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o binóculo | o telescópio | características dos sistemas ópticos | star hopping | tipos de telescópio | montagens e alinhamento | limpeza componentes ópticos | observação: expectativas | brilho superficial | observação: dicas | dicas por categoria de objecto | astrofotografia | disfunções ópticas | magnitudes (referência) | tabelas úteis | a astronomia amadora (nota final)
Rares sont les belles nuits calmes et l’Astronomie est une école de patience.
- Lista de Observação: a nossa lista, organizada alfabeticamente segundo a abreviatura das constelações, inclui comentários (.PDF, ~270KB). Procura elencar objectos diversificados e interessantes, observáveis por binóculos ou telescópios modestos, com um ou outro "desafio" mais difícil. Utilizar c/ um atlas de suporte ou com as nossas Cartas de busca, exportadas pelo programa GUIDE). Esta página inclui outras listagens, informações adicionais, breve apresentação dos catálogos mais comuns e bibliografia. Há todo um Universo à nossa disposição, da vizinhança no Sistema Solar à observação do chamado céu profundo (enxames, nebulosas, galáxias) que nos permite o acesso a maravilhas
longínquas. Até ao limiar do século XX, o enfoque na observação dos
planetas era evidente. Entretanto, a exploração dos mundos mais
próximos e a dilatação "cosmológica" do Universo conhecido alargará gradualmente os horizontes, que doravante assumem escalas antes "inimagináveis". O básico...
A Cor do Céu Diurno O ar é transparente. Devido ao menor comprimento de onda, a luz azul (tal como a púrpura) é mais facilmente espalhada, em todas as direcções, pelas moléculas que constituem a nossa atmosfera (especialmente as de Nitrogénio, N2, formadas por 2 átomos). Estas moléculas quase não têm efeito na luz vermelha, que praticamente as atravessa. Por isso, em quase todas as áreas do céu somente podemos ver a luz azul assim disseminada. Na composição atmosférica (por volume, ar seco), os principais componente são: 78,08% Nitrogénio (N2), 20,95% Oxigénio (O2). Durante o dia o céu é azul devido à chamada dispersão de Rayleigh: como a partícula onde a luz "embate" tem uma dimensão compatível com o seu comprimento de onda, parte da energia da luz é absorvida, fazendo as suas cargas vibrar e emitir de novo a radiação. Ora a componente azul da luz solar tem menores comprimentos de onda e, portanto, estes são os únicos compatíveis que absorvem essa luz e a rebatem, espalhando o azul na atmosfera. Já ao entardecer, como o Sol passa a iluminar a Terra com um ângulo mais oblíquo, a luz tem de atravessar a atmosfera por uma distância maior. Isso faz com que a fração de azul seja diluída de tal modo que já não conseguimos vê-la, abrindo espaço para vermos apenas os tons mais vermelhos que, por terem um comprimento de onda maior, se dispersam menos. A dispersão de Mie (ou de Lorenz-Mie-Debye) é independente do comprimento de onda, e é por isso que o céu claro aparece azul pálido ou branco em áreas urbanas muito poluídas. Durante a noite o fenómeno é ao contrário, mas equivalente, agora provocado pela luz artificial de baixo para cima e o resultado é o esplendor luminoso que será tanto maior quanto mais poluída for a cidade ou quanto mais nevoeiro ou humidade tiver o local iluminado.
Dennis Rawlins (American Journal of Physics, Feb. 1979) referiu, como curiosidade, que é possível observar o pôr-do-sol mais do que uma vez no mesmo final de tarde. O "truque" é ficar deitado observando um horizonte desimpedido (e.g., na direcção do mar) e, quando o último ponto de luz do astro desaparece, elevarmo-nos e (preferencialmente) escalar uma pequena duna ou estrutura e observar novamente o ocaso. Uma altura de dois metros já permite observar o "segundo" ocaso mais de 10 segundos após o anterior.
OBSERVAÇÃO DO CÉU NOCTURNO A
observação nocturna está condicionada pelas variáveis atmosféricas. O
astrónomo amador é sempre um "aprendiz de meteorologista", informado,
atento às condições, antecipando-as na medida do possível.
- "Seeing" - estabilidade vs. turbulência. As diferenças na temperatura e na pressão geram movimentos verticais ou horizontais na atmosfera. A turbulência afecta a nitidez e definição da imagem, tendo menor influência no brilho e no contraste. Uma escala simples mas bastante subjectiva foi introduzida por E. M. Antoniadi (1870-1944). O "seeing" está relacionado com a rapidez das alterações de pressão. A atmosfera estável, menos turbulenta, com alterações vagarosas, proporciona melhor "seeing". Em más circunstâncias, a luz de uma estrela é "espalhada" (o chamado "disco de confusão" aumenta na proporção da turbulência). Esta é a causa da célebre "cintilação". Somente em situações extremas assistimos à cintilação dos planetas (pois os diâmetros angulares são maiores). Por seu lado, a transparência é ameaçada pelos agentes que, ao nível molecular ou das partículas, "espalham" a luz: gases, poeiras, fumos, humidade, etc. Tudo o que reduza o contraste, obrigando um objecto a ser mais brilhante para poder ser detectado é, no fundo, ruído. - Transparência - qualidade óbvia, a quantidade de estrelas que podemos observar. No zénite (ZLM - zenital limiting magnitude) é maior do que nas regiões com pouca elevação, próximas do horizonte. É, em qualquer circunstância, importante estimar o limite de magnitude visível a olho nu (a estrela mais ténue: fts, "faintest star", em Inglês). O ideal é fazer uma estimativa para a região nas imediações do objecto a observar, permitindo previamente a nossa adaptação ocular à obscuridade (a utilização da visão indirecta ou desviada aceita-se desde que as estrelas em causa permaneçam visíveis continuamente, não intermitentemente, utilizando esse expediente). Outro método é o da contagem de estrelas numa área delimitada. Em termos gerais, estas condições são mutuamente exclusivas: as noites transparentes e cintilantes, com brilho, são geralmente acompanhadas de mau "seeing"; as noites estáveis, nas quais a observação planetária é propícia, são habitualmente acompanhadas de alguma névoa (pois esse mesmo ar tranquilo, que proporciona o bom "seeing", também encoraja a formação de névoa a partir do calor que o solo irradia na atmosfera e a condensação do vapor de água, formando orvalho quando em contacto com superfícies frias).
-
Observar mais tarde, permitindo a dissipação do calor absorvido durante
o dia. A transparência melhora com o arrefecimento da noite pois o ar
frio não acumula tanta humidade.
O mais importante para o astrónomo amador é conhecer bem o céu à vista desarmada, utilizando o nosso magnífico campo de visão (cerca de 100 graus). Os olhos são o "instrumento" mais importante. Assim, conheceremos o "desenho" das constelações e asterismos observados em diferentes quadrantes ao longo dos meses, interiorizado através de assíduas observações num processo gradual de padronização. A memorização dá-se através do reconhecimento geométrico de triângulos, trapézios, paralelogramos e outras relações entre as estrelas mais conspícuas. E assim nos relacionamos com um céu reconfortante, repleto de "percursos" familiares.
Dia Sideral e Dia Solar Um Dia Sideral (i.e. "estelar": intervalo entre duas culminações sucessivas de uma estrela no mesmo meridiano ou o tempo que determinada estrela demora a voltar ao meridiano do lugar) perfaz 23h 56m 04s.Traduz, rigorosamente, a rotação do nosso planeta sobre o seu próprio eixo. É menor do que o Dia Solar dos relógios comuns, que também tem em conta o percurso do planeta em torno do Sol e não somente a sua rotação axial (o Sol parece demorar mais 4 minutos do que as estrelas "fixas" para completar uma revolução). Ver o seguinte esquema, com as direcções paralelas para determinada estrela e os 4 minutos adicionais necessários para "calibrar" a posição relativamente ao Sol (Muirden, J., The Amateur's Astronomer Handbook, Harper & Row, Publishers, 1983). A reter: os objectos distantes como as estrelas ou os planetas não voltam à mesma posição no céu após um dia solar mas sim após um dia sideral. -
Um relógio sideral "ganha" cerca de 10 segundo por hora (3 minutos e 56
segundos por dia) em relação a um relógio comum. Em 6 meses 12 horas. O
Dia Sideral é mais "importante" para o observador astronómico. Assim, as montagens
astronómicas motorizadas (que suportam a utilização de muitos
telescópios) estão preparadas para que o seu eixo polar (o que aponta
para o pólo celeste) faça uma rotação em 23 horas e 56 minutos, período
que demora uma rotação (aparente) da Esfera Celeste (Dia Sideral). Os 4 minutos de diferença para o Dia Solar Aparente (de 24 horas) respondem à translação do nosso planeta e determinam o
gradual movimento cíclico através do qual as estrelas parecem chegar ao
Meridiano 4 minutos mais cedo todos os dias. Por isso vamos observando
diferentes estrelas à mesma hora, ao longo do ano.
Equipamento A utilização de um binóculo ou de um telescópio magnifica obviamente a nossa capacidade de observação em muitas circunstâncias. Trata-se de instrumentos que produzem a imagem de um objecto distante graças às propriedade físicas dos raios luminosos ( luz que chega até nós pode ser refractada por um vidro ou reflectida pela superfície polida de um espelho). É o fenómeno de difração da luz que, "dobrando-a" ou "desviando-a" ligeiramente quando encontra uma obstáculo (como um equipamento óptico), nos permite utilizar estas tecnologias. A observação equipada começa somente no séc. XVII, com as primeiras observações de Galileu e alguns contemporâneos.
- Alvos Binoculares "Obrigatórios" (a nossa lista, versão abreviada da lista "geral" acima disponibilizada; .PDF, 878KB) - The Astronomical League Binocular Deep Sky List (DSBC) (uma lista muito bem estruturada, algumas dezenas de alvos; .PDF, 43KB) - The Chatfield Binocular Challenge List (pertinente e adequada selecção para começar a observar, .PDF, 160KB) - Binocular Stargazing Catalog (objectos para observação binocular, catálogo compilado por Tom Price-Nicholson, S&T; .PDF, 480KB)
Testagem (rápida) da qualidade de um binóculo -
Antes de mais, verificar a nitidez da imagem e o paralelismo: qualquer
evidência de visão duplicada determina a inutilidade do equipamento.
N.B.: a pátina anti-reflectora é absolutamente fundamental devido à existência de tantas superfícies no complicado percurso interno da luz.
No que diz respeito à luz captada não se pode, de modo simplista, comparar binóculos com telescópios. O total da luz captada é proporcional à(s) área(s) da(s) objectiva(s). Por um lado, os binóculos não encaminham a luz de ambos os "tubos" para o mesmo olho (não se pode somar). por outro lado um telescópio nunca é (ou não é somente) utilizado com amplificações 'fixas' de 7x, 10x ou 15x. A amplificação do telescópio permite ver outras coisas. Numa comparação simples, um telescópio de 100mm de abertura capta o quádruplo da luz do que um binóculo 10x50 (ou o dobro de ambas as objectivas binoculares combinadas), v. infra a explicação das qualidades ópticas dos equipamentos. Em todo o caso, numa estimativa das magnitudes alcançáveis em céus com um limite de magnitude de 5.5 (olho nu), com boa visão, podemos considerar os seguintes valores binoculares aproximados (magnitudes limite para objectos estelares, os objectos do céu profundo envolvem variáveis mais complexas): 7x50 - 9.6
A utilização exige uma adaptação. Na vida quotidiana, o olho humano é acima de tudo utilizado como instrumento de "varredura". Possui um campo amplo e consegue captar imensa informação a cada momento, que a nossa percepção interpreta. Todavia, não é originalmente vocacionado para se concentrar totalmente num pequeno disco planetário ou numa mancha nebulosa durante um intervalo extenso. A observação astronómica exige, por isso, o treino do sistema olho-cérebro nestas tarefas "incomuns". O telescópio, na sua forma mais simples, consiste em duas lentes convexas, uma de grande e outra de pequena distância focal. A primeira gera, no chamado plano focal, uma imagem do objecto que estiver à sua frente. A segunda (a ocular) amplia a imagem formada pela primeira. Os tipos básicos de telescópio são o refractor, cuja objectiva é uma lente ou sistema de lentes e o reflector, baseado num espelho primário. N.B.:
Algumas curiosas gravuras medievais mostram astrónomos ou astrólogos a
observar o céu através de tubos. O próprio Aristóteles se terá
referido às vantagens desse método, aumentando o contraste evitando a
luz envolvente. Os tubos em questão obviamente não possuiam lentes. O
século XVI dará ênfase à teoria da perspectiva,observação per perspicilla,
a ciência da observação directa, a reflexão e a refracção. E os vidros
de perspectiva serão utilizados por astrónomos, artistas, militares,
etc.
O espectro visível é a "estreita janela", a porção do espectro eletromagnético que é visível para o olho humano.
