por teclas "convencionais" (para navegar, fazer zoom, pesquisar, abrir menus, etc.). Teclas [Control] e [Alt]  permitem imensas combinações. Programa inclui os principais satélites planetários, coloca no mapa imagens DSS, "pointer circles" (e.g., Telrad), controla equipamentos recorrendo aos protocolos ASCOM ou INDI. Funcional, mesmo com a modesta instalação básica (<100MB). Mapeamento razoavelmente conseguido (permite configurar brilho e densidade das estrelas desenhadas). Na prática diferencia bem as estrelas mais brilhantes mas as mais ténues são atapetadas num fundo homogéneo e confuso. Outros aspectos menos conseguidos (verificados na nossa instalação em Linux): algumas estrelas brilhantes não têm a identificação Bayer e as identificação podia ser mais abrangente (id em catálogos diversos), não enfatiza devidamente duplas e variáveis. Ícones para determinadas tipologias (e.g., nebulosas planetárias) não são convencionais. Algumas constelações não apresentam os desenhos "convencionais" (questão decerto subjectiva, não há regras ou qualquer validação científica, todavia...). Alguns objectos NGC são devidamente pesquisados, localizados e programa devolve informação basica, mas NÃO são desenhados no mapa, i.e., estão invisíveis (e.g., NGC3521, NGC1560, NGC1232, NGC2683). Impressão (em Linux, c/ CUPS) revelou-se desastrosa, completamente ineficiente, tanto para PDF como directamente para impressora (hard copy). Provavelmente depende da plataforma e dos drivers utilizados. Em resumo, programa ergonómico, multi-plataforma e sem custo, todavia apresenta algumas disfunções comprometedoras. Suporte técnico ineficiente.


MegaStar Sky Atlas (Emil Bonanno, E. L. B. Software / distrib. Willmann-Bell). (Editora encerrou actividade e programa
ficou aparentemente disponível gratuitamente. Enorme clássico, um histórico publicado desde 1992, bem estruturado, customizável, estável e eficiente (captura1, captura2, captura3). Juntou uma legião de utilizadores dedicados à observação do chamado "céu profundo". Neste particular, bases de dados são colossais, extensas e diversas (por vezes exclusivas: é o único a incluir o catálogo de galáxias MAC). Não nos impressiona pelas valências gráficas ou pelas escassas funcionalidades dedicadas ao Sistema Solar (não calcula eclipses nem sequer mapeia os satélites dos planetas). Mas calcula asteróides e percursos dos cometas se conseguirmos actualizar os elementos orbitais, o que é exequível (todavia não processa algumas destas órbitas, devolvendo erro). Também executa o tracking das órbitas planetárias. Os catálogos estelares denunciam a idade, privilegiando o já antigo GSC (também inclui os catálogos Hipparcos e Tycho, sendo possível utilizar o USNO A2.0). Um aspecto que consideramos menos conseguido é a diferenciação gráfica das magnitudes das estrelas, representadas (na nossa opinião) de modo demasiado homogéneo. Precisaria de uma melhor adaptação às capacidades gráficas disponíveis actualmente. As estrelas são apresentadas como discos de tamanho variável e não como pontos com diversas luminosidades.

MegaStars5

Em suma, a reputação do MegaStar reside no facto de, na sua época, ser considerado "imbatível" no que respeita ao Deep-Sky (bases de dados, milhares de thumbnails de objectos opcionalmente sobrepostos e devidamente orientados no mapa) e à consequente utilidade das cartas que imprime. Um programa que serviu um determinado segmento da observação amadora. Infelizmente há muito sem suporte (excepto através de um dinâmico user group). Em rigor, os catálogos estelares estão desactualizados e os próprios cartálogos do céu profundo são, actualmente, considerados pouco convencionais. Mas continua a ser um programa relativamente interessante e estável como um rochedo! Funciona agilmente em sistemas recentes (basta extrair ficheiros e correr executável) ou sob Linux (c/ recurso à compatibility layer WINE).


Skychart/Cartes du Ciel (Patrick Chevalley). Disponível para Linux (requer componente libpasastro), Mac OS X e Windows. Um dos mais apelativos, inclui uma pletora de funcionalidades e integração alargada com recursos online. Utiliza modularmente os mais recentes e rigorosos catálogos. Interface organizado (captura), similar ao do SkyMap. Parece-nos algo "monótono" e talvez pouco ágil graficamente. Mas possui todas as funcionalidades que esperamos encontrar num programa de topo! Esquemático e completo na representação dos objectos do céu profundo. Também excelente no Sistema Solar (incl. efemérides), satélites artificiais, etc. Configuração modular dos catálogos disponíveis. Mapeamento configurável, boa capacidade de printing. Tem muita maturidade e qualidade, é gratuito e assiduamente actualizado. Disponível tradução em Português. Por tudo isto, muito recomendado!


SkyMap Pro (Chris Marriott). Um "clássico" poderoso. As versões anteriores (e.g., SkyMap 3.2, de 1998) eram já rigorosas e estáveis. Excelente usabilidade, organizado e intuitivo; display e impressão com qualidade e flexibilidade (selecção de objectos, magnitude limits, labels, etc. Funciona melhor através da selecção de áreas, segundo Levels (níveis), não tanto através do zoom tradicional). Como o nome indica, produz mapas, excelentes mapas. E muito mais! Esquemático, falta-lhe talvez um pouco de "realismo" na representação detalhada dos objectos do céu profundo (disponibiliza outlines). Muito versátil e amigável nas inúmeras configurações. Calcula efemérides precisas, fenómenos (events) com recurso a inúmeras variáveis, eclipses (com mapas geográficos mas impreciso para investigação de eclipses históricos), permite utilização e edição de parâmetros (e.g., elementos orbitais de cometas, asteróides e satélites artificiais, longitude da Grande Mancha Vermelha de Júpiter), possui funcionalidades de planning e logging, simula campo de visão (FOV) de oculares, etc. É provavelmente o programa mais eficiente e organizado deste segmento de topo. Entretanto descontinuado mas acompanhado no grupo de discussão https://groups.io/g/skymap (exige registo), onde o programa pode ser ainda adquirido directamente a C. Marriott. A última versão foi a 12 (demo, 10.8MB), lançada em 2016. Os utilizadores da versão 11 podem actualizar sem dificuldade os elementos orbitais
de cometas (http://astro.vanbuitenen.nl), satélites artificiais (opção Download Satellite Data, em Tools - Download Data ou importação manual de elementos) e de asteróides (utilizando este pequeno programa de 686KB disponibilizado por Tom Dickens, que converte a base de dados do Lowell Minor Planet Services para o formato interno do SkyMap.


StarCalc (Alexander E. Zavalishin). Para quem acredita que "less is more!". Interface fluente (ver captura), pequeníssimo, leve, preciso. Funciona em sistemas recentes mas pode revelar-se "instável". Permite integrar funcionalidades extra através de "plugins"; calcula efemérides, posições dos principais satélites, eclipses, etc. Tem naturalmente imensas limitações gráficas e na "densidade" da informação que devolve; Freeware, disponibilizamos ficheiro com instalador, settings e alguns "plugins" (.ZIP, 0.98MB)


Stellarium.(Fabien Chéreau, coord.). Multiplataforma, privilegia representação "fotográfica" com recurso a interface OpenGL. Magnífico programa open source com interface cómodo e inteligível, zoom poderoso, simulador visualmente deslumbrante (ver captura), com ênfase nas figuras mitológicas associadas a dezenas de culturas diferentes (o incontornável "multiculturalismo" chegou aqui em força ao software astronómico!). Excelente usabilidade! Todavia, quanto a nós não substitui um star mapper clássico, tratando-se antes de mais de uma ferramenta de simulação com potencialidades pedagógicas.

TheSky (Software Bisque). Respeitado "clássico", muito usado em ambientes profissionais, por "tradição" e pela excelente integração com software e equipamentos especializados (controlo, alinhamento, fotografia, etc). Utiliza OpenGL e propõe um interface polido, sofisticado e updated, com um compromisso entre "simulação" e "cartografia" (ver captura). Imprime com excelente qualidade. Painel de definições bem organizado. Faz gestão inteligente do zoom nas diversas layers de detalhe que vai disponibilizando. Não possui a flexibilidade de cálculo de efemérides de programas como GUIDE ou Skymap Pro, confinado às conjunções dos planetas e exportando somente alguns reports (relatórios) triviais. Mas o menu Tools (fonte: optcorp.com) disponibiliza imensas opções para observação, imaging, etc., algumas exclusivas. Interessante mas preferimos as versões mais antigas (5 e 6), mais simples e funcionais. Um título com qualidade mas somente adequado para quem depende das funcionalidades específicas do hardware (montagens, etc.) da Bisque. Doravante com um "perturbador" modelo de licenciamento e custos de suporte técnico proibitivos (particularmente na edição Professional, que utiliza subscrição anual).

Touring the Universe Through Binoculars Atlas (abrev. TUBA). Desenhado especificamente para a observação binocular (ver captura). Concebido por Phil Harrington e Dean Williams como complemento para o venerável Touring the Universe Through Binoculars de Harrington, livro editado em 1990 (John Wiley & Sons), no qual Philip S. Harrington elenca de modo cativante e completo os objectos privilegiados neste tipo de observação (também adequados para a observação com pequenos e médios telescópios). E está tudo neste pequeno atlas digital (enxames, galáxias, estrelas variáveis e duplas, etc.). Tratando-se de um atlas, a orientação está em consonância ("North up"). Desenha estrelas até à 11ª magnitude. Inclui os luminares e os planetas. A descrição dos objectos estelares/céu profundo utiliza abreviaturas, e.g., Gx, Dk, Vr, ** (i.e., galáxia, nebulosa escura, estrela variável, estrela dupla/múltipla, respectivamente). Um programa muito interessante e organizado que oferece uma selecção criteriosa e abrangente. Permite impressão de bons mapas (exemplo, .PDF, 258KB) e listagens dos objectos incluídos nesses mapas. O software é datado, não possui a sofisticação a que estamos habituados e não é muito ágil graficamente. Mas vale a pena instalar! Funciona nos sistemas actuais (em "Modo Compatibilidade" c/ Windows XP SP3). Freeware, download install + update (<6MB)

XEphem (Elwood Downey; Clear Sky Institute; disponibilizado sob MIT License). Um clássico que vale a pena continuar a utilizar, com as actualizações (gradualmente) promovidas pela comunidade. É utilizado em ambientes profissionais, i.e. observatórios. Concebido para X11 (sistemas UNIX-like), pode funcionar em macOs (mas dificilmente imaginamos o típico Macboy pedante a trabalhar neste interface exigente e austero). Gizado em Motif. Dependências: libmotif-common e libxm4. Desenvolvido desde 1990, última edição comercial é de 2016. Recorre a implementações VSOP87 (Bretagnon & Francou), algoritmos de J. Chapront (Júpiter e planetas seguintes), efemérides lunares de S. L. Moshier  e modelos do Bureau des Longitudes para os satélites planetários. Modular, possui inúmeras funcionalidades. Integra protocolo de controlo INDI, para interface com equipamentos. Apresenta detalhes rigorosos da superfície/atmosfera/órbitas dos planetas, satélites planetários, satélites artificiais, cometas, asteróides e sistemas binários. Céu profundo detalhado, galáxias com orientações adequadas (todavia as nebulosas são apenas representadas simbolicamente, v. exemplo), sobreposição de imagens FITS ou DSS, log book para registos, conversor de coordenadas, etc. Desenha Trails (percursos) de objectos dinâmicos, e.g., cometas. Bases de dados geralmente em formato .edb. Actualiza elementos orbitais e TLEs (Two-line element set) de satélites artificiais através de download directo ou convertendo com scripts específicos que podemos encontrar nos directórios do programa, e.g., astorb2edb.pl para converter elementos da base de dados publicada pelo observatório Lowell. Possibilita a utilização de alguns dos catálogos estelares mais importantes (usuais ou cometidos a qualquer categoria específica, e.g., duplas, variáveis), possibilitando conversão de virtualmente qualquer catálogo. Convém evitar os originais e utilizar catálogos recentes. Possibilita uma representação do céu profundo ao melhor nível, por exemplo recorrendo ao catálogo HYPERLEDA.

XEphem

É ambicioso: The Serious Astronomical Software Ephemeris. Afirma-se como scientific-grade e foi nomeado "Xceptional Astronomical Software" por J. Medkeff (S&T, Feb.2000). De facto, possui  imensas funcionalidades: converte coordenadas, filtra e exporta informação de modo versátil e complexo, permite agilizar funções ("Solve equation...", através de funções que utilizam as expressões aritméticas disponíveis na sintaxe da linguagem de programação C), modela órbitas binárias, importa, "regista" (alinha) e analisa ficheiros FITS (o "formato" profissional standard) ou áreas de interesse dos mesmos, agiliza "WCS solver" (implementando algoritmo de reconhecimento de padrões que procura localizar 'artefactos' semelhantes a estrelas numa imagem FITS), etc. Ou seja, inclui um conjunto de ferramentas relevantes no âmbito profissional, que justamente privilegia ambientes UNIX/Linux, como sabemos. Sendo um programa preciso, não impressiona propriamente pela utilização extensiva/completa dos algoritmos implementados e não aplica "perturbações" orbitais. Neste aspecto não pode ser comparado a programas como GUIDE ou SkyMap Pro. Demais, o tempo determinou a obsolescência e uma ou outra imprecisão (que todavia pode ser corrigida pelo utilizador), e.g., o desfasamento na longitude da GRS de Júpiter, deslocada mais de 10º (utiliza um modelo de J. Meeus, de 1982, ultrapassado devido ao comportamento errático da atmosfera do planeta gigante). Ainda há alguns bugs documentados (uma boa tradição do universo Unix-Linux; no Windows existem mas não são divulgados!). A funcionalidade do programa é garantida actualizando-o com os ficheiros .bdl  actualizados e disponibilizados no GitHub. O mapeamento é espartano e muito eficiente, revelando excelente diferenciação das magnitudes estelares (compromisso sempre difícil), facilitando a identificação de padrões e imprimindo adequadamente no mapa magnitudes de referência de algumas das estrelas de campo (v. exemplo). Estas qualidades estão ausentes na maioria dos programas que conhecemos, geralmente imprimindo as estrelas com pífia diferenciação do seu brilho real (o chamado lump magnitude system). Os objectos do céu profundo são assinalados por símbolos convencionais e não por contornos realistas. A principal "desvantagem" do XEphem é o seu interface. Exige uma utilização excessiva do apontador (rato) e por vezes uma motricidade fina invejável! O programa multiplica-se em janelas flutuantes. Os menus (e cada painel possui o seu) tornam-se demasiado detalhados, proliferando "botõezinhos", "caixinhas" e outros expedientes (ver). A pesquisa de objectos faz-se através de um "index" (Data - Index...) completo mas pouco amigável, situado no painel inicial e não na própria janela Sky view, sendo onerosa  e por vezes incoerente na grafia exigida nos nomes dos objectos. De resto, basta um sinal, um espaço ou uma maiúscula/minúscula para devolver mensagem de erro (na tradição da "crueldade" rigorosa do terminal emulator). Obriga-nos por vezes a percorrer longas listas porque a pesquisa pelo nome é implacável. A gravação das preferências é relativamente acessível mas a configuração de cores e fontes é tormentosa. A impressão (em PostScript) é limitada, escassas opções (e.g., não permite orientação da página). Adequa o quadrilátero da janela Sky View à largura da página e é tudo (cf. exemplo1 e exemplo2 (landscape), convertidos em .PDF. Mas mesmo assim exporta excelentes mapas com conteúdo configurável e legível. Resumo: trata-se de um programa rico e complexo, com amplas funcionalidades (algumas muito bem implementadas). Tem peculiaridades em termos de usabilidade, interface relativamente "diferente", oneroso (ou talvez mais ao gosto de utilizadores mais "profissionais" do universo Unix  que preferem o controlo minucioso das opções). Destinado a um utilizador proficiente em termos informáticos. Downey esclarece que procurou criar um programa "flexível, não necessariamente fácil". Endereço actual: https://github.com/XEphem. Existe um user group dedicado. Este arquivo (mantainer: Lukasz Sanocki) inclui binários para Debian e derivados (Ubuntu, Mint, etc.).

- Installer (.deb; x64) mais recente (11.6MB)


TESTE

Para aferir a precisão de alguns dos programas disponíveis, para além da utilização "convencional" (comparando resultados da simulação com indefectíveis fontes online), recorremos a um conhecido e minucioso evento: a ocultação da estrela 28 Sgr (magn. 5.4) por Titã (Saturno VI, magn. 8.5), 3 de julho de 1989 (vide excerto do Journal for Occultation Astronomy, Vol 8 - No.8, 2018-2; .PDF, 1,07MB). O fenómeno permitiu, na época, estudar indirectamente a notável atmosfera do satélite. O nosso documento referência (.JPG, 171KB) será o relatório submetido nessa data à European Asteroidal Occultation Network (EAON) por Tim Haymes, da BAA, que observou e cronometrou. Dados: ocultação das 22:39:22 às 22:44:38, com um "flash central" às 22:42:06 UTC. Local: Maidenhead, UK. (Quando o observador está próximo do centro da linha do percurso da ocultação e o objecto que oculta possui uma atmosfera, um "flash" pode ser detectado devido à focagem da luz pela atmosfera do objecto interposto, como aqui aconteceu).