A Luz e a formação da Imagem A Luz viaja de modo ondulatório e não linear. Por isso, num sistema óptico, a luz emanada de uma estrela nunca pode ser focada como um ponto, antes sendo espalhada por difracção (i.e., desviada) e gerando um pequeno disco artificial, brilhante e difuso, rodeado por ténues anéis de difracção (i.e., uma luminosidade máxima central, rodeada por esses anéis concêntricos), Numa estrela brilhante observada com elevada amplificação, esse efeito central torna-se evidente. Chama-se disco espúrio ou Disco de Airy (em honra de Sir George Airy, 1801-1892). Em causa está à natureza ondulatória da luz quando esta atravessa uma abertura circular e difracta, produzindo um padrão de interferência aternando regiões escuras e iluminadas. As ondas interferem mutuamente, cancelando-se ou reforçando-se em pontos definidos, formando assim intervalos escuros e anéis brilhantes concêntricos (que justamente descrevem as interferências verificadas): o chamado "padrão de difração". O diâmetro deste padrão está relacionado com o comprimento de onda da fonte luminosa (λ) e com a dimensão da abertura do equipamento. O disco é, por definição, o menor no qual a focagem é possível. Num telescópio refractor, perto de 84% da luz recebida concentra-se no disco, a restante formando os ténues anéis circundantes. Em telescópios com obstrução central (e.g., suporte da diagonal ou espelho plano dos reflectores) verifica-se que há mais luz desviada para os anéis periféricos (vide Ridpath, I., (Ed.), Norton's 2000: Star Atlas and Reference Handbook, Longman Scientific & Technical, 1989, p-167).
Um telescópio possui três características fundamentais: a luz que consegue captar, a capacidade separadora e a magnificação (i.e,,
ampliação angular). O primeira é de longe a mais importante. A
magnificação é a menos importante. A turbulência atmosférica (que
determina o chamado "seeing")
limita, habitualmente, a utilização da magnificação para algo entre
1/10 e 1/2 do máximo teórico (2x por milímetro de abertura). A Abertura
determina a quantidade de luz que o equipamente recebe, o detalhe que
consegue resolver e as ampliações mínima e máxima que suporta. A
resolução depende em exclusivo da abertura. A luz recebida é propocional ao quadrado da área da Abertura. Explicitemos a sua importância: se for utilizada a mesma ampliação, um objecto terá o mesmo tamanho se observado em dois telescópios (e.g., um de 50mm e outro de 100mm). A diferença está na capacidade de recolha de luz. O instrumento de 100mm recolhe quatro vezes mais luz (ver parágrafo seguinte). Por isso, o objecto surgirá outras tantas vezes mais luminoso, e isso faz toda a diferença quando falamos dos objectos do céu profundo relativamente ténues. As imagens devem ser brilhantes antes de submetidas à magnificação da ocular. Como excepções, somente os luminares e alguns planetas intrinsecamente brilhantes. Nesses casos a abertura ainda é importante mas é menos decisiva.
- A ABERTURA (D)
determina a quantidade de luz que o telescópio recebe, geralmente
traduzida em milímetros. É o tamanho efectivo do espelho ou da lente, a
porção que transmite luz para a ocular. Quanto maior a área, maior a
quantidade de luz captada e maior o poder separador (capacidade de
isolar e tornar visíveis detalhes no olho humano 'ideal' é de 1 minuto
de arco). É a qualidade mais importante. A capacidade de captação de
luz é directamente proporcional à área da abertura (diâmetro da
objectiva nos refractores, do espelho nos reflectores). Para comparar o
potencial com o do olho humano (adaptado à obscuridade), divide-se o
diâmetro do tubo por 7mm (convencionalmente considerado o máximo
diâmetro pupilar) e eleva-se ao quadrado. Como exemplo, uma abertura de
100mm incrementa 204x a captação de luz do olho humano. Apesar
de devolverem o mesmo diâmetro aparente, a mesma ampliação permite
visualizar mais detalhes num instrumento com abertura maior (em relação
a um equipamento menor). Quando acima se referiu que um telescópio de
abertura 100mm capta quatro vezes mais luz do que um de 50mm,
respaldámo-nos no mesmo procedimento (100/50=2; o quadrado de 2 é 4, o
equipameto de 100mm recolhe 4 vezes mais luz).
Em condições propícias, a magnitude limite (teórica) das estrelas observáveis é traduzida pela seguinte fórmula: m = 1.8 + 5 log D (onde D é o diâmetro da objectiva em milímetros) ATENÇÃO: há refractores de baixa qualidade nos quais o diâmetro do vidro não coincide com o da área efectiva "desimpedida" para entrada da luz, i.e., têm um stop. Para evitar este e outros dissabores ainda piores, adquirir sempre equipamentos/acessórios de marcas reputadas.
- A distância que a luz precisa percorrer entre a abertura e o ponto de focagem é a DISTÂNCIA FOCAL (f), fornecida nas especificações do equipamento. (A tradição nos primeiros séculos da observação equipada era descrever um telescópio prioritariamente pela sua distância focal e não pela sua abertura). É a distância (actual ou virtual) entre o centro óptico do espelho primário (reflector) ou objectiva (refractor) e o sítio onde os raios de luz convergem formando uma imagem focada. Esta distância determina a amplitude do campo de visão e o tamanho da imagem primária (a imagem "primordial" que vai seguidamente ser ampliada pela ocular). De facto, é possível facilmente conhecer o seu tamanho linear no plano focal (onde essa imagem invertida se forma) através da fórmula 0.01745 a f (0.017450 é uma constante, o nº de radianos num grau; a é o tamanho angular do objecto em graus; f é obviamente a distância focal; NB: na prática, considera-se o objecto astronómico no "infinito"). [Exemplificação do cálculo do tamanho da imagem primária: a dimensão angular da Lua é de 0.5 graus. Num equipamento com distância focal 600mm, o tamanho da sua imagem primária será: 0.01745 x 0.5 x 600 = 5.23mm]
- A RAZÃO FOCAL (f/D), que pode ser considerada a "abertura relativa", é o quociente da distância focal da objectiva pelo seu
diâmetro (distância focal do equipamento dividida pela Abertura). Análoga ao "f-stop"
da Fotografia, é indicada como “f/n”. Na prática, o rácio abertura/distância focal dá-nos
a "velocidade" da óptica do telescópio (os adjectivos "rápido" ou "lento" que aqui encontramos são obviamente emprestados da Fotografia). Quanto mais baixo o valor de
"n", menor a magnificação, mais amplo o campo de visão, mais luminosa a
imagem com determinada ocular ou câmara (imagens mais brilhantes com um
"tempo de exposição" menor). Aparelhos "rápidos", f/4 ou f/5, estão
indicados para observação com campo visual vasto e pouco magnificado ou
fotografia do céu profundo. Inversamente, com rácios "lentos", entre
f/11 e f/15, o telescópio precisa de mais tempo para obter
uma imagem brilhante, situação vocacionada para observação magnificada
da Lua, planetas, estrelas binárias ou fotografia com zoom poderoso. Valores intermédios (de f/6 a f/10) constituem um compromisso. Resumindo: um f/n baixo privilegia a luminosidade, um f/n alto privilegia a resolução e o contraste. Os "f" mais baixos (telescópios chamados "rápidos") significam magnificação baixa e campo de visão amplo. O inverso nos chamados "lentos", com "f" mais elevados (e.g., f/10 - magnificação elevada, campo de visão pequeno). Uma razão focal elevada produz sempre uma maior ampliação com determinada ocular específica.
A maior parte dos reflectores são f/5, 6 ou 8, i.e. a distância focal é 5, 6 ou 8 vezes o diâmetro do espelho. Os refractores possuem habitualmente f/n mais elevado, e.g., f/12.
Uma ocular funciona possibilitando que o olho se aproxime da imagem formada pela lente ou espelho principal. Esta proximidade permite que a vejamos maior. Quanto mais pequena a distância focal da ocular, maior a magnificação proporcionada. Os equipamentos com razões focais (f/n) menores são menos tolerantes às eventuais imperfeições das oculares, devido ao menor tamanho da imagem primária que o sistema óptico consegue formar.
(N.B.: Para calcular a ocular de maior distância focal (equivalendo à menor ampliação) que é possível utilizar, multiplica-se a razão focal do telescópio por 7mm (diâmetro mais comum da pupila adaptada à obscuridade). Como exemplo, um telescópio f/6 suporta, no limite, uma ocular com distância focal de 42mm.)
Observação do céu profundo: um f/n
pequeno permite alcançar a pupila de saída conveniente (~7mm) com
oculares com comprimento focal mediano (o mesmo resultado num f/11 exigiria uma ocular de grande comprimento focal, i.e. com muito vidro e mais dispendiosa). A combinação de uma abertura generosa com rácios focais moderados (f/4 ou f/5) permite um contraste adequado entre o objecto extenso e o fundo.
(fonte: Jeffrey L. Hunt, Cosmic Connections, Inc.)
Há uma enorme variedade de preços. As oculares básicas hoje utilizadas são constituídas por três elementos (e.g., as Kellner). Numa evolução em termos de qualidade e preço temos as Ortoscópicas e as Plossl, constituídas por quatro elementos. No topo encontram-se oculares de campo amplo constituídas por 5 a 8 elementos (e.g., as tradicionais Erfle de 5 elementos) ou as mais recentes e complexas Wide Field e Ultra Wide Angle. A amplitude do campo de visão é uma qualidade muito valorizada: ao contrário das antigas Erfle, os modelos mais recentes garantem imagens mais nítidas e excelente correcção na periferia da generosa "janela" que proporcionam. As do tipo Lanthanum (do nome de um raro elemento usado para alterar o índice refractivo) são valorizadas pelo generoso "alívio de olho" que proporcionam. Estas vantagens têm um preço e um peso! As oculares referidas são caras e bastante pesadas. Actualmente, o tipo de ocular com qualidade e preço razoável mais comum é a Plossl,
versátil e adaptável aos diversos tipos de observação, proporcionando
imagens nítidas. Os mencionados desenhos inovadores de campo mais amplo
(as séries Panoptic, Nagler e Ethos da Televue) são
obviamente excelentes. As oculares comuns possuem um campo aparente de cerca de 50 graus (Atenção: o Campo Aparente não é o observado através do telescópio, ver infra a distinção entre Aparente e Real) As chamadas wide-field possuem campo aparente em torno dos 65 graus. As super e ultra em
torno dos 80 graus, ou até mais. Permitem, por exemplo, observar um
enxame globular com uma amplificação superior à que seria exequível com
uma ocular comum, sendo que a magnificação escurece o fundo e permite
ver mais estrelas. Acima de tudo proporcionam maior conforto visual e espectacularidade. Em qualquer circunstância, optar por boas marcas (e.g., Vixen, Meade, Orion, Pentax, Tele Vue) e, se possível, pelas melhores séries. (As oculares básicas, antigas, são muitas vezes publicitadas como “modified” ou “super achromat”. Se possível devem ser preteridas por desenhos mais recentes)
Utiliza-se frequentemente uma lente côncava negativa (i.e., na qual as coisas aparecem mais pequenas) que, na prática "aumenta" virtualmente a distância focal do telescópio. Colocada em série, antes da ocular, a lente "Barlow" (designação que utiliza o nome do seu inventor, Peter Barlow, 1776-1862) vai, na prática, multiplicar (2x, 3x, etc.) a ampliação proporcionada pela ocular. Também ajuda a evitar o desconforto da utilização de lentes com distância focal muito pequena. A outra vantagem é económica pois duplica as opções de ampliação, em conjunto com as unidade disponíveis. Por outro lado, a utilização de uma "barlow" torna a focagem mais complexa e pode deteriorar a qualidade da imagem. (O inverso é o redutor focal, acessório que ao reduzir a distância focal da objectiva, diminui a ampliação e, consequentemente, alarga o campo visual. O factor modificador é aqui inferior à unidade, geralmente 0.63x)
O Campo Visual pode ser obtido através da fórmula: O / A (O: Campo da Ocular ou "Aparente"; A: Ampliação). (O Campo da Ocular seria o tamanho da circunferência da imagem observada pelo nosso olho se espreitássemos pela ocular fora do telescópio, por exemplo na direcção de uma parede) As oculares possuem um campo que pode ir de 30 a 110 graus. O valor, fornecido pelos fabricantes, nem sempre está disponível ou grafado na peça (nessas circunstâncias, o valor de 50º permite uma aproximação razoável, havendo métodos alternativos). O Campo Visual Real ou Observável depende em concreto da utilização da ocular num telescópio, obedecendo à fórmula disponibilizada. (NB: o método consiste numa aproximação que assume que a ocular possui uma superfície plana, quando é efectivamente esférica). Outro método para conhecer aproximadamente o diâmetro do campo de visão é escolher uma estrela próxima do Equador Celeste (a menos de 10º deste grande círculo) e cronometrar a deriva, o tempo que demora a atravessar o nosso campo de visão (em segundos). Seguidamente, multiplicar por 15 para obter a medida angular em segundos de arco. O tempo da "travessia" em segundos dividido por 240 dará o resultado em graus.