Saliente-se que a precisão exigida é da ordem do arcsec (segundo de arco). Todavia, quase todos os programas em presença conseguem mapeamento aproximado. Sabendo que o raro evento é complexo e as observações visuais documentadas apresentam algumas discrepâncias na duração total e na cronometria D/R (Disappearance/Reappearance), o relatório oferece timeframe minimamente fiável (utilizamos circunstâncias específicas do observatório e hora do "flash").

Disponibilizamos exemplo do Skychart/Cartes du Ciel (bom rendering do satélite mas astrometricamente pouco "legível"), outro exemplo, exportado no SkyMap Pro (aqui com FOV abrangente), traduz muito bem o eclipse. Cf. com captura de ecrã do XEphem, pouco preciso na simulação (mas o resultado é espúrio pois não tivemos disponível o ficheiro .bdl para posições dos satélites de Saturno para a década em causa). COELIX APEX permite visualização precisa mas pouco flexível, limitada à ferramenta "Zoomed view"; Starcalc, pequeno mas eficiente, consegue admiravelmente mapear o fenómeno (captura, objectos coincidentes, todavia zoom máximo pífio), CyberSky fica a 3'' de arco da coincidência dos objectos. GUIDE muito proficiente (ver captura do início do evento e esta segunda, demonstrando a posição dos objectos no "ápice" relatado). É o único que além do mapeamento permite de facto calcular o eclipse (mapa1 e mapa2) disponibilizando informação para qualquer ponto geográfico abrangido. O programa calcula (timings) D/R: 22:39:24/ 22:44:01; 22:41:42 para momento central, i.e. "conjunção". Relativamente a dados definitivamente fiáveis de Paris-Meudon (D/R: 22:39:17.6/ 22:44:38.2 v. fonte), GUIDE determina 22:39:18/ 22:43:55; o segundo valor parece desfasado. Todavia, constatou-se que duração óptica do evento foi substancialmente superior à estimativa matemática, v. excerto (Benton, Julius L., Jr., The July 3; 1989 Occultation of 28 Sagittarii by Saturn; its Ring System, and Titan: a. L. P. Visual Observations 3, 1992). Os outros programas mencionados nesta página não foram testados ou não poderiam sê-lo por não mapearem satélites planetários.


CONCLUSÃO

Infelizmente nenhum programa é perfeito. Em causa implementações bastante complexas, matematicamente intensivas, imensas funcionalidades. Tornam-se propensos ao erro e às imperfeições (de facto cada vez menos comuns devido à maior qualidade das bases de dados). Mas há sempre uma ou outra funcionalidade ausente ou inconseguida.

Existem dezenas e dezenas de propostas à disposição do astrónomo amador. São por vezes "especializadas": observação lunar detalhada (Virtual Moon Atlas), simulação precisa das interacções gravitacionais no Sistema Solar (AstroGrav), planning (Deepsky, Deep-Sky Planner, SkyTools, este último recolhendo rasgados elogios), estrelas variáveis, ocultações (e.g., OccultWatcher e o Occult de David Herald, astrometria de cometas e/ou minor planets, imaging e stacking, a combinação de diversas imagens para conseguir um resultado com maior nitidez e profundidade (o programa RegiStax é um dos mais utilizados), etc. Quase todos os planetaria controlam telescópios GoTo. Alguns simulam realisticamente (Starry Night, Stellarium), o primeiro até disponibiliza um All-Sky CCD Mosaic, i.e., o mapeamento é totalmente "fotográfico". Outros são "frugais" (e.g., HNSky). Alguns destacam-se pelas valências pedagógicas (e.g., as diversas edições do Redshift incluem biblioteca de imagens, um dicionário de Astronomia, etc.). Nos catálogos utilizados, prevalecem: BSC, GSC, Hipparcos, Tycho, diversas versões UCACGAIA (estelares), NGC/IC, SAC, PGC, SEC (céu profundo), GCVS (estrelas variáveis), WVD (estrelas duplas), etc. Em termos algorítmicos, salvaguardando os diferentes níveis de detalhe, objectos calculados e a actualidade da implementação, todos se respaldam em algumas das óbvias referências: J. Meeus. S. Moshier, VSOP (Variations Séculaires des Orbites Planétaires), Éphéméride Lunaire Parisienne de J. Chapront, M. Chapront-Touzé et al. (Bureau des Longitudes), notas do Explanatory Supplement to the Astronomical Almanac, a teoria de Gerard Dourneau para os principais satélites de Saturno, SGP4 (satélites artificiais), diversas implementações JPL (e.g., DE406), etc.


N.B.: o sofware traduz, em rigor, modelos matemáticos que simulam o céu e a sua dinâmica, com aproximações diversas aos fenómenos observáveis. Incluem enormes catálogos de objectos, que habitualmente são disponibilizados pelas agências incumbentes. Convém compreender que estes podem ter erros. No caso dos catálogos estelares devem-se, principalmente, à digitalização automatizada das pranchas fotográficas, defeitos técnicos das mesmas, riscos ou estrelas opticamente não resolvidas. Com a evolução tecnológica estes erros tendem a tornar-se menos frequentes. Como David Ratledge observava há pouco mais de duas décadas: "Even the Hubble Guide Star Catalogue, which you might assume to be perfect, has errors. These are due, in the main, to the automatic scanning process used which was confused by such things as plate defects, asteroid trails and unresolved stars." (Software and Data for Practical Astronomers: The Best of the Internet, Springer-Verlag London, 2000 (1999), p.23).


RECOMENDAÇÕES...

Cartes du Ciel
Skychart/Cartes du Ciel: completíssimo, actualizado, multi-plataforma e em Português


Procurando um compromisso e pressupondo utilizador minimamente proficiente e prática de observação abrangente (não "especializada"), optaremos por elencar alguns programas, acautelando qualidade da codificação cartográfica, potencialidades e usabilidade. Não é preciso procurar além das propostas gratuitas em presença: Skychart/Cartes du Ciel é equilibrado, poderoso e funcional. É o que definitivamente recomendamos pela qualidade, "escalabilidade" e abrangência das funcionalidades. Para quem não resiste ao apelo visual: Stellarium. Há outros programas gratuitos, decerto com alguns méritos (e.g., HNSKY, C2A, KStars), mas não os conhecemos em detalhe ou não os consideramos suficientemente aperfeiçoados e/ou estáveis.

De resto, Cybersky é (era) muito eficiente e frugal, ECU possui funcionalidades modestas mas garante enorme qualidade e legibilidade na impressão. Enquanto muitos dos outros programas exportam cartas com qualidade e detalhe, este é o único que não 'encavalita' os labels. Para a observação do chamado "céu profundo" destacam-se MegaStar e GUIDE. Em termos de precisão e astrometria, SkyMap Pro e GUIDE (principalmente este último) constituem referência nos cálculos mais exigentes. Acrescentamos, numa categoria à parte, COELIX APEX pela versatilidade das efemérides exportadas. É extremamente útil antecipar sem esforço os fenómenos observáveis.

Em suma, as escolhas dependem do que se pretende e da experiência pretérita. No nosso caso particular são inequívocas:
GUIDE (não há e dificilmente haverá algo comparável em termos de poder e precisão; talvez não adequado para quem utiliza sistemas automatizados pois essas valências não foram actualizadas), SkyMap Pro (usabilidade e funcionalidades) e o utilíssimo COELIX APEX (efemérides e gráficos).

N.B.: Alguns dos programas menos recentes continuam "inevitáveis" pela sua qualidade, bastando, com maior ou menor facilidade, actualizar os elementos orbitais de asteróides, cometas e satélites artificiais, disponíveis em linha. Todos os programas Windows destacados conseguem funcionar em sistemas x64. Dica: caso o installer seja incompatível (e.g., funcionando a 16-bit logo não permitindo "correr" Setup), é possível extrair ficheiros do suporte para uma pasta e simplesmente "abrir executável (eventualmente em Modo Compatibilidade)

 

- Guias digitalizados, provenientes de uma época "áurea" (finais dos anos 90): Guide to the Best Astronomical Software (John E. Mosley, SkyWatch'98) e Charting the Sky with Software (Jeff Medkeff, Sky & Telescope, Junho de 1999), .PDF, 4.28MB

- 15 Best Free Planetarium Software For Windows (informação superficial e pouco informada mas inclui ligações para download de programas gratuitos, sob diversas licenças: KStars, C2A, Stellarium, Cartes du Ciel, HNSky, WinStars, etc.)

- Astroberry Server: uma imagem GNU/Linux pronta a utilizar no pequeno Raspberry Pi, repleta de programas relacionados com a prática astronómica. Funciona como um servidor de controlo de equipamentos (telescópios, focalizadores, câmaras, etc.). Para techies, envolvidos com sistemas GoTo ou com astrofotografia. Open Source.