O mais importante... A qualidade da imagem (não a ampliação) é o mais importante. O propósito de um telescópio é, acima de tudo, recolher ou captar luz. Reside aí a importância da Abertura. O notável divulgador Thomas William Webb (1807–85), aconselhava, no seu célebre tratado inicialmente publicado em 1859: "Do not over-press magnifying power. Schroter [notável astrónomo do séc. XVIII] long ago warned observers against this natural practice, which is likely to lead beginners into mistakes. A certain proportion of light to size in the image is essential to distinctness; and though by using a deeper eye-piece we can readily enlarge the size, we cannot increase the light so long as the aperture is unchange." (Webb, T. W., Celestial Objects for Common Telescopes, Cambridge Library Collection, Cambridge University Press, 2010, p.12). Acrescentou: "For the moon and planets, the power should be high enough (if the weather will bear it) to take off the glare, low enough to preserve sufficient brightness and sharpness." (ibid, p.13).
Equipamentos com características diferentes adequam-se a diferentes tipos de observação. Em causa a dinâmica entre campo de visão, amplificação e razão focal, Como refere Michael K. Gainer (Real Astronomy with Small Telescopes, Springer-Verlag Limited, 2007), a melhor combinação de campo de visão e amplificação depende do objecto observado. Enquanto enxames abertos, amplos e brilhantes (e.g., o duplo enxame em Perseus) são mais interessantes quando observados com campo mais vasto e baixa amplificação num equipamento f/5, os enxames globulares e as nebulosas planetárias beneficiam de amplificações acima de 100x e rácios superiores (e.g., f/11). O contraste entre um objecto e o fundo do céu envolvente é substancialmente menor num f/5 do que num f/11 utilizando a mesma amplificação. Todavia, um equipamento com menor razão focal é mais adequado para visualizar regiões da Via Láctea e enxames extensos, bem como para os fotografar. É o método de "navegação" tradicional, "saltando de estrela em estrela". Trata-se de seguir um caminho e encontrar um objecto a partir de estrelas de referência, relações geométricas e "mini-constelações" (padrões). conhecendo a escala. Podemos assim encontrar objectos adjacentes ou próximos a partir de outros que estejam no campo visual. Como Wolfgang Steinicke e Richard Jakiel resumem, esta localização 'analógica' dos alvos abre a porta para um "personal sky" no qual o nosso cérebro vai, com a rotina, memorizando percursos, amiudadamente dispensando a utilização de qualquer mapa (Galaxies and How to Observe Them, Springer-Verlag London Limited, 2007). No que respeita à orientação e ângulos de posição, urge conhecer as direcções cardeais fundamentais do nosso campo de visão na ocular. Pode praticar-se o "método de deriva" (sabendo que numa observação não automatizada os objectos se movem sempre para Oeste). Os tamanhos e distâncias podem estimar-se a partir da dimensão do campo visual ou da separação de duas estrelas visíveis (que pode ser medida ou confirmada posteriormente num atlas). Os referidos autores recomendam (com exemplos) uma abordagem faseada com recurso a mapas com escalas diferentes: grande escala (e.g., Sky Atlas 2000.0) para o buscador, média escala (e.g., Uranometria) para a ocular com menor amplificação e, por fim, carta de busca impressa (e.g., GUIDE) ou fotografia DSS (e.g., RealSky) para a abordagem final com ocular mais poderosa. Finalmente, no que respeita a estimativa das magnitudes observadas (métodos comparativos), salienta-se a dificuldade e incorrecção da comparação entre fontes luminosas punctiformes (e.g., estrelas) e extensas (e.g., galáxias).
Há duas categorias básicas. O telescópio de Galileu ou Refractor (a chamada 'luneta', que traduz o nosso conceito intuitivo de telescópio) utiliza, justamente, a capacidade de refracção da luz (O termo "refracção" refere-se ao modo como a luz é desviada quando passa de um mediumtransparente como o ar para um com densidade diferente, como o vidro da objectiva). O sistema óptico faz convergir os raios luminosos captados pela área da objectiva numa pequena lente (ou conjunto de lentes) a que chamamos ocular. A sensibilidade ou capacidade de captação de luz depende da área da objectiva, a ampliação é determinada pela ocular. Não há interrupções no caminho da luz, a imagem tende a ser mais estável pois não há turbulência ou correntes de ar internas. A observação torna-se difícil a partir dos 60º acima do horizonte, sem recurso a prisma zenital (que reflecte a 90º, sendo colocado entre a ocular e o tubo da ocular). A aberração da cor é um perigo potencial nesta categoria (o lugar da focagem da luz recebida não coincide, é diversa em função das cores do espectro). Um refractor acromático (significa literalmente "sem cor") procura corrigir este problema, fazendo a "recombinação" das cores separadas. Os melhores (e mais caros) refractores actuais possuem objectivas extraordinariamente bem corrigidas, incorporando camada de fluoreto de magnésio (redutora da reflexão) ou, mais comummente, uma combinação de três elementos (sistemas apocromáticos, abrev. APO), combinando distâncias focais relativamente pequenas e notável óptica, sem dúvida proporcionando as melhores e mais nítidas imagens planetárias (na comparação da abertura). Numa categoria alternativa, o desenho do Reflector recorre à utilização de espelhos (ver esquema 'b'). As oculares continuam a ser refractoras, obviamente. Os ângulos de reflexão da luz não estão sujeitos ao desvio cromático. A manutenção exigida (alinhamento frequente) e a possibilidade de ocorrência de aberração de coma (distorção das fontes punctiformes que estejam fora do eixo óptico, provocando um efeito de gota, semelhante a uma comacometária) constituem desvantagens. Temos ainda o problema da obstrução central pelo espelho secundário e os picos de difracção provocados pela sua "aranha" (estrutura de suporte). A mais-valia é o relativamente modesto custo da abertura, sabendo como esta é importantíssima na observação, mormente a dos chamados objectos do céu profundo. É banal encontrar amadores equipados com autênticos "light buckets", com espelhos acima de 10" (~25cm) de diâmetro.
(Tabela incluída na edição de 1998 de NightWatch - A Practical Guide to Viewing the Universe, de Terence Dickinson, Firefly Books; trad. nossa)
* Medidas de abertura são muitas vezes traduzidas em polegadas. 1" = 2.54cm
O observador planetário vai olhar para imagens brilhantes e confinadas, independentemente do diâmetro dos alvos. O observador de estrelas duplas ou variáveis observará imagens punctiformes, concentradas. Mas a observação do chamado "céu profundo" (enxames, nebulosas e galáxias) é diferente. Os objectos são geralmente ténues, aglomerados estelares, gases e poeiras espalhadas por áreas por vezes extensas e heterogéneas. O seu brilho pode ser centenas ou até milhares de vezes mais ténue do que o dos planetas (o brilho de uma imagem é a quantidade de energia luminosa concentrada numa unidade de supefície da imagem). A solução para a observação destes objectos passa por conseguir a imagem mais clara e brilhante que é possível. Isto significa enveredar pela utilização de razões focais pequenas ou "curtas" (equipamentos f/4 ou f/5). A abertura é o parâmetro seguinte a merecer atenção. Os telescópios reflectores são escolha óbvia pela facilidade técnica em agilizar generosas aberturas. Já no caso dos planetas existe vantagem na utilização de valores elevados ou "longos" (f/12 a f/15), determinando campos de visão pequenos e escuros propiciadores de elevado contraste na observação dos detalhes de superfície e atmosféricos. Os refractores têm a vantagem de um caminho luminoso tão desobstruído quanto possível (directo, sem qualquer espelho diagonal) e a desvantagem da modesta abertura (cujo aumento se torna dispendioso e até tecnicamente inexequível a partir de determinada dimensão). Uma maneira criativa de, em teoria, optimizar e aguçar a nitidez da imagem de um reflector (e.g., para observação lunar e planetária) pode passar por utilizar uma máscara de abertura que vai reduzir a abertura mas aumentar a razão focal (f/D) do equipamento (abertura mais pequena para o mesmo comprimento de tubo) e o contraste que este consegue devolver. Também remove eventuais efeitos ópticos da "aranha" (suportes) do espelho plano. Mas o expediente é controverso e poucos observadores consideram vantajoso ou desejável reduzir a abertura. Pode, supostamente, ser viável quando o "seeing" é desfavorável (e somente nessas condições). (Os refractores também podem ser alterados c/ máscaras de abertura, neste caso concêntricas)
A. Localizar uma estrela brilhante, não demasiado elevada (entre 45 e 60 graus). Utilizando a ocular de menor ampliação, enquadrar essa estrela no centro do campo de visão. Trocar por uma ocular mediana e focar. A imagem deve ser nítida, pequena e muito brilhante, sem franjas coloridadas ou emanação de luminosidade radial. B. Desfocar delicadamente e apenas ligeiramente, fazendo entrar a ocular alguns milímetros a partir da posição ideal de focagem. Surge então um disco pequeno que deverá ter limites relativamente definidos e brilho homogéneo. De seguida, voltar ao ponto de focagem e fazer sair a ocular no sentido inverso, a mesma distância, O disco que aparece deve ser similar ao anterior. Repare-se que, num refractor, os limbos destes discos de "desfocagem" denotam alguma coloração (avermelhada ou púrpura no primeiro, esverdeada no segundo). Cancelam-se mutuamente quando a imagem volta à focagem, somente ficando um ténue halo de cor azul-violeta. (Se queremos saber como é que se vê uma imagem estelar perfeita, utilizamos dois pedaços de cartão e fazemos um pequeno orifício de alfinete em cada um deles. Seguramos um com o braço estendido e espreitamos pelo outro junto do nosso olho, na direcção de uma lâmpada. Veremos então os chamados "discos de Airy" e ténues anéis concêntricos. É o que se observa num telescópio de primeira classe). C. Verificar a presença de astigmatismo observando cuidadosamente a forma dos supracitados discos expandidos. Devem ser perfeitamente circulares e nunca elípticos. Segundo M. R. Porcellino (Through the Telescope: a Guide for the Amateur Astronomer, TAB Books, 1989), o teste óptico pode ser feito com a Estrela Polar (porque esta não se "mexe"). Quando deslocamos a ocular para "dentro" ou para "fora" do ponto de focagem, a imagem ligeiramente expandida deve ser semelhante em ambas as situações. A imagem resultante da desfocagem "para dentro" deve estar rodeada de anéis de difracção; "para fora" deverá surgir um ponto negro centrado (devido à sombra do espelho plano). Atente-se que os chamados "anéis de difracção" são visíveis nos refractores (existe uma complexa escala gizada por Pickering (1858-1938) para avaliar a qualidade óptica ponderando este efeito). Nos reflectores testa-se a nitidez punctiforme da estrela observada. A verificação da qualidade e, em particular, da presença de aberração cromática nos refractores, pode ser facilmente conseguida observando a Lua (nomeadamente o limbo brilhante) ou Vénus. Um halo azul-violeta ténue é aceitável, verde ou de qualquer outra cor não é. O procedimento deve ser feito com mais do que uma ocular para despistar disfunções de uma peça particular (vide Ridpath, I., (ed.), Norton's 2000.0: Star Atlas and Reference Handbook, Longman Scientific & Technical, 1989, p.71).
Um dos problemas mais comuns nos telescópios reflectores é que, eventualmente, os espelhos ficam desalinhados. Colimação é o nome dado ao processo de alinhamento. Para que o telescópio forneça boas imagens, os espelhos devem estar muito bem alinhados. Um teste simples será apontar o telescópio a uma estrela brilhante e desfocar propositadamente. Os anéis da imagem desfocada devem ser perfeitamente circulares, ou o equipamento não estará colimado. Algumas ferramentas podem facilitar a manutenção: tampa de colimação, ocular do tipo "Cheshire", laser de colimação. O manual do equipamento inclui, habitualmente, instruções acerca dos procedimentos a adoptar, quais os parafusos de alinhamento e respectivos interfaces. Na ilustração precedente: diagnóstico (a partir do que se observa através da abertura de focalização do equipamento). Vê-se o espelho plano ou diagonal (centrado nas imagens 1 e 2) com a respectiva base (à sua esquerda, cinzento intermédio) e reflexo dos 4 suportes ("aranha"), o reflexo dos três suportes periféricos do espelho primário (a negro, distanciados 120º entre si) e o pequeno círculo (castanho ténue na ilustração) que marca o seu centro: 1. Espelhos perfeitamente alinhados; 2. Espelho primário desalinhado; 3. Ambos os espelhos desalinhados (fonte: andysshotglass.com) A montagem/suporte é, como é habitual dizer-se, "metade do equipamento". Determina a estabilidade e precisão dos movimentos. Deve ser firme, estável e permitir movimentos suaves, bem como facilidade de posicionamento óptico em qualquer ponto da esfera celeste. Se actualmente se verifica que as ópticas mais acessíveis produzidas no Extremo-Oriente têm uma qualidade que não compromete, não se pode dizer o mesmo dos suportes e montagens equatoriais, demasiado frágeis e instáveis. Em termos de versatilidade e poupança, a escolha mais avisada (para um reflector) será a de uma montagem altazimutal, dobsoniana, garantia de solidez e utilização fácil e intuitiva. Há dois tipos de montagem: a Altazimutal,
permitindo movimentação cima-baixo e esquerda-direita, caracterizada
por uma utilização fácil e óbvia. Não está todavia em consonância como
o movimento aparente da esfera celeste (não é, em rigor, "astronómica",
pois os seus movimentos não estão coordenados com os arcos diurnos dos
corpos celestes). A Equatorial segue o movimento diurno aparente adequadamente, permitindo, através de
escalas graduadas nos eixos, localizar objectos através das suas
coordenadas celestes (Ascensão Recta e Declinação). Círculos de ajuste
graduados permitiem a utilização directa dessas coordenadas.
Possibilitam, portanto, localizar um objecto utilizando a diferença (em
A.R e Declinação), a partir de uma estrela de referência centrada na
ocular (o chamado "método diferencial"). Também é possível utilizar o Tempo Sideral ou o Ângulo Horário (para Este ou Oeste) do objecto a centrar na objectiva.
Eixos e movimentos de uma Montagem Equatorial
A montagem permite 4 movimentos (azimute, latitude, ascensão recta e declinação). Nas imagens seguintes temos:
1 - controlo de Azimute (ângulo horizontal: N, E, S. O)
2 - controlo do eixo de Latitude (movimento em altura do Horizonte ao Zénite) 3 - eixo da Ascensão Recta (medida em horas, minutos e segundos), representado a vemelho 4 - eixo da Declinação (do Equador Celeste ao Pólo Norte Celeste, no nosso Hemisfério), representado a verde
N.B.: Na primeira imagem vemos dois parafusos de ajustamento, um para o
Azimute, outro para a Latitude. Na segunda imagem vemos os dois
"travões" (um para cada eixo) e
os botões rotativos 'flexíveis' para controlo fino de cada um dos eixos (movimentos de Ascensão Recta e de Declinação).
Alinhamento Polar Nas
montagens equatoriais, o alinhamento polar é fundamental para sincronizar o
telescópio com o movimento diurno da Esfera Celeste e deve ser muito
preciso no caso da prática da astrofotografia. As boas montagens
integram um tubo de alinhamento polar, com marcações que auxiliam um alinhamento eficaz
do eixo polar. (O procedimento é logicamente dirigido ao pólo do
hemisfério geográfico onde é efectuado) No nosso hemisfério, a
chamada "Estrela Polar" está próxima mas não coincidente (também
descreve pequeno círculo no intervalo de
um dia sideral). Há diversos tipos de retículo, com diferentes abordagens. Alguns dos mais utilizados (exemplo típico na fig. 1) imitam um mostrador de relógio (exigindo-se, à priori, as configurações Data/Hora/Zona Horária (Timezone) - acautelando eventual diferencial na longitude do observatório relativamente ao centro deta última "Zona"). Outros possuem uma simples escala
graduada que assinala a distância da estrela ao Pólo em minutos de arco. Um modelo muito comum define a posição de Polaris em relação a constelações adjacentes (mimetizando o céu real e desenhando estrelas da Ursa Menor e Cassiopeia, ver fig. 3),
sem a necessidade da preocupação com data, hora ou até nivelamento da
montagem. O posicionamento relativo define a rotação do retículo e encontra a
posição do Pólo. É uma abordagem "geométrica": centra-se Polaris,
observam-se (no céu) as estrelas em redor e ajusta-se em função do ângulo relativo de Polaris com essas referências próximas (e.g., Kochab, na Ursa Menor). Hoje em dia o posicionamento é facilitado consultando uma app acessível num telemóvel (c/ GPS) e colocando então Polaris no ângulo indicado. E estão disponíveis câmaras específicas (e.g., a PoleMaster
da QHCCD) para localização electrónica do Pólo a partir da análise
informática dos padrões estelares. Precisão total garantida! 1) 2) 1) Ferramenta tipo "relógio" para alinhamento de montagem equatorial (NB: Octans
é obviamente referência para utilização no Hemisfério Austral). Para o nosso
hemisfério, o círculo graduado no centro (0, 3, 6, 9) descreve os
ângulos possíveis de Polaris
com o Pólo verdadeiro (neste exemplo, estrela está próxima das 11 horas). Por fim, a pequena
escala informativa com os anos (2020, 2024, etc.) diz-nos em que
posição se deve colocar a estrela no pequeno intervalo dentro dos limites
interno e externo do mencionado círculo graduado. Acautela-se assim um
fino ajustamento determinado pela "epoch" específica, pois o eixo da
Terra não é estático devido ao fenómeno da Precessão..2) Outro retículo. Neste caso, o círculo
exterior destina-se ao Hemisfério Sul; o interior ao
alinhamento nas nossas latitudes. O Pólo Celeste está no centro. 3) 4) 3) Retículo desenha estrelas mais conspícuas da envolvente próxima. 4) Um buscador polar clássico. Em cima vê-se o círculo graduado para ajustar Data/Hora; na face perpendicular (em redor do encaixe da ocular) vê-se o círculo destinado ao ajustamento preciso da Zona Horária (timezone) da nossa localização. N.B.: Na ausência de um destes sistemas, resta recorrer a uma ocular de forte amplificação com mira (crossair). A Escala Vernier. Os círculos de posição analógicos são habitualmente marcados em intervalos de 1 ou 2 graus de Declinação e a cada 10 minutos de Ascensão Recta (A.R.; "R.A." em Inglês). Para alcançar maior precisão, utiliza-se a interpolação proporcionada pela escala vernier. Esta costuma grafar marcas de 0 a 10 ou similares. Habitualmente apresenta dez marcas para cada nove na escala principal (a do círculo graduado). Na leitura, observa-se qual a linha na escala vernier que coincide exactamente com uma qualquer linha na escala principal. Essa linha da escala indica a subdivisão exacta. A marca "0" (zero) na escala funciona como ponteiro. No exemplo ilustrado, a leitura da A.R. anda em torno das 7h35 (ver seta indicando o zero). Mas serão 35, 36 ou 37 minutos? A marca "6" da escala coincide exactamente com uma marca do círculo graduado (ver seta acima), logo a leitura correcta será 7h36m. (Scagell, R., Stargazing With a Telescope, Firefly Books, 2005, p.99; edit.). O procedimento que subjaz é comparável aos métodos de Tycho Brahe (transversais) ou, principalmente, de Pedro Nunes (o nónio, um engenhoso sistema de medição angular).
Limpeza de componentes ópticos
- É aconselhada a aquisição de um kit com todos os artigos necessários. São acessíveis em termos de preço. Ler instruções antes de administrar líquido de limpeza. - Primeiro retirar o pó com uma pêra (soprador de ar) para remover as partículas pequeninas quase imperceptíveis ou, caso seja necessário, um pincel macio. É fundamentar evitar pressionar ou arrastar qualquer partícula que possa riscar definitivamente a superfície. - Caso seja necessário remover gordura ou impressões digitais, utilizar álcool isopropílico, desengordurante neutro diluído em água ou ainda solução para limpeza de lentes de máquinas fotográficas (incluída nos kits). - Utilizar uma flanela nova, algodão limpo ou papel específico (Optical Tissue) com fibras suaves para o efeito, com qualquer uma das opções acima, limpando a superfície delicadamente e sem pressão, em movimentos circulares. -
Evitar submeter o telescópio a alterações bruscas de temperatura para
evitar condensação, condição que precisará ser corrigida imediatamente.
Existem no mercado acessórios com resistências flexíveis (com potência
de cerca de 5W) que podem adaptar-se em torno da parte frontal
do tubo. Deixar equipamento destapado para secagem. Qualquer mancha
deixada nas lentes só poderá ser limpa após secagem completa. - As oculares não devem ser desmontadas porque possuem grande precisão e separadores internos. Externamente, os procedimentos de limpeza são semelhantes aos descritos. Por uma questão de escala e detalhe, utilizam-se cotonetes. - O espelho de um reflector exige o mesmo nível de cuidado do que as lentes de vidro das objectivas dos refractores. Possui habitualmente uma finíssima pátina reflectora de alumínio, protegida por uma camada de dióxido de silício. Deve evitar-se a sujidade, a condensação e obviamente qualquer atrito. Pode formar-se uma fina camada de pó, o que não prejudica de modo notório a observação. É muito mais grave se ficar riscado no processo de limpeza. Todavia, se acumular muitas impurezas, matérias orgânicas, químicas, etc. precisa ser lavado. Ou seja, o melhor é prevenir, mantendo o tubo sempre tapado quando não está a ser utilizado. Quando inevitável, é desmontado e lavado com soluções adequadas (água tépida com umas gotas de detergente suave e água destilada). Isto deve acontecer muito raramente e com imenso cuidado. O perigo de queda é óbvio, devendo utilizar-se luvas de borracha na manipulação.
As
astrofotografias (i.e. a falsa cor das emulsões e da maioria das imagens digitais) e o "optimismo" de alguns field guides
e roteiros
baralham os principiantes. Lendo descrições e contemplando as ubíquas
fotografias, com brilhos magnificentes, cor, texturas e fabulosos arcos
de nebulosidade, questionam: porque não vejo o mesmo na minha ocular? A
resposta está, em boa medida, relacionada com a utilização de
tecnologia capaz de acumular luz, algo inacessível ao olho humano.
Todavia, a verdadeira "magia" reside em observar os fotões que
chegam de tão longe com os nossos próprios olhos e não apenas, como
referia Philip S. Harrington, "a sanitized photograph" (Star Watch,
John Wiley & Sons, Inc., 2004). De resto, grande parte das
fotografias publicadas recorre a codificação com cores falsas para
destacar características "invisíveis" (densidade, temperatura, etc.), v. Kitchin, C., Telescopes and Technics... (2nd ed.), Springer, 2003, p.155.
É conveniente adequar as expectativas relativamente ao que podemos observar. Convém "esquecer" as fotografias profissionais (equipamento de excelência, acumulação de luz, i.e., longas exposições, cromatismo, edição, filtragem, stacking) e as que conhecemos do Hubble Space Telescope (que estando em órbita não possui uma "turbulenta" coluna de ar entre si e os objectos fotografados). Não vamos ver nada semelhante. Nem muitos dos objectos mapeados nos atlas impressos, dirigidos à vertente astrofotográfica. Ted Aranda tem razão quando critica todo um acervo de literatura que não explicita devidamente a diferença entre a fotografia e a experiência visual concreta: "...a body of astronomical literature that does not sufficiently acknowledge the vast and largely unbridgeable difference between the photographic and the visual appearance of many types of deep-sky objects, thereby leading dedicated observers to have unrealistic – and all too often disappointed – expectations." (3,000 Deep-Sky Objects, An Annotated Catalogue, Springer Science+Business Media, LLC 2012, vii; vide também pp.27 et seq.). O astrónomo alemão Simon Marius (latiniz. Simon Mayr; 1573-1625), pioneiro da utilização do telescópio, afirmava que até as estrelas distantes se observavam como "discos", uma noção errada que persistiu durante muito tempo, até uma teoria da difracção ser devidamente formulada. (Neil English, Chronicling the Golden Age of Astronomy: A History of Visual Observing from Harriot to Moore, Springer, 2018, p.32), Na realidade, os diâmetros aparentes das estrelas são demasiado pequenos (<0.04'') e nem o maior telescópio as consegue "ver" como globos (todavia, as Leis da Física determinam que, na realidade, as vejamos telescopicamente como pequenos discos: porque a luz viaja como onda e não em linha recta, a luz produzida por uma estrela nunca pode ser focada como um ponto aguçado, antes como uma mancha brilhante: o "disco espúrio" ou "disco de Airy"). Ou seja, com magnificação forte, as estrelas mostram um pequeno disco. Todavia, este é causado pela interacção da sua luz com a óptica do telescópio não sendo verdadeiro. Contudo, podem observar-se em maior quantidade, mais brilhantes e mais separadas, o que devolve resultados admiráveis na observação de estrelas duplas, múltiplas, variáveis, bem como de muitos enxames estelares. Por norma, os objectos do céu profundo são "coisas" longínquas, ténues e indefinidas (as genéricas nebulae de Herschel). Grosso modo são tudo menos vistosos e muitos dos diâmetros aparentes elencados baseiam-se numa ponderação fotográfica das dimensões. É preciso cautela pois a influência das astrofotografias estendeu-se, de modo "sub-reptício", aos field guides, aos relatórios de observação e até aos esboços desenhados. Observados com pouca abertura ou em condições atmosféricas imperfeitas, os objectos veêm-se mais pequenos. As galáxias (quando se conseguem observar!) ficam confinadas ao seu núcleo. M31 (a célebre Galáxia de Andrómeda) mostra-nos somente o núcleo e M32 (galáxia satélite) surge mais ou menos afastada, o que não acontece nas fotografias de longa exposição que todos conhecemos, nas quais se sobrepõe ao gigantesco disco espiral de M31. Em bons céus, M31 expande-se quase até aos 5 graus (v. infra secção Atmosfera). A esmagadora maioria das galáxias está tão longe e possui brilho superficial tão escasso que conseguirmos vê-las já é espantoso e admirável. O que dizer da avaliação da extensão ou dos detalhes estruturais? A "obsessão" dos guias e revistas com a sua “estrutura” radica decerto, igualmente, na mediatização e influência prevalecente da fotografia. Com telescópios de abertura mediana estes objectos são diáfanos ou leitosos, geralmente muito, muito ténues e com vaga e indetectável morfologia. "Braços em espiral" e outras características pouco conspícuas revelam-se praticamente inacessíveis. Eventualmente perceptível é a densidade acumulada na direcção do centro (núcleo). O brilho superficial pode variar nas diversas zonas do objecto. É comum, por exemplo, conseguir observar somente o núcleo mais concentrado de uma galáxia que sabemos (pelas fotografias, claro) ser muito mais ampla. Paralelamente, a maioria das nebulosas catalogadas são inadequadas para observação visual (excepto quando observadas com equipamento de excelência e recurso a filtros), sendo objectos extremamente ténues e exclusivamente fotográficos (foi assim que muitas foram descobertas!). Segundo W. Steinicke, é sintomático que infelizmente se assista, desde finais do século XX, a uma inflação de "nomes" atribuídos - principalmente por amadores americanos - a partir, justamente, da observação das fotografias (Observing and Cataloguing Nebulae and Star Clusters, Cambridge University Press, 2010, p.4). Enfim, exercícios pueris de apofenia. As chamadas "nebulosas planetárias", são objectos heterogéneos (podendo apresentar aparência estelar, esférica gasosa, irregular, etc.). Os detalhes pequenos e intrincados das fotografias estão, geralmente, ausentes na observação visual. Quanto à percepção da cor, somente algumas nebulosas (de emissão ou planetárias), sendo ligeiramente esverdeadas, apresentam alguma (o olho humano não é sensível à cor com níveis de luminosidade tão reduzidos). Os objectos extensos (i.e. não visíveis como pontos) não passam, no seu melhor, de pálidos "borrões" cinzentos, evidentemente monocromáticos. No que diz respeito aos planetas, os diâmetros aparentes são relativamente modestos. Marte, por exemplo, é um planeta com metade do tamanho do nosso. Mesmo à distância mínima surge pouco maior do que o globo de Saturno. Quando as órbitas de Marte e da Terra se afastam, o "planeta vermelho" diminui para o tamanho aparente de Úrano e pouco mais é do que um ponto com tonalidade alaranjada no campo de visão do telescópio. Verdadeiramente enriquecedor é estudar, aprender e procurar compreender o que estamos a observar. Nesta perspectiva, o empenho na observação supera as "desvantagens" da actividade, que J. B. Sidgwick elencava sucintamente, referindo as despesas e o desconforto: "...the expense and size of its equipment, and the discomforts and inconveniences of its pursuit." (Amateur Astronomer's Handbook (3rd ed.), Dover Publications, 1980).