 

- Os "nostálgicos" do MS-DOS podem revisitar os seguintes programas, utilizando um emulador (e.g., DOSBox)

EZCosmos

EZCosmos (originalmente concebido por Kerry Martin e implementado em parceria com Monty Shelton na Future Trends Software. Desenvolvido em Microsoft Basic 7.1. Inclui o Yale Bright Star Catalog e 1200 objectos NGC. Possui um interface amigável e as ferramentas essenciais, permitindo ainda visualizar animações do percurso dos planetas e da Lua (opção "Animate planets"); versão 3.000.007 de 1990; .ZIP, 1292KB)

Skyglobe (Mark A. Haney, KlassM Software Inc.; alguém disse que este programa era o "Stellarium" da sua época. Versão 3.6 deste belíssimo e ágil planetário (1993); .ZIP, 593KB)

ICE (Interactive Computer Ephemeris 0.50; gera tabelas de efemérides precisas até 2050, com a garantia do U.S. Naval Observatory; .ZIP, 1008KB)

Solar System (representação gráfica da eclíptica e efemérides básicas da Lua e dos planetas do Sistema Solar; Alan Combs, 1993; .ZIP, 64KB)

Lunar/Solar Eclipse Predictor (cálculo de eclipses; M. Whiteman; ed. L. Bianchi, 1989; .ZIP, 30KB)

Maxclock (v.3.3 deste programa, ainda actualmente desenvolvido; relógio astronómico de precisão; Udo Mark, 2014; .ZIP, 197KB)

Satellite Locator for Jupiter (GALSAT v.5.3; posições dos quatro principais satélites de Júpiter; Dan Bruton/Texas A&M University, 1994; .ZIP, 53KB)

Moon Calculator (v.6.0; informação lunar detalhada; Dr. Monzur Ahmed, 2001; .ZIP, 499KB)

The Electric Astrolabe (curiosa adaptação digital do funcionamento de um astrolábio; Janus, 2000; .ZIP, 502KB)

The_Sky (versão 3.00; planetário desenvolvido em 1987 por uma companhia do Colorado, Computer Assist Services, que mais tarde se virá a chamar Software Bisque, conhecida referência; .ZIP, 117KB;  foto do manual)

SkyPlot ("The Planetarium Simulator", versão 2.0; outro programa de antanho; Gerald M. Santoro, 1987; .ZIP, 137KB)

SkyClock (dois programas: Sky e Clock; efemérides, cronologia e equivalência de datas entre diversos calendários históricos. Autor: Pierre Brind'Amour (Univ. Ottawa), 1991; .ZIP, 100KB)

 

- ANDROID e iOS: destacamos as aplicações Daff Lua, Night Sky Guide, SkySafari e Stellarium Mobile

Encontramos habitualmente uma versão gratuita (limitada) à disposição. O fabuloso SkySafari (da Simulation Curriculum) é referência e dispensa divulgação. Nas imagens acima, outras três propostas: Daff Lua (Evgeny Fedorischenko): info detalhada Lua, Sol e planetas, esfera celeste e órbitas (excelente ferramenta de aprendizagem e astronomia esférica); Night Sky Guide (Shiny Objects, LLC), planner de sessões de observação, inclui diversos catálogos de objectos do céu profundo; Stellarium Mobile (Noctua Software Limited), um razoável planetário.

 

Mapas e Guias de Observação

Atlas e cartas
À esquerda (de cima para baixo): Peterson Field Guide to Stars and Planets, Cambridge Star Atlas (2nd ed.) e Sky & Telescope's Pocket Star Atlas; à direita, Norton's Star Atlas (20th ed.) e planisfério rotativo Philip's.


Para o astrónomo "analógico", que prefere não transportar cablagem e baterias, prescindindo da parafernália tecnológica hoje disponível, um bom mapa em papel resistente ou laminado continua a ser imprescindível, acompanhado do planning ou simples listagem do que pretende e pode observar. Há uma certa "beleza" na simplicidade desta abordagem.

Os atlas celestes têm já um longo e interessante percurso (v. página Cartografia). Gradualmente expurgados dos detalhes decorativos e descritivos da mitologia que subjaz à identificação das constelações, Alessandro Piccolomini já não utiliza os desenho das figuras mitológicas. Mas, de facto, a tradição persiste e acentua-se nos séculos XVI e XVII, chamada "época áurea" dos globos e atlas celestes (Blaeu, Cellarius, Flamsteed, Doppelmayr, etc.). A fidelidade às posiçoes estelares descritas no catálogo de Ptolomeu, utilizando a anatomia das figuras como referência, persistiu. Entretanto, adopta-se a utilização de coordenadas (Bayer) e o recurso à observação telescópica, já utilizada nos atlas de Bode ou Argelander. Com o advento da Fotografia adquire-se uma ferramenta extremamente eficiente. Consolida-se um novo paradigma de objectividade. Na primeira metade do séc. XIX, Charles Dien Jr. (1800-1870) foi o primeiro cartógrafo a utilizar traços ligando as estrelas mais brilhantes de cada constelação. Mas os atlas para o grande público continuaram, muitas vezes, a preferir uma abordagem mais tradicional e por vezes ilustrada, com objectivos pedagógicos e decorativos. As instituições científicas estarão, obviamente, na vanguarda da utilização das novas técnologias, nomeadamente fotográficas, produzindo acervos com critérios puramente utilitários.

No século XX surgiram publicações que, pela sua popularidade, longevidade e infuência, se tornaram incontornáveis. É o caso do Norton's Star Atlas (primeira edição em 1910), cuja vigésima edição foi publicada em 2004. Arthur Philip Norton (1876-1955) adoptou uma projecção com cartas amplas, dividindo a esfera celeste em "fatias" de norte a sul, com mais duas cartas circumpolares. A base de dados foi o catálogo Uranométrie Général, do belga Jean-Charles Houzeau. Em meados do século XX, destaca-se o Atlas Coeli Skalnaté Pleso 1950.0, conjunto de 16 cartas abrangendo todo o céu, desenvolvido no observatório Skalnaté Pleso (antiga Checoslováquia) por Antonín Bečvář (1901-1965). É um atlas ambicioso, moderno e extremamente funcional que influenciará as propostas daquele que se tornará o cartógrafo de referência da segunda metade do séc. XX: Wil Tirion. Um marco fundamental deste holandês é a publicação (Sky Publishing Corporation/Cambridge University Press, 1981) do Sky Atlas 2000.0, com estrelas até à magnitude 8. Entretanto publicou uma nova edição e colaborou em inúmeras publicações, bem como no célebre Uranometria 2000.0, ainda hoje uma referência, extremamente poderoso e com "insets" elucidando determinadas regiões mais complexas. Outros atlas introduziram interessantes valências: o compacto Atlas für Himmelsbeobachter (The Observer's Sky Atlas na trad. inglesa) de Erich Karkoschka (1ª edição em 1988) promove o detalhe somente nas regiões interessantes onde se localizam os objectos que elenca e descreve, o Herald-Bobroff (do apelido dos dois autores e astrónomos amadores, publicado na Austrália em 1994), adopta um desenho multi-escalar, com "sets" cada vez mais detalhados, o gigantesco Millenium Star Atlas (Sinnott & Perryman, 1997), em três volumes, foi o primeiro a incluir os catálogos Hipparcos e Tycho e o recente Interstellarum Deep Sky Atlas (Stoyan & Schurig, 2014) opta por um sistema de fontes/cores/intensidades para diferenciar a observabilidade dos alvos que imprime. Estas são as actuais competências dos atlas que, de um ou outro modo, combinam aspectos do percurso trilhado e apresentam resultados extremamente interessantes do ponto de vista cartográfico. 

Planificação cartográfica
Planificação cartográfica da Esfera Celeste. Atente-se na representação planificada da Eclíptica (Introdução à Astronomia e às Observações Astronómicas, Máximo Ferreira e Guilherme de Almeida, Plátano, Edições Técnicas, 2ª ed., 1995, p.157)


As cartas celestes têm diferentes níveis de pormenor e apenas uma escala não é suficiente para todas as observações. Uma coisa é desfrutar das constelações a olho nu, outra é localizar um dos asteróides mais brilhantes ou Neptuno utilizando binóculo, outra é observar um cometa de 9ª magnitude ou observar galáxias ténues em Coma/Virgo. A observação telescópica, mesmo com equipamentos modestos (e.g., reflectores de 5 ou 6 polegadas, abaixo dos 20cm), permite resolver miríades de estrelas, utilizadas para localizar eventuais objectos não estelares entre estas. Deste modo, um atlas pormenorizado é sempre necessário para navegar sem "faltarem estrelas". Uma opção vantajosa é a utilização de recursos informáticos, com impressão de cartas de busca customizadas e adequadas ao contexto, orientação e detalhe exigidos.

Um atlas mapeia planificando a totalidade do céu (i.e. 41253 graus quadrados). Na nossa opinião, algo da categoria do antigo "standard" SkyAtlas 2000.0 (2nd ed.) de Wil Tirion (magnitude limite 8.5; v. carta) ou do Interstellarum Deep Sky Atlas Stoyan & Schurig) é o mínimo para o utilizador de um telescópio. Possuímos diversos atlas menos "densos" (v. foto inicial desta rubrica) mas, na prática, não os utilizamos.

O célebre Norton's (quanto a nós sobrevalorizado na sua vertente cartográfica), inclui um rigoroso e extenso textbook que concitou, ao longo dos anos, contribuições (e revisões) de nomes como James Muirden, Storm Dunlop, Neil Bone, Robin Scagell, Margaret Penston, John Pilkington, Brian Jones, etc. Bem estruturado, conciso e sem se esquivar à complexidade dos aspectos técnicos envolvidos (constantes, fórmulas, notações, etc.). A exposição dos conteúdos é objectiva e sistemática, concisa e muito completa, sem "prosápia" ou adjectivação redundante, mas deveria incluir algumas referências bibliográficas complementares. Representa uma tradição de empenho e rigor na qual o astrónomo amador revela metodologia nas suas observações e registos. Não faltam pertinentes tabelas (listagem, 19ª edição). É, portanto, referência vantajosa e quanto a nós obra de consulta obrigatória! Gostamos do "flavour" um pouco anacrónico e sentimos que representa um "paradigma" que tende a desvanecer-se, mais focado na observação das estrelas duplas e variáveis e do Sistema Solar. Os tempos (e os interesses) são outros e alguns desses territórios perderam parte da relevância ou já não dependem de todo da contribuição do astrónomo amador. O texto actualiza-se, lentamente, para acompanhar (de modo ainda pouco completo) a evolução tecnológica. O atlas propriamente dito é pífio (16 cartas, magnitude 6.5, o limite a olho nu), apesar do layout agradável com os seus mapas em "fatia" ou "gomo", de norte a sul, como nos antigos globos, muito facilitando a contextualização (v. cartas 5 e 6 da 20ª edição, 2004). Todavia, labels dos objectos NGC são minúsculos (praticamente ilegíveis) e a impressão de algumas edições (e.g., 18ª, 19ª) impede a consulta da região equatorial devido à encadernação, para nem referir a deplorável qualidade do papel quase transparente, gramagem "infinitesimal". A última edição (a 20ª, chancela Pi Press) resolveu alguns desses problemas (excelente papel e encadernação) mas apresentou em muitas cópias da sua 1ª tiragem um inacreditável erro tipográfico na impressão de algumas das cartas, das quais "desapareceram" as estrelas que se deveriam sobrepor à mancha verde que representa a Via Láctea! Demais, a corrigenda é extensa, levantando suspeitas acerca da revisão final. O The Cambridge Star Atlas (de Wil Tirion) possui bom design e cuidada impressão mas também imprime somente até à magnitude do Norton's. Essa é também a magnitude limite do acessível e prático Bright Star Atlas 2000.0, enquanto o conhecido Sky & Telescope's Pocket Sky Atlas, bem concebido e desenhado, claríssimo e com objectos do céu profundo de catálogos muito diversificados, está ainda assim limitado à magnitude estelar 7.6 (que qualquer modesto binóculo ultrapassa). O Taki’s 8.5 Magnitude Star Atlas (Toshimi Taki, 2006) é gratuito e uma boa opção no segmento "intermédio" (download no final desta página). O venerável guia/atlas de Donald Menzel (1901-1976) reescrito por Jay Pasachoff (Peterson Field Guide to Stars and Planets) está repleto de conteúdos com qualidade e excelentes índices mas é, acima de tudo, um textbook de Astronomia, descritivo e profusamente ilustrado (o autor, notável académico e divulgador, Jay M. Pasachoff, do Williams College, faleceu em Novembro de 2022). O guia inclui, desde a segunda edição, um atlas completo de mapas desenhados por Wil Tirion mas a reduzida dimensão das cartas (105x125mm, s/ a legenda) é pouco compatível com o detalhe pretendido e prejudica a legibilidade (v. exemplo), aspecto todavia melhorado nas edições mais recentes. [Tirion, o mais célebre uranógrafo dos nossos dias, produz mapas belíssimos e rigorosos mas recorre por vezes a tamanhos de letra demasiado pequenos, pesadelo para quem sofre de presbiopia (condição ocular caracterizada por diminuição progressiva da capacidade de focar nitidamente a curta distância)]. Em resumo, é um volume muito interessante (destacamos os mapas sazonais, timetables, textos acerca da evolução estelar, cosmologia, eclipses e últimas novidades da exploração espacial à data da publicação), visualmente muito agradável. Todavia, não funciona definitivamente como guia de campo, não parece dirigir-se ao astrónomo prático, não é coerente na selecção dos objectos destacados ao longo do texto que acompanha as cartas do atlas nem se concentra nas condições necessárias à observação dos mesmos.


N.B.: Os atlas do céu mapeiam objectos provenientes de muitos catálogos (listagem, .PDF, 458KB), para além das prevalecentes designações Messier e NGC. Os mapas do céu estão sempre vinculados a um equinócio de referência (Epoch), acautelando assim a alteração de coordenadas provocada pelo lento mas inevitável fenómeno provocado pela oscilação do eixo do nosso planeta, como se de um pião se tratasse, ao longo de um ciclo de 25772 anos por efeito das forças diferenciais do Sol e da Lua sobre o nosso planeta: a Precessão dos Equinócios (explicação detalhada em astro.if.ufrgs.br).



Atlas e cartas de busca são fundamentais, sendo importante utilizar círculos de abertura para conseguir delimitar os campos de visão proporcionados pelas múltiplas combinações de instrumentos e oculares


Estamos convencidos da necessidade de um atlas com profundidade também no cenário da observação suburbana, com a inerente poluição luminosa. O escasso número de estrelas observáveis a olho nu (o chamado "NELM" - Naked Eye Limiting Magnitude) e a dificultosa visibilidade dos alvos determina essa necessidade. Nestas condições, objectos teoricamente acessíveis podem ser praticamente "invisíveis", mesmo com equipagem, ou somente observados com visão indirecta ou "desviada". O fundo do céu é muito luminoso e torna difícil a navegação (deixamos de ter o contexto proporcionado pelos asterismos) e precisamos começar com estrelas mais afastadas do objecto procurado. Torna-se difícil ou impossível detectar objectos com escasso contraste. São necessárias estrelas ténues para "confirmar" a localização exacta e depois tentar "pressentir" aquela "mancha difusa". Por isso, já com alguma experiência, evitamos soluções intermédias. Utilizamos uma referência abrangente (qualquer bom pequeno atlas serve) e, como suporte definitivo, um atlas detalhado ou, idealmente, a opção mais versátil e adequada ao contexto: cartas exportadas (apenas das "regiões de interesse"), utilizando um bom programa informático.


- Destaques,
c/ menor detalhe (adequados à observação desarmada, binocular ou como guias para aprendizagem ou localização ampla): Bright Star Atlas 2000.0 (Tirion & Skiff; quanto a nós o mais funcional nesta categoria: 10 cartas legíveis e abrangentes c/ 22.9 x 30.5cm, nível de detalhe adequado, elencando no verso os objectos mapeados (v. carta em formato PNG); Sky & Telescope's Pocket Sky Atlas (Roger Sinnott; v. carta, PDF).  


- Atlas pormenorizados: para suporte da observação telescópica (c/ campo de visão reduzido e detecção de estrelas mais ténues) deverá ser ponderada a utilização de um atlas "a sério", e.g., o mencionado SkyAtlas 2000.0, o Deep-Sky Hunter Atlas (M. Vlasov; magnitude estelar limite 10.2, elaborado c/ recurso ao programa informático SkyMap Pro
, gratuitamente disponibilizado em PDF para impressão A3), o enorme TriAtlas Project de José Ramón Torres (dividido em 3 conjuntos, gradualmente mais detalhados, exportados pelo programa CNebulaX, especialmente concebido por Torres), o excelente Interstellarum Deep Sky Atlas (Stoyan & Schurig, Oculum-Verlag, GmbH / Cambridge University Press, 2014; magnitude estelar limite 9.5, recorre a código de cores/tonalidades para identificar a potencial visibilidade dos objectos com diferentes aberturas: 4, 8 e 12 polegadas; v. carta) ou o "clássico" URANOMETRIA 2000.0 - Deep Sky Atlas (Tirion/Rappaport/Remaklus), 2ª edição de 2001, com magnitude-limite 9.75 (11.5 em regiões seleccionadas); publicado pela Willmann-Bell, Inc., integra doravante o catálogo da AAS Sky Publishing (vide exemplo e ulterior detalhe que pormenoriza região da carta pretérita; digitalizações em formato .PDF). O título comercial detalhado mais fácil de adquirir (Astroshop, Amazon, etc.) é o Interstellarum Deep Sky Atlas (outros, actualmente fora do mercado, são referidos na página dedicada à cartografia).