Condições aquém do ideal... A observação depende, como sabemos, de muitos factores. Segundo a estimativa de Robin Scagell (City Astronomy, Sky Publishing Corp., 1994), num contexto urbano (ou, diremos nós, na maioria das circunstâncias, e.g., qualquer contexto "fraquinho" dos subúrbios), poderemos observar:
- qualquer enxame aberto com uma magnitude integrada até 7, estando elevado acima dos 20º relativamente ao horizonte;
Na observação de nebulosas ou galáxias, o chamado Brilho Superficial é mais importante do que a magnitude. Os catálogos de objectos do céu profundo listam, habitualmente, uma "magnitude integrada" (como se a luminosidade do objecto se concentrasse num ponto). Todavia, nos objectos extensos (não punctiformes) este parâmetro não é linear e o contraste com o background, será sempre mais baixo. Como exemplo, uma nebulosa com magnitude 9 surge muito mais ténue do que uma estrela dessa mesma magnitude, pois a sua luz espalha-se por uma área maior. Em paralelo com o seu brilho, a extensão de um objecto do céu profundo é determinante na escolha do instrumento a utilizar na sua observação. Estratégias diversas respondem a diferentes desafios. Diferentes objectos/tipos de objecto respondem de modo diferente ao mesmo tipo de magnificação. Com determinada abertura e magnificação, uma galáxia pode "perder-se" em termos de contraste enquanto um exame aberto pode "explodir" visualmente em inúmeras estrelas luminosas e nítidas. Mesmo no caso de nebulosas planetárias, a dificuldade de observação é evidente se compararmos o seu brilho com o brilho "aguçado" de uma estrela de magnitude equivalente. Este parâmetro procura rectificar Magnitude vs. Visibilidade. Todavia, conseguimos por vezes a olho nu integrar a luz de objectos extensos, como se fossem compactos. O cérebro interpreta-os então como ténues manchas de luz (e.g., M31 a galáxia de Andrómeda, avistada sem ajuda óptica em locais suficientemente escuros). Também ajuda que este tipo de objecto não seja homogéneo, muitas vezes assumindo maior concentração e brilho na direcção do seu núcleo. Na observação astronómica dos objectos extensos, o ideal é nunca esquecer este parâmetro. O valor da magnitude habitualmente disponibilizado é enganador pois, como vimos, pressupõe que a luz do objecto esteja concentrada num ponto, como nos objectos estelares. Por seu lado, o Brilho Superficial baseia-se da estimativa fotométrica da luminosidade emitida por unidade de área da sua superfície (e.g., por segundo ou por minuto de arco quadrado). O tamanho é a chave! A dispersão depende da área e morfologia do objecto e determina a sua visibilidade. Com modesto brilho superficial, a nebulosa ou galáxia não suporta magnificação, a sua visualização exige paciência, céu muito escuro sem poluição luminosa, provavelmente visão lateral ou indirecta (método que consiste em não olhar para o alvo, mantendo nele a nossa atenção, permitindo ganhar cerca de 2 magnitudes) ou filtro (OIII no caso das nebulosas de emissão, para o oxigénio duplamente ionizado). Aconselhamos o excelente The Observer's Sky Atlas (E. Karkoschka), exemplar na informação disponibilizada para cada objecto do céu profundo (ver atlas e cartas celestes). Como o astrónomo Paul Markov salienta, "incrivelmente, a maior parte dos atlas e guias não inclui este dado". Contudo, a informação do brilho superficial não deve ser utilizada autonomamente mas articulada com a habitual informação da magnitude. O conceito é simples. Imagine-se uma lanterna apontada a uma parede muito próxima. Produz um círculo luminoso com determinado diâmetro e intensidade. Afasta-se a lanterna da parede. Agora o círculo é maior mas a intensidade da luz reduziu-se consideravelmente. Num telescópio, podemos fazer uma experiência reveladora: observamos uma estrela e desfocamos até que a imagem "explodida" ocupe uma área considerável do nosso campo de visão. Novamente verificamos como o brilho diminui consideravelmente, podendo tornar-se quase invisível. Um exemplo típico é o objecto M74, em Pisces. A sua magnitude é relativamente elevada (9.4), mas quando verificamos que a área é de 12'x12', chegamos ao valor de 14.2 para o seu brilho superficial! Por isso este exemplo do catálogo de Messier é considerado difícil. Em compensação, M57 (magnitude 9) é uma nebulosa planetária tão pequena que pode ser observada com facilidade (dimensão 1.3'x1.0'). Resumo: é fundamental possuir um catálogo com esta informação. Markov termina a sua explicação com humor: "Se alguém vos pedir para encontrar a galáxia UGC 9749 (na constelação Ursa Minor), com a razoável magnitude 10.9, o melhor é nem sequer instalar o telescópio. Este objecto "acessível" possui um brilho superficial equivalente a 17.8!" (v. texto, arquivado do oriig.; PDF 42KB). Guilherme de Almeida e Pedro Ré explicam como a caracterização da "escuridão" do céu está relacionada com este conceito: "Se o brilho superficial for, por exemplo, "magnitude 12 por minuto quadrado, isso significa que, nessas condições, cada minuto quadrado do céu apresenta em média um brilho equivalente à magnitude 12. (...) Como é evidente, um objecto difuso só se pode detectar se o seu brilho superficial for superior ao brilho superficial do céu de fundo (menor magnitude por unidade de área aparente de céu)." (Observar o Céu Profundo (2ª Edição), Plátano Edições Técnicas, 2003, pp. 62-3). Como Ronald Stoyan refere, um objecto somente é visível se equivaler ou exceder determinado valor de contraste com a envolvente. Sob céus sujeitos a poluição luminosa ou neblina, o problema dos objectos com baixo brilho superficial não se resolve com o tamanho do telescópio, pois se com a mesma magnificação o equipamento maior devolve maior brilho do objecto, fá-lo na mesma proporção com o brilho de fundo do céu. Portanto, o local de observação e a qualidade da noite revela-se mais importante do que o telescópio. (Atlas of the Messier Objects: Highlights of the Deep Sky, Cambridge University Press, 2008, p.64)
Como exemplo observacional, elencamos alguns dos objectos "Messier" habitualmente considerados "desafiadores": M1, M33, M74, M83, M91, M98, M101, M107, M109 ou M110. Extremamente dependentes de boas condições e quase sempre invisíveis num ambiente "suburbano" (sendo que esta classificação não é totalmente 'objectiva'). Conclui-se que há imensas e flutuosas variáveis (contraste, transparência, latitude, altitude, abertura, magificação, magnitude integrada, brilho superficial do objecto, etc.). O veterano Tony Flanders recorda-nos que a transparência é variável mas tende a ser melhor de Outubro a Abril (Hemisfério Norte). A Poluição Luminosa é a maior ameaça. Em darksitefinder encontramos um "atlas" que procura classificar (utilizando código de cores) as diversas regiões (não considera condições climáticas, relevo ou iluminação localizada). Ver panorama deste flagelo (mapa abrange sudoeste europeu e parte do noroeste de África).
Observação - "dicas" genéricas/relacionadas com a observação com equipamentos "manuais", sem utilização de sistemas automáticos [Da vasta bibliografia pertinente, destacamos a excelente colectânea Astronomy Hacks, de Robert & Barbara Thompson (O'Reilly, 2005) e o Deep Sky Observing: An Astronomical Tour (2nd edition) de Steven R. Coe (Springer International Publ., 2016] Por "sistemas automáticos" entenda-se os GoTo motorizados. Também não nos referimos aos sistemas Push-to (sem motor mas com digital setting circles (DSC), que através das coordenadas guiam o observador na direcção adequada até chegar ao "zero"). Há quem argumente que utilizar um equipamento computorizado liberta mais tempo para efectivamente 'observar', em vez de 'procurar'. Por outro lado, a opção "analógica" cria uma relação plena com a envolvente, desafiando o observador, exigindo autonomia e criando familiaridade com o céu nocturno, sendo para muito amadores muito mais gratificante. O star-hopping é a abordagem puramente visual. É espantoso como o nosso cérebro memoriza, gradual e eficazmente, os percursos nas diversas e diferentes regiões do céu. É sempre interessante aceder a recursos diversificados para adquirir referências teóricas, ler descrições, compreender como observar (técnicas) e o que se está a observar (e.g., características, relevância cosmológica, aspectos históricos e culturais). Alguns títulos (incluindo alguns "clássicos") na fotografia seguinte. - É fundamental conhecer o céu à vista desarmada (constelações e asterismos de referência, "juntar os pontos", ter noção de escala, orientação, etc.). Possuir noções de astronomia esférica. O horizonte Sul deve (no nosso Hemisfério) ser privilegiado na observação, atendendo à dinâmica do movimento diurno da Esfera Celeste. É nesse movimento que evoluem a Lua, os planetas e o céu específico de cada época do ano.
- Planear as sessões (condições atmosféricas, elenco dos objectos a observar, magnitudes, particularidades), sabendo antecipadamente o que estará observável, onde/quando e em que condições. A meteorologia pode ser implacável, é necessário estar preparado para algumas desilusões: Disappointment is so often the lot of the astronomer (Herbert H. Turner). - Observar a orientação cardeal, determinando o meridiano do lugar (utilizar uma bússola, se necessário). Na sessão de observação, começar a observar de Oeste para Este, "contrariando" o movimento aparente da Esfera Celeste. Compreender as direcções fundamentais (na abóbada celeste, Norte significa SEMPRE a direcção da Estrela Polar). Seguir os grandes círculos convencionais da Esfera Celeste e orientar as cartas ou mapas em consonância.
Movimento aparente das estrelas nas quatro direcções cardeais para um observador no Hemisfério Norte (Davidson, N., Sky Phenomena: A Guide to Naked-eye Observation of the Stars, Lindisfarne Press, 1993)
- A importantíssima camada cuja altitude limite é habitualmente situada entre os 60 e os 89 Km. Para o astrónomo amador há duas variáveis fundamentais: a transparência (claridade, ausência de nuvens ou nevoeiro), habitualmente chamada "contraste", pois é determinante na visibilidade dos objectos; a segunda é a estabilidade (o chamado "seeing"). É importante compreender que a atmosfera determina os limites do que podemos observar: não é homogénea nem constituída por ar imóvel, todo ele à mesma temperatura. Existe muitas vezes uma espécie de brilho de fundo ("skyglow") com causas artificiais (o terrível flagelo da poluição luminosa) e também, em muito menor escala, naturais (do próprio ar, brilho estelar não resolvido opticamente, etc.). A cintilação excessiva das estrelas também denota más condições para a observação. Devido à inerente inconstância, a qualidade da observação pode alterar-se num curto intervalo. As condições geralmente melhoram a partir das 2 ou 3 horas da madrugada (menor poluição e atmosfera mais calma). A altitude geográfica é vantajosa. As noites frias são amiudadamente propícias à observação pois as massas de ar frio e seco absorvem menos luz. Por outro lado, as noites com alguma nebulosidade ou nevoeiro fino são adequadas à observação dos planetas, permitindo visão nítida e firme. Observando o céu conseguimos distinguir as regiões propícias das que estão inundadas pela poluição luminosa ou nebulosidade, proporcionando menor contraste. A ponderação da transparência atmosférica é relativamente fácil e standardizada. A maior parte dos observadores definem-na através da magnitude da estrela mais ténue que conseguem observar à vista desarmada. Assim, atribuem valores desde 0 (zero), quando nada se consegue ver excepto as estrelas mais brilhantes (e.g., Sirius), até 6 (estrelas de sexta magnitude ao alcance).
- Não esquecer a previsão meteorológica na preparação de uma sessão de observação, em particular se envolver viagens/deslocações. Indícios: as nuvens esparsas do tipo cumulus, avistadas durante o dia, geralmente desaparecem pouco depois do ocaso do Sol. As estratiformes e cirriformes, associadas ao tempo chuvoso, tendem a permanecer. António G. Mattoso e Álvaro d'Athayde descreviam, num manual escolar de 1942, diversos tipos de nuvens. Os Cúmulos, a que os marítimos chamam, segundo os autores, "algodões", que em regra aparecem de manhã e desvanecem-se durante a tarde. Os Cirros, nuvens mais altas, denominadas "rabos de gato", assemelham-se a lã cardada e pressagiam mau tempo. Os Estratos apresentam-se como faixas paralelas horizontais e, durante o Verão, formam-se do lado poente. Os Nimbos são nuvens cinzentas e espessas com bordas franjadas, produzindo sempre chuva. Os homens do mar chamavam-lhes "aguaceiros".
Actualmente, reconhecem-se três formas básicas: cirros, cúmulos e estratos. Os cirros são nuvens altas, brancas e finas, parecendo por vezes delicados véus; os cúmulos são geralmente massas globulares individuais e têm a aparência de domos ou torres; os estratos podem ser descritos como "lâminas" ou camadas que cobrem uma área muito grande ou todo o céu. Quanto à altura, as nuvens altas têm a base a cerca de 6000m de altitude, as médias entre 2000 e 6000m e as baixas abaixo do último valor. As nuvens altas são normalmente formadas por formas híbridas: cirros, cirro-estratos e cirro-cúmulos; as nuvens de altitude média têm a forma de alto-estratos e alto-cúmulos e as nuvens baixas podem ser estratos, estratocúmulos e nimbo-estratos. Há ainda nuvens de desenvolvimento vertical associadas à instabilidade do ar. (fonte: Infopédia [Porto Editora – classificação das nuvens na Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2024-01-29]. Disponível em https://www.infopedia.pt/$classificacao-das-nuvens])
- Poluição: névoas, fumos, particulas de poeira... tudo isto reduz a transparência. A luz artificial estupidamente enviada para cima, onde não é necessária, ilumina as partículas em suspensão na atmosfera, causando uma espécie de "aurora" artificial. Em regiões mais fustigadas, gera-se aquilo a que Michael Porcellino chamou "segundo horizonte", um "horizonte" de luz que reduz a área do céu observável. - As noites próximas do solstício de Verão têm pouco para oferecer (Hemisfério Norte, piorando com a latitude) no que diz respeito aos objectos ténues e difusos devido à duração do crepúsculo astronómico (tecnicamente, é o instante em que o centro geográfico do Sol está 18 graus abaixo do horizonte). O Sol está muitas horas pouco abaixo do Horizonte. -
Antes de mais, atenção às condições de armazenamento dos equipamentos!
Os fungos espalham-se pelo ar através de esporos minúsculos e, em
condições de humidade e temperatura propícias (humidade relativa entre
60% e 95%, em conjugação com temperaturas entre os 12ºC e os 38ºC),
atacam os componentes ópticos que evidenciam um padrão reticulado e o
característico odor a mofo. Por isso é importante acautelar as as
circunstâncias do armazenamento dos equipamentos. Existindo produtos
fungicidas, a situação pode eventualmente tornar-se irreversível (a
corrosão das superfícies ópticas causa difusão da luz e consequente
degradação da imagem). A solução reside na prevenção, controlando a
humidade relativa do local onde se guarda o equipamento através de
desumidificadores ou saquetas com agentes dessecantes (e.g.,
sílica-gel). - É necessário dominar o funcionamento do equipamento. A aprendizagem básica deve ser feita com antecedência e de dia, utilizando objectos terrestres, para acautelar uma utilização competente na obscuridade. Ter em consideração que a montagem ou suporte é tão importante como a óptica. É necessário minimizar a vibração e garantir estabilidade na utilização do equipamento. Colocar um "lastro" no tripé pode ajudar. - O desempenho de um telescópio depende, de modo crítico, da estabilidade da atmosfera e da qualidade dos seus componentes de formação de imagem. A situação ideal combina um equipamento com qualidade e manutenção, uma atmosfera propícia e um observador concentrado e relaxado, que previamente planificou a sessão (local, conforto, sequência previsível dos alvos, documentação de suporte, etc.). - Para evitar recorrer constantemente à lanterna, convém organizar o equipamento com uma ordem precisa. Com a rotina, encontrar uma ocular ou outro acessório torna-se intuitivo. - O buscador é essencial. Sem este equipamento (diversos tipos disponíveis) não se consegue encontrar nada. O campo de visão das oculares é habitualmente pequeno e o céu é enorme! Tradicionalmente um pequeno refractor com abertura de cerca de 20mm - 50mm e magnificação entre 5x e 8x. Mas há sistemas alternativos preferidos por muitos amadores (Telrad, red dot finder, i.e., do do tipo "ponto refletido", etc.). Estes não ampliam (zero magnification): projectam círculos ou um ponto de mira no céu. - Ter em atenção a superfície onde se vai instalar o equipamento evitando irregularidades e declives ou proximidade de paredes ou pavimentos que estiveram expostos ao sol, propícios à criação das turbulentas correntes de convecção. - Os sistemas ópticos utilizados, pelo seu funcionamento intrínseco, invertem de algum modo a imagem produzida. Exige habituação.
- Na consulta de atlas e cartas, urge ter a noção da escala e assinalar o campo de visão (FOV, field of view) aproximado, em função do equipamento que utilizamos. Podemos utilizar a própria grelha do mapa, caso seja adequada, ou layers de acetato. Ver o curioso expediente da imagem seguinte (Alan MacRobert/Sky & Telescope). Devemos fazer corresponder o mapa com a direcção em que se observa, reconhecendo padrões e orientando-o em consonância com o céu. - Os planetários informáticos têm a vantagem (relativamente aos atlas tradicionais) de exportar ou imprimir cartas com o nível de detalhe adequado às condições de observação (limites de magnitude, categorias de objectos a observar, etc.), correctamente orientadas (em função do local/data/hora), podendo incluir círculos Telrad ou representativos do campo de visão de oculares específicas a utilizar. Permitem ainda a visualização e impressão de cartas invertidas, vertical e/ou horizontalmente, em consonância com o sistema óptico utilizado. - Acautelar o conforto pessoal, em função da temperatura, humidade, etc. O frio e o perigo de hipotermia podem ser dissuasores. No Outono-Inverno, o amador mais persistente precisa de vestuário térmico e tudo o que possa tornar tolerável uma actividade tão sedentária. Utilizar várias "camadas" de roupa, luvas cortadas para permitir manipulação dos equipamentos, o obrigatório gorro (pois protege uma parte do corpo fundamental e pela qual se arrefece rapidamente), etc. Há que reconhecer que a observação astronómica exige alguma robustez física, resiliência e força de vontade. - Permanecer sentado é mais confortável e garante melhor concentração. Utilizar um banco ou cadeira ajustável. É agonizante ficar a meio caminho entre a posição sentada e a erecta para conseguir aceder à ocular. (Há cadeiras ajustáveis que podem ser encomendadas).
-
O olho não deve tocar a ocular mas deve centrar-se na luz que emerge da
mesma. É necessário procurar o ângulo mais adequado, podendo
utilizar-se a mão em "concha" para ajudar a apontar e eliminar a
eventual luz intrusiva que exista nas imediações.
-
Acautelar escolha do local de observação, evitando a poluição luminosa
e a irradiação de calor dos edifícios. Todavia, acautelar antes de mais
a segurança.
Alguns filtros e suas utilizações na observação planetária (fonte: Scagell, R., Stargazing with a Telescope (3rd edition), Firefly Books, 2009)
* % de luz cuja passagem é permitida pelo filtro - Nos casos da observação da Lua e de Vénus, extremamente brilhantes, é quase sempre conveniente utilizar um filtro para atenuar a intensidade. Um filtro lunar (lunar filter) é bastante eficiente. Também se pode improvisar utilizando o anel periférico da tampa de protecção do telescópio para reduzir a quantidade de luz captada pelo tubo (se o design se proporcionar), na prática criando uma máscara de abertura. -
O utilizador com óculos pode observar sem estes, ajustando a focagem do
telescópio em consonância, a não ser que sofra de astigmatismo (esta
disfunção significa que a córnea do olho possui uma curvatura diferente
na direcção horizontal relativamente à vertical). A observação com
óculos somente permite abranger todo o campo visual, no geral,
utilizando oculares de distância focal relativamente ampla (>15mm).
Existem oculares wide field (campo mais amplo) que garantem um bom Eye Relief trabalhando com pequenas distâncias focais. Deve estudar-se bem as
características dos equipamentos a adquirir e utilizar, em função da
qualidade e ergonomia. - É interessante manter um registo das observações efectuadas (acervo informativo e enriquecedor da experiência observacional sistemática), identificando local, data/hora (decrescente, de modo normalizado: ANO/MÊS/DIA/HORA; utilizar ainda "data dupla", e.g., "2020, Fevereiro 25/26" e a hora em UT, Tempo Universal ou de Greenwich*. Outro exemplo: "2022 Janeiro 1d 2h 34m 4.8s". Também é usual registar a hora através de quatro dígitos, e.g., 2310, i.e., 23H10m), identificação dos alvos observados na sessão (nº catálogo, designação comum), a transparência (quantidade de luz que a atmosfera deixa passar, reportando a magnitude estelar limite observável a olho nu no zénite) e a estabilidade (o chamado "seeing", que define quão perturbada pela atmosfera é a visão telescópica). Usar sistema coerente nos vários registos. Pode optar-se por uma informação qualitativa simples, utilizando (por exemplo) as variáveis: "excelente"/"muito bom"/"bom"/"sofrível"/"pobre". Não esquecer as especificações técnicas (equipamento, oculares, amplificações usadas, etc.) e outras anotações consideradas relevantes. Os observadores mais dedicados atribuem número de série às suas sessões, para ulterior indexação. Como diz um velho adágio: a qualidade de um observador pode ser avaliada pelos seus registos. De resto, os registos possuem enorme valor pedagógico, ensinando como funcionam as rotinas, quais os procedimentos e metodologia. Constituem um acervo que pode ser consultado e comparado com futuras observações. * É também comum, alternativamente, usar a Data Juliana,
na qual o período nocturno cabe sempre no mesmo dia. O sistema foi
gizado por Escalígero (Joseph Justus Scaliger, 1540-1609). Este
método conta os dias sequencialmente, começando numa data arbitrária no
passado. A origem - que corresponde a 0.0
- é o meio-dia do 1º dia de
Janeiro de 4713 a.C. (equivalendo a 24 de Novembro de 4714 a.C. no
Calendário Gregoriano, que utilizamos actualmente). Os dias são
contados de forma contínua, sem
separação em semanas, meses ou anos. O dia tem início ao meio-dia e vai
até o meio-dia seguinte. As horas são expressas em números decimais. N.B.: a transparência e o chamado seeing podem ser "antagonistas". As noites calmas (com bom seeing)
são frequentemente húmidas e por isso menos transparentes. As noites
ventosas, com o ar claro e transparente, oferecem amiudadamente boa
magnitude limite em detrimento da tranquilidade (as estrelas aparecem mais brilhantes e luminosas mas
decerto estarão propensas a "saltar" na ocular sob efeito da
turbulência atmosférica). As primeiras proporcionam tipicamente boas
condições para a observação dos planetas, as segundas são adequadas aos
objectos extensos do céu profundo (deep sky) com menor brilho superficial.
O grande problema é que, inadvertidamente, se tende a desenhar o que se conhece (ou supõe conhecer) e não o que se está a conseguir de facto 'ver'. É
uma "armadilha". Detalhes como braços espiralados de galáxias,
nebulosas definidas segundo os contornos fotográficos que lhes
atribuiram todos aqueles nomes informais, por vezes ridículos. É muito
importante manter uma mente "aberta", ainda mais difícil na nossa época
assoberbada por espantosas fotografias. A fascinante história dos
supostos "canais" de Marte e a prevalência de incontáveis traçados
lineares entretanto desenhados por imensos astrónomos amadores nos
esboços do planeta (fenómeno que se prolongou até ao descrédito trazido
pela publicação das fotografias de proximidade das missões Mariner e Viking) deve constituir um sério aviso relativamente às idiossincrasias do desenhador.