TriAtlas
O magnífico TriAtlas (SET-B, 3ª versão; magn. 9.5) de José Ramón Torres (ver carta completa, PDF, 679KB). Ao imenso detalhe das anteriores edições acrescenta-se, nesta 3ª edição, um grafismo apelativo e a hierarquização da informação que caracteriza os melhores atlas actuais (verifique-se a diferenciação promovida pelo tamanho dos labels e tonalidades utilizadas, bem como a correcta orientação dos objectos do céu profundo)

 

O SkyAtlas 2000.0, segunda edição (disponibilizando várias versões com diferentes esquemas de cor e qualidade, e.g., desk edition, field edition, deluxe...) parece-nos quase perfeito (apesar da dimensão das cartas: 500x380mm). Supomos que esteja definitivamente out of print. O actual Interstellarum Deep Sky Atlas é ainda mais detalhado, revela excelente usabilidade e, como vimos, também há boas opções gratuitas (e.g., TriAtlas, Deep-Sky Hunter Atlas). Estas edições ambiciosas apelam particularmente a quem observa com aberturas generosas sob céus favoráveis.

O The Observer's Sky Atlas (E. Karkoschka) é peculiar. Pequeno e compacto, utiliza habilmente maior detalhe somente em algumas regiões relevantes (insets que imprimem estrelas até à 9ª magnitude), Apresenta listagens que incluem o fundamental brilho superficial dos alvos (não apenas a magnitude integrada como inexplicavelmente é regra noutros guias e atlas) e sucintas descrições (v. exemplo e análise mais completa infra).


Os
Atlas Lunares são um caso particular. A escolha depende muito do nível de detalhe exigido pelo observador. Os títulos de Antonín Rukl são dos mais respeitados. Todavia, salientamos a legibilidade do The Hatfield Lunar Atlas, publicado desde 1968. Ver carta exemplo (região 13), que inclui as conhecidas crateras Theophilus, Cyrillus, Hipparchus, Ptolemaeus, Alphonsus, Arzachel, etc. (.PDF, 507KB)

 

Guias de Observação


N.B.: O Pocket Sky Atlas e o The Sky Atlas (em baixo à direita, disponível em deepskywatch.com) são apenas atlas, sem listagens ou informações complementares (caneta Sharpie permite inferir dimensões aproximadas dos volumes)

 
O guia de campo ideal, vocacionado para uma observação "especializada" do céu profundo, deve ser bem estruturado e coerente. Deve incluir uma selecção competente e realista de objectos observáveis (num determinado intervalo de aberturas), descrições com fotografias ou desenhos que se aproximem da experiência visual acessível (i.e., o que podemos ver e não o que o Hubble pode ver), esclarecendo os mais importantes aspectos, i.e. localização, implicações das variáveis atmosféricas, factores posicionais, expectativas com diferente instrumentação, relevância, etc. (acautelando, na medida do possível, a multiplicidade e enorme complexidade dos factores envolvidos na observação). Não é fácil e por isso há tantos exemplos inconseguidos.

Coerência na selecção dos objectos é fundamental mas raramente praticada: o único guia que expende listas de referência (gizadas e testadas por organizações prestigiadas) e não preferências aleatórias e subjectivas é o llustrated Guide to Astronomical Wonders de Robert e Barbara Thompson. Quanto ao que se pode observar, o atlas/guia de Erich Karkoschka é quase único ao procurar imprimir algum rigor e, de algum modo, sistematizar a visibilidade ou observabilidade dos alvos que elenca. (ver descrições infra)

Mapas de suporte legíveis, preferencialmente com regiões "seleccionadas" detalhadas em função dos "alvos", são uma mais-valia. Na realidade, os guias têm uma função pedagógica e valem pela informação e descrições dos objectos. Os mapas são, por regra, pequenos, pouco legíveis, raramente pormenorizados ou flexíveis nas dimensões/escalas utilizadas.

Exemplo de um "problema" recorrente é o da divisão cómoda mas inflexível em constelações. Muitas vezes, os alvos são mais facilmente localizáveis a partir de uma constelação adjacente. Geralmente, os mapas confinados às constelações não mapeiam objectos das constelações limítrofes, nem sequer os mais próximos dos limites. Esta lamentável opção dificulta a abordagem através de zonas ou regiões de interesse. Perde-se o contexto. Um guia plenamente conseguido (algo que não conhecemos!) funcionaria por area maps, a partir de constelações e/ou asterismos pivotais. No "terreno" não estamos obcecados com as divisões das constelações promovidas pela UAI.


Corvus: no bom exemplo de Karkoshka visualizamos imediatamente a localização de M68 (em Hydra) e M104 (em Virgo); no "mau" exemplo (Sanford/ Tirion) nem se mapeiam estes objectos adjacentes

 
Elencamos os guias que consideramos mais conseguidos. Em Português não é preciso procurar muito: o volume Observar o Céu Profundo (2ª ed.) de Guilherme de Almeida e Pedro Ré (Plátano Edições Técnicas, 2003) é completíssimo enquanto manual e denota edição muito cuidada (N.B.: o volume não se apresenta imediatamente como "guia" mas acumula essa funcionalidade). Rivaliza com os melhores, como seria expectável atendendo às reconhecidas competências dos autores. Não somente percorre de modo estruturado, preciso e completo todos os aspectos relacionados com a vertente observacional (ver índice, PDF, 93KB) como assume um formato amplo e excelente grafismo. Ao inexcedível manual segue-se um Atlas do Céu Profundo com magnitude estelar limite de 7.5 (mapas-base exportados pelo programa SkyMap Pro, posteriormente adaptados e parametrizados). O guia paralelo apresenta descrições sucintas de uma selecção competente de objectos (estelares e extensos) para aberturas modestas. Refere, entre outras características pertinentes, o brilho superficial dos últimos. Inclui boas fotografias, adequadas e criteriosas. Se o manual é perfeito, o atlas/guia não está isento de limitações e pequenos lapsos: a escala (única) dos seus mapas é inflexível, vinculada às constelações, não acompanhando a enorme amplitude das áreas, a densidade das diferentes regiões ou o nível de detalhe exigido para encontrar determinados objectos menos acessíveis (limitação talvez em parte relacionada com aspectos editoriais ou custos). Não se incluem referências gráficas de abertura (e.g., círculos), somente as coordenadas periféricas e indicador da escala. Acima de tudo, seria muito importante disponibilizar insets (cartas pormenorizadas) localizando objectos mais difíceis, mostrando a correcta dimensão/orientação dos objectos extensos ou elucidando regiões mais "povoadas" (e.g., o complexo enxame de galáxias de Coma/Virgo, insuficientemente cartografado), com incremento do detalhe e da usabilidade. Pela sua escala, alguns mapas poderão não funcionar enquanto "cartas de busca", excepto para os objectos mais óbvios. Por "lapsos" referimo-nos ao facto de não encontrarmos desenhados alguns dos objectos descritos (e.g., a magnífica Pequena Nuvem Estelar de Sagitário (M24), o enxame aberto M25, a nebulosa NGC2261); alguns objectos surgem (correctamente) mapeados nos mapas dedicados a constelações adjacentes mas não no mapa específico da constelação "hospedeira" (e.g., NGC6882 e NGC6885 em Vulpecula, NGC1807 e NGC1817 em Taurus). Esquecendo estas minudências, o livro impressiona pela qualidade, sendo notável excepção no nosso pífio panorama editorial. Muito recomendado como excelente manual e guia abrangente. Pode ser adquirido no sítio da Plátano (aced. Mar. 2023).


Páginas do guia Observar o Céu Profundo de Guilherme de Almeida e Pedro Ré (Plátano Edições Técnicas, 2ª Edição, 2003)

 

As propostas em Inglês que elencamos reflectem o âmbito das nossas leituras. Excluímos o Advanced Skywatching (The Nature Company Guides, Time Life Books), de Burnham, Dyer, Kanipe, et al. (ver), pois o capítulo dedicado à observação do céu profundo (assinado por Robert A. Garfinkle e Martin George) somente mapeia (com imensa qualidade, sublinhe-se!) algumas regiões seleccionadas. Pena não ser completo. Também não consideramos o venerável Burnham's Celestial Handbook: An Observer's Guide to the Universe Beyond the Solar System (Robert Burnham Jr., inicialmente publicado pelo autor em 1966 e pela Dover em 1978), devido à sua estrutura tripartida e por ser demasiado antigo (coordenadas 1950.0).


Bone, N., Deep Sky Observer's Guide, Firefly Books, 2005
Consolmagno, G. & Davies, D., Turn Left at Orion, A hundred night sky objects... (3rd Edition), Cambridge Univ. Press 1989, 1995, 2000
De Laet, R., The Casual Sky Observer’s Guide, Springer Science+Business Media, LLC, 2012
Dickinson, T., et al., Nightwatch: A Practical Guide to Viewing the Universe (4th Edition), Firefly Books, 2006
Eicher, David, J., The Universe from Your Backyard (A Guide to Deep-Sky Objects from ASTRONOMY Magazine), Kalmbach Publishing Co. and Cambridge Univ. Press, 1989 (1988)
Grego, P., Skywatching, HarperCollins Publishers, 2005
Harrington, P., Star Watch: the amateur astronomer's guide to finding, observing, and learning..., John Wiley & Sons, Inc, 2003
Howard, N., The Telescope Handbook and Star Atlas (2nd Updated Edition), Thomas Y. Crowell, 1975 (1967)
Kambic, B., Viewing the Constellations With Binoculars – 250+ Wonderful Sky Objects..., Springer Science+Business Media, 2010
Karkoschka, E., The Observer’s Sky Atlas With 50 Star Charts Covering the Entire Sky (3rd Edition), Springer Science+Business Media, LLC, 1990, 1999, 2007
Pasachoff, Jay M., Stars and Planets (Peterson Field Guides), 4th Edition, Houghton Mifflin Company, 2000
Scagell, R., Philip's Night Sky Atlas, Philip's - Octopus Publishing Group Limited, 2004
Scagell, R., e Frydman, D., Stargazing with Binoculars, Firefly Books, 2008
Sanford, J., Observing the Constellations, Mitchell Beazley Publishers, 1989
Thompson, Robert B. & Barbara F., Illustrated Guide to Astronomical Wonders, O’Reilly, 2007
Tonkin, S., Binocular Astronomy (2nd Edition), Springer Science+Business Media, New York, 2007


Estes títulos são úteis pois elencam objectos, elucidam condições e equipamentos adequados, oferecem descrições e explicações astrofísicas acerca do que estamos a observar. Existem imensos, para vários niveis de proficiência. Numa perspectiva pedagógica, aconselhamos o magnífico "Turn Left at Orion" de Consolmagno e Davies e o
Philip's Night Sky Atlas, de Robin Scagell. Quase todos os guias incluem valiosa introdução teórica (destacam-se os títulos assinados por Terence Dickinson, Neil Bone, Peter Grego, Robin Scagell, etc.). Alguns listam poucos objectos mas apresentam excelentes desenhos (esboços de ocular) que antecipam a experiência observacional (e.g., The Casual Sky Observer’s Guide, de Rony De Laet). Os títulos assinados por R. Scagell e P. Harrington são uma óptima escolha, bem escritos, com excelentes descrições.

Descrevemos os seguintes:

- Philip's Night Sky Atlas, de Robin Scagell. Título de iniciação, formato amplo, muito completo (manual, equipamento, atlas e guia), autor explica complexidades, detalhes e limitações. O texto e as descrições são informadas e realistas, o guia (chapter 8) também inclui esboços de ocular e descreve a realidade observável especificando as aberturas utilizadas. Acima de tudo, não ludibria o leitor fazendo-o acreditar que vai conseguir ver os objectos como surgem nas mediáticas fotografias de longa exposição. O livro explica os princípios, descreve equipamentos e procedimentos, possui um atlas simples, mapas lunares detalhados e o referido guia das constelações, com descrições precisas, esboços, fotografias e mapas (demasiado pequenos e com labels diminutos). Recomendado pela abordagem pedagógica e esclarecida que este autor sempre imprime.

- Observing the Constellations, de John Sanford. Inclui muitos "alvos". Sequenciado alfabeticamente por constelação. Fotografias de campo amplo para cada constelação (por regra pouco "legíveis" e redundantes), algumas dicas e bons textos descritivos dos muitos "alvos" elencados. Muitos destes referem-se, todavia, a aberturas demasiado generosas. Disponibiliza uma tabela para cada constelação, incluíndo duplas, variáveis e os objectos do céu profundo. Os mapas de Wil Tirion têm óbvia qualidade mas são muito pequenos, dificultando a interpretação e a leitura dos labels diminutos). É, apesar dos aspectos menos conseguidos, título razoável.

- The Universe from Your Backyard: A Guide to Deep-Sky Objects..., de David J. Eicher. Listagens, descrições e muitos e interessantes esboços de ocular. Orientado visualmente (págs. exemplo, PDF, 443KB). Todavia, os mapas são pouco detalhados e descrições recorrem amiudadamente a exemplos de observação com grandes aberturas. A selecção dos objectos observados é subjectiva e algo "assimétrica".

- Illustrated Guide to Astronomical Wonders de Robert e Barbara Thompson: bem estruturado, utiliza listagens de programas de observação "consagrados" (i.e. programas standard, "testados", de organizações de referência, e.g., The Astronomical League, Royal Astronomical Society of Canada) e não preferências subjectivas e incoerentes (segundo aquela "receita": um pouco disto, depois daquilo, ora fácil, ora difícil, talvez peculiar, conhecem este objecto?). Este acervo é coerente e reúne as mais conhecidas listas "oficiais" (Messier Club, Binocular Messier Club, Urban Observing Club, Deep Sky Binocular Club, Double Star Club e RASC Finest NGC List) de um modo sistemático, completo, consolidado. O guia destina-se a observadores no Hemisfério Norte. Inclui cartas de busca exportadas pelo programa MegaStar (um antigo favorito dos observadores dedicados ao céu profundo), c/ círculos de abertura que nos permitem imediatamente perceber a escala e o campo. (Todavia, parece-nos que o MegaStar não imprime suficiente diferenciação das magnitudes estelares nas cartas que exporta, como se verifica nos mapas deste volume, onde as estrelas parecem todas iguais.) Seguindo a ordem alfabética das constelações, inclui tabelas (uma com estrelas múltiplas, outra com os enxames, nebulosas e galáxias), para cada uma destas (ver páginas, .PDF, 1.32MB). Não apresenta esboços de ocular e as fotografias do acervo Digitized Sky Survey podem parecer demasiado "optimistas" enquanto previsão da abordagem visual acessível aos equipamentos amadores mais comuns, sendo no entanto caracterizadas pela uniformidade de escala e profundidade de magnitude. Trata-se do melhor guia que conhecemos, i.e. o mais compreensivo: listagens de referência, excelente organização, descrições úteis e cartas de busca adequadas em termos de escala (diversos níveis de detalhe e círculos de abertura de referência). Tudo num volume único (há outras obras de referência exaustivas mas repartem-se por espessos tomos).  Mas também aqui se trata de um livro grande, para cima de 500 págs. As pertinentes descrições fornecidas baseiam-se na experiência dos autores recorrendo a binóculo 10x50, refractor de 90mm, rich-field de 4.5" (~11,5cm) ou, prioritariamente, um newtoniano de 10" (~25cm). São ponderadas e realistas, resultando extremamente úteis e precisas. Título absolutamente "obrigatório", impressão graficamente cuidada, paperback com escassa gramagem (não muito resistente nos ambientes exteriores). Uma excelente referência.

- The Observer's Sky Atlas, de Erich Karkoschka: conceito extremamente inteligente, quase genial na sua simplicidade, recorrendo a cartas gerais que imprimem estrelas até à 6ª magnitude e insets detalhados até à 9ª (v. fig. seguinte), apenas das regiões de interesse onde se situam os objectos elencados. Afirma-se como um óptimo guia (mapeia e descreve sucintamente ~250 objectos do céu profundo, estrelas, nomeadamente duplas e variáveis, etc.). Enorme densidade de informação bem legível (designações nos mapas têm tamanho adequado e não minúsculo, como amiúde noutros mapas), formato muito prático e funcional, leve, menos de 200 páginas, com tabelas em parelha com os respectivos mapas (divididos pelas regiões Norte, Equatorial-Eclíptica e Sul), fotografias (numa secção final), índices, calendário, efemérides de estrelas duplas para determinado período, eficientes notas explicativas, etc. Tabelas grafam imensa informação importante, por exemplo a magnitude, o essencial brilho superficial, dimensão e visibilidade (através de um código que emula as seis faces de um dado para elucidar essa variável), etc. Em contrapartida, há, de facto, bastantes símbolos e abreviaturas; as cartas de pormenor são, por vezes, demasiado circunscritas e o excessivo confinamento na região do objecto-alvo limita a adequada visão de conjunto (contexto, i.e. estrelas, padrões para navegar). É, pois, inadequado para o observador casual ou inexperiente mas bem menos problemático para quem já conhece minimamente os "desenhos" das constelações. Contudo, alguns "alvos" exigiriam, de facto, uma melhor "contextualização" (de memória podemos referir alguns objectos em Monoceros e Puppis, dificilmente localizáveis apenas com os mapas disponibilizados, bem como outras situações pontuais onde "faltam estrelas"). O compromisso adoptado, pormenorizando somente cerca de 10% do céu, impede a pesquisa de objectos alternativos não contemplados nas tabelas (i.e. não é, deliberadamente, um atlas "clássico" que possa ser consultado e "expandido" na sua utilização). Os mapas não grafam coordenadas nem escala (ou melhor, escalas: uma para os mapas abrangentes e outra para os detalhados; estas surgem todavia no início do atlas, pág. 23 na 3ª edição, devendo ser de algum modo copiadas para utilização onde fazem falta). A impressão (referimo-nos novamente à 3ª edição, Springer) não é particularmente nítida e a encadernação deveria ser espiralada para permitir manter o livro aberto numa superfície. A nova edição da Firefly Books (2023), a cores, introduz coordenadas nos mapas, aumenta o número de alvos e melhora a contextualização dos objectos mas não sabemos se será mais bem conseguida em termos de usabilidade (melhorou a qualidade de impressão mas cedeu à cor e às fotografias, a "praga" de falsa cor das emulsões e das imagens digitais, todavia sob o pretexto de introduzir escalas úteis para os astrofotógrafos, v. páginas exemplo). É agora um pouco maior no formato e perdeu parte da admirável frugalidade das edições pretéritas (fotografias surgem doravante junto da restante informação e mapas, nas respectivas páginas, não num "caderno" à parte). Mas inclui obviamente informação actualizada (especialmente importante para quem observa estrelas binárias). Em resumo, muito recomendado pela usabilidade e densidade de informação que consegue oferecer com admirável economia de meios.