Fenómenos diversos, seguindo a montagem acima (ilustrações de Michael Roffe, in Henbest, N., The Spotter's Guide to the Night Sky, Usborne Publishing, 1992 (1979)): - Rastos de vapor de aeronaves resultantes do facto de a atmosfera continuar, em altitudes elevadas, a receber luz do Sol por um curto intervalo. Os cristais de gelo reflectem a luz. - Luz Zodiacal: cone de luz ao longo da Eclíptica, mais intenso no vértice situado aproximadamente entre 60 e 100 graus do astro-rei. Dificilmente observável (mais facilmente nas regiões tropicais, até à latitude 35º). A Luz Zodiacal e o Gegenschein ("brilho de oposição", retro-espalhamento luminoso no ou próximo do chamado ponto anti-solar, o ponto diametralmente oposto à posição do astro) são fenómenos luminosos relacionados com a presença de partículas encontradas no plano da Eclíptica, de origem cometária (segundo estudos recentes, talvez também com origem no planeta Marte). Observáveis antes do nascimento e após o ocaso do Sol (cerca de 2 horas) quando o Sol está cerca de 20º (em linha recta) abaixo do Horizonte. Exige locais privilegiados com horizonte limpo, sem nuvens ou qualquer tipo de poluição. Em Dezembro e Janeiro, a Luz Zodiacal torna-se invisível devido à "sobreposição" da Via Láctea, em Abril está muito pouco elevada. O ideal é tentar observar na Primavera e Outono. - Aurora Boreal (ou Austral), fenómeno das latitudes elevadas, resulta por vezes num efeito de cortina origina-se devido à radiação solar (relacionando-se com os seus picos de actividade) nas partículas da atmosfera elevada. As Auroras têm como causa a energia libertada em descargas gasosas quando partículas electrificadas emitidas pelo Sol entram em contacto com as moléculas e átomos da atmosfera. Foi em 1741 que o conhecido físico sueco Anders Celsius verificou a coincidência entre um desvio anormal de uma agulha magnetizada e uma aurora boreal proeminente. A observação destes fenómenos maravilhosos está relacionada com a longitude e latitude magnéticas (em função de um eixo que passa pelos pólos magnéticos e pelo centro do nosso planeta). São observadas mais facilmente na faixa de latitude geomagnética dos 67 graus, com diminuição progressiva tanto na direcção do Pólo como na do Equador. As auroras são mais frequentes nos Equinócios. Em termos espectrais, predomina a linha de emissão verde do Oxigénio ionizado (557.7nm). - Halo lunar (por vezes mais do que um) rodeando a o nosso satélite natural. Resultante da presença de cristais de gelo na alta atmosfera. - Na última ilustração, um satélite artificial,
habitualmente revelando uma luz contínua e estável (as luzes não
piscam pois os satélites não têm luzes de navegação, somente reflectem
luz solar). Avançam pela abóbada até entrar na sombra do nosso planeta,
deixando de estar visível a partir desse momento. Observam-se
principalmente ao princípio da noite, quando o Sol ainda ilumina estes
objectos com altitude mas tudo depende justamente da altitude da órbita
e da superfície reflectora do objecto.. A previsão das passagens é
facilmente antecipada consultando sites (e.g., heavens-above.com), apps ou bons programas de astronomia c/ elementos orbitais (TLE - Two Line Elements) actualizados.
Observação (dicas mais específicas, por objecto ou tipo de objecto) SISTEMA SOLAR - A observação planetária detalhada exige telescópio e ampliações generosas devido à escassa dimensão angular dos objectos. No caso particular de Vénus (e.g., observar as fases), utilizar opcionalmente um filtro (lunar ou colorido) para mitigar o brilho ou "glare" excessivo do seu disco (elevado albedo, luz reflectida). Marte deve ser observado, preferencialmente, próximo da Oposição, quando a Terra está interposta entre o Sol e o planeta. Júpiter e Saturno também reclamam ampliações acima de 100x para visualização de alguns detalhes. No trânsito dos satélites jovianos, o satélite torna-se invisível mas a sua sombra, escura e nítida, é observada a percorrer o disco do enorme planeta. A observação destes corpos é muito dinâmica, estando dependente em grande medida dos caprichos da nossa atmosfera. Os detalhes mais pormenorizados são vistos de modo transiente, surgem de repente, tornam-se inacessíveis por um período e voltam a aparecer. Na rotação, os vários acidentes da geologia ou atmosfera dos planetas são "arrastados" e obviamente transitam no meridiano. Particularmente para Marte e Júpiter, podemos utilizar o timing dos trânsitos meridianos para acompanhar a rotação das regiões mais conspícuas.
Superiores:
Visibilidade vesperina: Oposição - Quadratura Oriental - Conjunção. Visibilidade matutina: Conjunção - Quadratura Ocidental - Oposição. Inferiores (Mercúrio e Vénus): Visibilidade vesperina: Conjunção superior - Elongação Leste - Conjunção inferior. Visibilidade matutina: Conjunção inferior - Elongação Oeste - Conjunção superior. - Máxima elongação de Mercúrio, máxima distância entre Vénus e o Sol, oposições de Marte, Júpiter e Saturno (dados até 2050, exportação SkyMap Pro 11, .PDF, 1.39MB)
Outro fenómeno a referir, o apulso, corresponde à aproximação estreita a uma estrela ou, em geral, à aproximação (aparente) entre dois astros, e.g.,
dois planetas aparentam mínima separação angular (conjunção), Um
planeta pode também ocultar uma estrela, o que raramente acontece (com estrelas conspícuas)
devido aos modestos diâmetros em presença.
A Lua Nova nasce e põe-se em simultâneo com o Sol; o Quarto-Crescente nasce ao Meio-Dia e põe-se à Meia-Noite; a Lua Cheia nasce ao pôr-do-sol e põe-se ao nascer do sol; o Quarto-Minguante nasce à Meia-Noite e põe-se ao Meio-Dia. A Lua Cheia nasce em oposição ao ocaso do Sol, portanto o seu comportamento é o inverso do do Sol: mais elevada no Inverso e mais baixa no Verão. A posição em que nasce (que raramente coincide com o ponto Leste geográfico) é importante. Quando a Lua se move para Sul (relativamente ao Equador Celeste), o seu nascimento atrasa cerca de 75 minutos por dia; quando avança para Norte, o atraso é reduzido para cerca de 30 minutos cada dia (verifica-se o inverso no Hemisfério Sul).
É interessante que as sombras das montanhas e orlas das crateras seja
acentuada. O ideal é seguir a evolução desde o fino crescente até ao
plenilúnio. Num fino crescente, pode observar-se por vezes uma branda
luminosidade em toda a região não iluminada do satélite. Essa luz
belíssima que conseguimos perceber é, na realidade, o reflexo de um reflexo: a luz do Sol reflecte-se no nosso planeta que a reflecte sobre a Lua, que em parte a devolve. É chamada earthshine em Inglês, lumière cendrée em Francès; em Português encontramos a expressão "luz cinzenta". A
utilização de um filtro lunar é "obrigatória" quando a observação
acontece próxima do plenilúnio. Demais, há os eclipses e as ocultações
de estrelas ou (muito raramente) planetas. Foram gizadas escalas para aferir o brilho relativo das diversas zonas e formações geológicas. Uma destas, criada por Beer e Madlow, inclui 10 classificações com gradações do negro (1) ao branco (10). Algumas das formações mais interessantes para observar: Rupes Recta, Rupes Altai, Rimae - Hyginus, Ariadaeus, Boscovich, Triesnecker, Vallis Alpes, Vallis Rheita, Vallis Schröteri e Sinus Iridum.
As ocultações são muito facilitadas quando o brilho
lunar não é demasiado intenso, longe do plenilúnio. Particularmente
interessantes quando acontecem no limbo não iluminado, ao entardecer
(com o belíssimo reflexo da luz do nosso planeta) e mostrando a Lua um fino crescente (falcada). A estrela
ocultada "apaga-se" repentinamente (porque a Lua não possui atmosfera tangível) e, mais tarde, reaparece ou emerge (ingresso e egresso, respectivamente). O
espectáculo reveste-se de uma "beleza austera" (R. Boninsegna e J.
Schwaenen) sendo particularmente apelativo quando envolve as Plêiades
ou outro enxame conspícuo situado próximo da Eclíptica.
Observação é mais fácil quando o limbo está na sombra (o ocidental entre a Lua Nova e a Lua Cheia; o oriental entre a Lua Cheia e a Lua Nova). A maior parte das observações é de "desaparecimentos", observados na primeira fase da lunação, i.e. no limbo não iluminado ao entardecer, pois é mais fácil em termos de timing e a observação do "eclipse" de um astro visível é sempre mais acessível do que o "reaparecimento" de algo ocultado. Para verificar o momento exacto utiliza-se, tradicionalmente, um cronómetro. Activado no momento fundamental, é depois parado em simultâneo com um qualquer sinal de referência (e.g., rádio, serviço horário telefónico). A contagem do cronómeto é então subtraída à hora em que foi desligado. As ocultações "rasantes" são um caso particular. Acontecem quando o limbo polar da Lua passa tangente a uma estrela. São usadas para estudar o perfil do limbo lunar. A observação competente exige o registo do ângulo de posição, ângulo da cúspide (entre o final, ponto mais aguçado, mais próximo do Terminador e o ponto do limbo lunar onde o fenómeno se vai verificar) e timings rigorosíssimos.
Os Cometas são corpos planetários híbridos, acreditando-se que possuem um núcleo interno rochoso, coberto por uma camada de gelo ou por um aglomerado de gelo e fragmentos de rocha. A origem da maioria situa-se na distante Nuvem de Oort, a teorética e enorme concha de materiais residuais da formação do Sistema Solar. São "sobras" da formação do Sol e dos planetas. Em termos cinemáticos, as suas órbitas revelam enorme amplitude nas excentricidades e nas inclinações relativamente ao plano da Eclíptica..
A utilização dos chamados "binóculos gigantes", de grande abertura, fixados numa estrutura ou tripé, é muito comum entre os "caçadores" de cometas. Para encontrar esses alvos tão imprevisíveis é necessário, para além do equipamento óptico, um bom atlas (analógico ou digital). Os cometas são objectos difusos e a classificação do seu brilho é sempre relativamente vaga. A varredura do local onde é suposto estar um objecto é mais fácil num equipamento com montagem altazimutal. A observação deve acautelar a altura, a distância do Sol e o contraste (se o céu está ou não suficientemente escuro). Uma vez encontrado, devemos registar uma estimativa da sua magnitude e o aspecto (aparência e dimensões da coma e do núcleo, se possui ou não cauda, e na afirmativa qual a sua extensão aparente) Numa sequência de observações confirma-se o percurso do "viajante".
Actualmente, instalações ultra-sofisticadas, observatórios e equipagens profissionais (ZTF, Pan-STARRS, NEOWISE, etc.) ganham obviamente vantagem na detecção incidental e muito precoce de novos objectos, incluíndo cometas. A época áurea dos amadores ópticos (desde Messier ou Pons a Honda, Seki, Ikeya, Peltier, Mrkos, Bradfield, Alcock) já pertence ao passado. Há, todavia, amadores que colaboram na detecção a partir de imagens recolhidas por satélites ou outras equipagens profissionais e alguns já foram descobertos, por exemplo, ao escrutinar fotografias do arquivo (acessível em linha) do SOHO ("Solar and Heliospheric Observatory"), um observatório espacial dedicado ao estudo do Sol. A "poeiras" e resíduos dos cometas estão na origem da maior parte das minúsculas partículas que despois observamos como meteoros ou como a esquiva luz zodiacal.
Quando um meteoróide entra na nossa atmosfera é chamado "meteoro".
Estes são, na maioria dos casos, pequeníssimos, como grão de arroz, e
tornam-se incandescentes e visíveis por volta dos 100 quilómetros de
altitude. Meteoros anormalmente lentos e brilhantes (por definição,
mais brilhantes do que os planetas, magnitude -4 ou superior) são
chamados "bolas de fogo". Se forem ainda mais brilhantes e "detonarem"
são, usualmente, chamados "bólides". Fragmentos de meteoros que
resistiram e chegaram ao solo são chamados "meteoritos". A velocidade
dos meteoros depende do seu movimento relativamente ao nosso planeta.
São mais comuns após a meia-noite e antes da aurora, pois é este o lado
da Terra que se dirige para os enxames (v. imagem seguinte, in Mourão, Ronaldo R. de Freitas, Op. cit., 1982).
Os Meteoros são corpos rochosos ou metálicos que atingem a atmosfera terrestre. O atrito faz com que deixem um rastro luminoso. São classificados em três tipos principais: sideritos (metálicos), siderólitos (mistos) e aerólitos (rochosos). Os fragmentos que caem no solo terrestre são chamados 'meteoritos'.