Carta exemplo - Observer's Sky Atlas
Detalhe de uma das cartas do The Observer’s Sky Atlas
de E. Karkoschka (Springer, 3rd ed,), editada. Em baixo, fundo branco, região abrangente seleccionada em HYA e SEX; acima, seguindo as setas vermelhas (por nós acrecentadas) chegamos às zonas detalhadas com estrelas até à 9ª magnitude para localização dos objectos seleccionados, e.g., M48. As regiões adjacentes, no "backgroung" cinza, identificam nº das cartas a consultar, e.g., E 8, E 11 (letra "E" traduz o facto de estarmos na região intermédia, equatorial).


- Viewing the Constellations With Binoculars – 250+ Wonderful Sky Objects... de Bojan Kambic.
Vocacionado para a observação binocular, é um manual introdutório muito interessante e abrangente, cartas de busca a acompanhar a descrição dos objectos no guia incluído (págs. exemplo). Recomendado.


Referências complementares:

O clássico Stars and Planets (Peterson Field Guides) é bastante abrangente, autêntica "mina" de informação. Todavia, como já referimos, é mais um manual do que um guia de campo, não prevalecendo o enfoque na observação concreta. Formato pequeno mas muito espesso (cerca de 600 págs.), não apresenta tabelas de suporte junto dos mapas, encadernação dificulta mantê-lo aberto sem o segurar com ambas as mãos e mapas são muito pequenos. Outro título eloquente, já referido, é o veterano Norton's Star Atlas, com mapas muito limitados mas listagens razoáveis (com enfoque nas duplas e variáveis, reflectindo o espírito da época em que iniciou o seu percurso editorial). Listagens interessantes, bem organizadas, podem encontrar-se no 2º apêndice do Stargazing with a Telescope (3rd Edition), de Robin Scagell (Firefly Books, 2009).

Porque a astrofotografia "obnubilou" muitos espíritos e influenciou muitas "descrições", é bom recorrer a abordagens objectivas e rigorosas. Uma base de dados com imenso interesse é o catálogo anotado de Ted Aranda (3,000 Deep-Sky Objects, An Annotated Catalogue, Springer Science+Business Media, LLC 2012, v. Springer link), disponibilizando descrições pertinentes e realistas dos objectos observados com diferentes aberturas e amplificações (v. página, .PDF, 76KB). Ver ainda Observing the Messier Objects with a Small Telescope: In the Footsteps of a Great Observer de Philip Pugh (Springer-Verlag, 2012) para descrições realistas dos objectos do catálogo Messier quando observados com aberturas modestas e o Seeing Stars: The Night Sky Through Small Telescopes de Chris Kitchin & Robert W. Forrest (Springer-Verlag, London, 1998). Mais listagens interessantes podem consultar-se no guia A Field Guide to Deep-Sky Objects (2nd Edition) de Michael D. Inglis, Springer Science+Business Media, LLC 2012.

Por fim, alguns tremendos clássicos que vale sempre a pena consultar:

- Clark, Roger N., Visual Astronomy of the Deep Sky, Cambridge University Press; Sky Publ. Corp., 1990 (erudito, contempla aspectos técnicos muito complexos, como guia é pouco compreensivo)
- Luginbuhl, C., & Skiff, B., Observing Handbook and Catalogue of Deep-Sky Objects, Cambridge University Press, 1998  (referência completíssima. "alvos" testados c/ aberturas diversas, descrições rigorosas), ver págs, .PDF)
- Sanner, G. &
Kepple, G., The Night Sky Observer’s Guide, vols. I, II, Willman-Bell Inc., 1998 (mais de 3000 objectos descritos, mapas, desenhos; para observadores avançados com acesso a céus límpidos e aberturas generosas; descrições quase não contemplam aberturas pequenas e medianas)

Acrescentaríamos os títulos da prestigiada Webb Society, editados por  Kenneth Glyn Jones (trabalho colaborativo rigoroso e ilustrado com esboços/impressões de ocular elucidativos)

Guias favoritos
Guias: as nossas recomendações para o trabalho de campo. Ambos plastificados por nós, várias camadas, para protecção.


Para aproximada noção da escala, layout e detalhe dos mapas em alguns guias (e atlas), disponibilizamos os seguintes registos fotográficos:

Guide to the Night Sky (P. Henarejos), Stars and Planets (J. Pasachoff), The Sky Observer's Guide (Mayall/Wyckoff, Golden Guides, 1985), Observing the Constellations (John Sanford), The Telescope Handbook and Star Atlas (Neale Howard), The Observer's Sky Atlas (E. Karkoschka), o elementar Pequeno Guia do Céu (B. Pallequer), Philip's Night Sky Atlas (R. Scagell), Stars (Collins Gem) (I. Ridpath), Norton's 2000.0 (editado por I. Ridpath), Sky & Telescope's Pocket Sky Atlas (R. Sinnott), não inclui info tabulada, The Cambridge Star Atlas (aqui a 2ª ed., entretanto reeditado mais do que uma vez; W. Tirion) e o Illustrated Guide to Astronomical Wonders (Robert & Barbara Thompson).


Resumo -
Os guias ensinam imenso mas tornam-se naturalmente "obsoletos" com o incremento da nossa experiência observacional (tal como acontece com o planisfério rotativo que deixa de ser necessário quando já conhecemos as principais constelações). Permanecem como referência. As cartas de busca (quando as incluem) são, por regra, pouco pormenorizadas. O observador mais avançado estará mais bem servido consultando bons catálogos, criando as suas próprias listagens de objectos (organizadas por tipologia, coordenadas, constelação, etc.), um bom atlas e/ou um programa informático que imprima mapas customizados para cada sessão de observação, com círculos de abertura correspondendo às oculares utilizadas e o nível de detalhe ajustado aos "alvos".



Cartas Celestes para Download

- SFA Sky Charts Pro muito elementares, podem ser úteis como ferramenta pedagógica, v. detalhe na imagem supra; Dan Bruton, SFA Observatory (.PDF, 1.37MB)

- Mag 7 Star Atlas Project adequado para observação desarmada ou binocular; Copyright 2005,2007 Andrew L. Johnson; Creative Commons License (.PDF, 16.9MB) [SFASky Charts, formato PDF]

- Taki’s 8.5 Magnitude Star Atlas Toshimi Taki; atlas "intermédio", austero mas eficiente, estrelas até à magnitude 8.5, sem desenho das linhas das constelações; objectos do céu profundo até magnitude 12 (.PDF, 15.6MB)

- TriAtlas Project José Ramón Torres; gigantesco atlas para imprimir em A4, dividido em três conjuntos (A, B e C). O primeiro (A-SET) com 25 cartas, imprime estrelas até à magnitude 9 (download ~17MB; index 1.3MB); o B-SET (última versão completa, a cores, ~18MB) é mais detalhado e por si só um atlas tremendo, com 107 cartas; o C-SET é colossal, com 571 cartas. Pode tornar-se pouco legível pela quantidade de objectos e labels mas é opção praticamente definitiva para o observador mais avançado.

- Deep-Sky Hunter Star Atlas Michael Vlasov; versões normal e field edition, bem como extras (catálogos). Concebido para impressão A3. Poderoso, magnitude limite de 10.2 (ascendendo a 14 no respeitante aos objectos do céu profundo), criado a partir do programa SkyMap Pro. Todavia, preferimos a compacta edição anterior (criada a partir da versão 5 do programa TheSky; magn. estelar limite 9.5), PDF para impressão A4 com algumas correcções por nós promovidas (nos labels, etc.; ZIP, 22MB)

- Finalmente, as nossas Cartas de Busca (propósito: suporte da prática observacional dos objectos mais conspícuos c/ pequenas e médias aberturas; ficheiros PDF exportados pelo programa GUIDE); como alternativa, este pequeno "atlas", .PDF, 7.8MB, paginado e indexado, exportado com recurso ao proficiente SkyMap Pro)

 

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