É necessário conhecer a data e a localização do radiante, ponto de onde parecem emanar os meteoros (este desloca-se com maior ou menor amplitude ao longo dos dias em que a respectiva "chuva" se observa). Atenção: o radiante é apenas um ponto de referência, não se passa nada aí; é em redor que se deve observar. Os meteoros observam-se em redor do radiante a uma certa distância (~40º). A expressão "chuva" é enganadora, raramente o ritmo ultrapassa uma unidade por minuto. Foi G. Schiaparelli quem, no séc. XIX, primeiro chamou a atenção para a relação destes fenómenos com a trajectória dos cometas. A observação do fenómeno pode revestir-se de espectacularidade se as condições o permitirem. Comparados com os meteoros esporádicos, os meteoros integrados numa "chuva" tendem a surgir com velocidade e cor similares entre si. Ver ilustração (no mínimo algo fantasiosa) de uma "chuva de estrelas cadentes"
observada na noite de 12 para 13 de Novembro de 1833 (in Celoria,
Giovanni, Atlante Astronomico (Tavola XXVI); Milano: Ulrico Hoepli, 1890). A contagem dos objectos é uma das actividades úteis (rácio por Hora Zenital - a quantidade de meteoros que seriam observados se emanassem do zénite; utiliza-se um factor de correcção). A observação destas "chuvas" deve resultar no traçado das trajectórias num mapa, determinando assim o ponto central. Olhar directamente para o radiante não é a melhor técnica para observar meteoros. É mais fácil detectá-los observando as regiões em redor. Os meteoros emanados de um radiante já conhecido devem ser observados escolhendo áreas a cerca de 10-15 graus do radiante. O observador deve fazer intervalos de meia em meia hora, para conseguir manter concentração. Alguns objectos incomuns possuem dimensões apreciáveis, podendo iluminar uma boa parte da abóbada celeste: são os chamados "bólides" ou "bolas de fogo".
- Principais "Chuvas de Meteoros" (designação relacionada com a localização do respectivo radiante): Quadrântidas (radiante em Bootes)- Jan. 3-4 - intensa, com meteoros velozes;
Eta Aquáridas - Mai. 5 - Meteoros velozes; Delta Aquáridas - Jul. 27 - mais intensa do que a "chuva" que ocorre em Maio; Perseidas - pico 9-13 Agosto - observável por diversas noites em torno deste intervalo. Eram popularmente conhecidas como "Lágrimas de São Lourenço", do diácono martirizado pelos romanos e celebrado a 10 de Agosto. Tẽm origem nos resíduos deixados pelas passagens do cometa Swift-Tuttle; o seu radiante descreve um arco de 3º-4º, entre Perseus e Cassiopeia, de finais de Julho a meados de Agosto; Oriónidas - Out. 20- "chuva" composta por meteoros lentos, de cor amarelada; Gemínidas- Dez. 14 - "chuva" rápida e brilhante. N.B.: habitualmente é também referida a estimativa do nº de meteoros que um observador poderá ver durante 1 hora em condições ideais: ZHR (zenithal hourly rate)
- Observação do Sol Deixamos para o final das referências ao Sistema Solar uma observação óbvia mas especializada: a do Sol, estrela intimamente relacionada com os fenómenos da nossa atmosfera e a única que podemos estudar de perto. Uma gigantesca "fornalha"! No seu interior, átomos de hidrogénio são comprimidos, sob a enorme pressão da gravidade, resultando hélio e libertação de energia. A energia é produzida porque a massa de quatro núcleos de hidrogénio é maior do que a massa do núcleo de hélio resultante (i.e., resta massa no processo de fusão nuclear, que obedece à proporção referida).
Como veremos, através da observação das manchas podemos avaliar o período de rotação da estrela, que é mais rápido na região equatorial. Nos raros eclipses totais do Sol, pode observa-se a sua espectacular coroa (corona, um envoltório luminoso, a camada mais larga e externa da atmosfera do Sol) e as fáculas (manchas brilhantes).
A simples observação do pôr-do-sol é deslumbrante e interessante enquanto fenómeno atmosférico. Os raios luminosos desviados pela refracção da atmosfera determinam que os objectos apareçam mais elevados do que estão na realidade O Sol e a Lua parecem achatados quando próximos do Horizonte. Assim, a refracção faz com que vejamos um pouco abaixo do horizonte, a imagem do Sol é "espremida" verticalmente (mas não horizontalmente), de baixo para cima, gerando o efeito achatado do globo. A luz avermelhada no ocaso e no orto deve-se à espessura da atmosfera, sendo aqui espalhada luz vermelha e não somente a azul que associamos à habitual cor do céu.
O Eclipse Total - guia para um evento raro e dramático "O dark, dark, dark, amid the blaze of Noon,
Os eclipses solares podem ser totais, anulares ou parciais, dependendo de como o Sol, a Lua e a terra estão alinhados. Quando a Lua e a Terra estão mais próximas (no perigeu), dá-se um eclipse total. Se a Lua estiver mais distante (no seu apogeu), será anular. Se os três astros não estiverem exactamente alinhados, o eclipse será parcial. Para muitos, o Eclipse Total do Sol é o espectáculo mais poderoso que a Natureza nos oferece. Acontecem devido à quase coincidência dos diâmetros aparentes dos luminares. Um resumo das suas fases (adaptado de Maunder, M., & Moore, P., The Sun in Eclipse, Springer-Verlag London Limited, 1998, pp. 53-7): - Um pequeno entalhe surge no limbo solar (não havendo, todavia, diminuição verificável brilho até metade do Sol estar eclipsado. Nesta fase gradual (pré-totalidade), quando o brilho e o calor decrescem, podemos observar planetas como Vénus ou Júpiter (se estiverem favoravelmente localizados). ATENÇÃO: até ao início da 'Totalidade', a observação solar deve ser protegida por filtros adequados. - Quando o disco solar estiver reduzido a um fino crescente, se estivermos junto de uma árvore podemos observar no solo pequenas sombras em "crescente" (intervalos entre as folhas actuam como câmaras estenopeicas ou "pinhole"). - As chamadas "gotas de Baily" são observadas com maior facilidade imediatamente antes da totalidade. Como a superfície da Lua é rugosa e acidentada, a luz passa pelos vales no seu limbo, sendo bloqueada nas zonas elevadas. São sempre observadas.
- TOTALIDADE! Acontece de modo muito súbito. O céu escurece, a temperatura baixa, a Natureza reage, ludibriada pelas inesperadas trevas. O contraste do céu depende das condições atmosféricas, podendo, muitas vezes, ser observadas estrelas e planetas nesta fase. No Sol, observa-se a Cromosfera e eventuais proeminências. Neste intervalo espantoso, a corona irradia luminosidade equivalente à da Lua Cheia, o que significa que a observação desprotegida é segura. Podem observar-se ainda as estrelas mais brilhantes, planetas, satélites artificiais (fora do caminho central da sombra da Lua), para além dos fenómenos atmosféricos e das alterações na natureza envolvente. Todavia, cuidado! A totalidade termina rapidamente. - Terceiro contacto. A totalidade termina, há um breve surgimento do "anel" já referido. A Natureza "acorda" rapidamente, em poucos segundos, parece que nada aconteceu! - Quarto contacto: o Sol fica de novo completamente desobstruído.
- Cor das estrelas: durante a observação, desfocar a imagem ligeiramente permite uma melhor percepção das subtilezas cromáticas. - Sistemas Estelares Binários (e Múltiplos).
Muitas estrelas estão gravitacionalmente ligadas, partilhando um
centro de massa. Estes pares são as estrelas binárias. A primeira
descoberta documentada de uma dupla aconteceu em 1650 por Giovanni Battista Riccioli (Motz, L. & Nathanson, C., The Constellations,
Doubleday, 1988, p.34). Trata-se da companheira de Mizar (Zeta Ursae
Majoris), a somente 15" (não confundir com Alcor, que não pertence ao
sistema). Hoje sabemos que a maior parte das estrelas habita em
sistemas duplos e múltiplos, por vezes complexos e intrincados. Nas
binárias de eclipse, o plano orbital da estrela mais ténue fica na
nossa linha de visada, determinando uma redução periódica do brilho do
sistema. Por outro lado, determinados pares próximos constituem somente
uma coincidência relativamente ao observador terráqueo. São chamadas binárias ópticas. A precisão da óptica e o poder separador (ou resolvente) do equipamento é decisivo na observação destes sistemas duplos (i.e. múltiplos). Os bons refractores são privilegiados (tal como na observação planetária). A observação visa, acima de tudo, registar o ângulo de posição e a separação dos componentes (também as cores, reveladoras da situaçao física e idade das estrelas). Os componentes designam-se, geralmente A, B, (eventualmente continuando em C, D, etc.), começando na estrela principal, habitualmente a mais brilhante. Na prática, a observação deve começar com ampliação mediana, aumentando sucessivamente até "resolver" ou "separar" o sistema. Uma técnica para conseguir observar a componente mais ténue é utilizar uma máscara (hexagonal ou em cruz) adiante da objectiva ou abertura, provocando assim "raios" de difracção. Num dos intervalos entre estes "raios", a segunda estrela pode ser visualizada. A partir de um número elevado de observações de um mesmo sistema, pode coligir-se um conjunto de distâncias aparentes em diferentes ângulos de posição e assim revelar detalhes orbitais do sistema.
A ferramenta analógica de eleição do observador de duplas é, tradicionalmente, o micrómetro filar, uma ocular especializada utilizada para realizar medidas astrométricas. Possui dois filamentos: um deles fixo, outro ajustável (através de uma espécie de parafuso) para medir com precisão (numa escala graduada) a separação de duas estrelas (ver imagens seguinte; fontes: Newton, J., & Teece, P., Op. cit., 1995; Scagell, R., City Astronomy, Sky Publishing Corp., 1994). Quando um micrómetro é calibrado, a relação entre a escala e as distâncias angulares reais somente se aplica nesse instrumento e ocular específicos. - Variáveis: as estrelas são variáveis quando revelam flutuações periódicas no seu brilho, por razões intrínsecas (alterações físicas na estrela e sua atmosfera) ou extrínsecas, porque são eclipsadas num sistema. A sua observação consiste principalmente na estimativa das magnitudes, tradicionalmente utilizando uma sequência (estrelas com magnitudes bem estabelecidas) e cartas de comparação normalizadas (e.g., as da AAVSO). Desenha-se um gráfico com a curva das magnitudes observadas. O rigor (possível) é conseguido a partir das referências estelares para comparação, intervalando o brilho observado. É uma operação muito vulnerável à absorção atmosférica, brilho intrusivo, defeitos da óptica ou equívocos do próprio observador. O método "fraccional" de determinação da magnitude de uma variável consiste em comparar a estrela com duas outras (e.g., A e B), sendo uma mais e outra menos brilhante. Obtido este intervalo, estabelece-se a razão da luminosidade relativamente a cada uma. A notação é a seguinte: "A 1 V 1 B" (começa-se sempre pela estrela mais brilhante, que seria a "A", neste caso). Neste caso, a variável "V" apresenta uma magnitude intermédia entre as de A e B. Se, todavia, se perceber que a variável é 2/3 mais ténue do que A e 1/3 mais brilhante do que B, anota-se "A 2 V 1 B". E assim sucessivamente, adequando a cada caso. Hoje em dia é possível ao amador dedicado abandonar os métodos tradicionais e fazer medições espantosamente rigorosas utilizando tecnologia CCD. As chamadas cefeidas (gigantes amarelas ou supergigantes pulsáteis, cujo protótipo é a estrela δ Cephei) são as variáveis mais "valiosas", pela sua regularidade, "padrões de medidas" das distâncias na Galáxia e no Universo em geral, graças à firme relação período-luminosidade (identificada por Henrietta Leavitt em 1912). Devem o seu nome à primeira que foi estudada nesta perspectiva (Delta Cephei). A partir do momento que se conhece o período de uma cefeida, facilmente mensurável, a relação período-luminosidade permite determinar a luminosidade intrínseca dessa estrela. Por uma simples comparação com sua luminosidade aparente, deduz-se a sua distância, e com isso a distância da galáxia onde ela se localiza. Em galáxias remotas não se conseguem diferenciar as estrelas individuais, mesmo as cefeidas mais brilhantes. Aí recorre-se, quando possível, a um determinado tipo de supernova (Ia) no qual se verifica a interacção de uma estrela anã branca com uma gigante vermelha. A primeira utiliza o seu enorme poder gravitacional para sugar massa da segunda. Quando o Limite de Chandrasekhar (1.4 vezes a massa do Sol, limite da estabilidade de uma anã branca) é alcançado, explode! Ou seja, todas as explosões acabam por ter a mesma luminosidade, o que nos permite medir distâncias até cerca de 1 bilião de anos-luz. De resto, para a estimativa de distâncias verdadeiramente avassaladoras recorre-se à medição do redshift: a deslocação espectral para o vermelho.
Os objectos seguintes estão no âmago da observação da observação astronómica contemporânea. Aqui, em termos de equipamento, não há substituto para a abertura: maior é melhor. Aconselha-se, ainda, "velocidade óptica" entre f/4 e f/7. Mas observar não é apenas olhar: perante um objecto, devemos questionar o que conseguimos, de facto, detectar. A partir daqui procurar responder a questões acerca da dimensão, forma e distribuição do brilho. Promovemos, deste modo, uma maior atenção ao detalhe, incrementando a nossa capacidade perceptiva. A observação dos objectos mais ténues reveste-se de uma beleza subtil e até de uma dimensão existencial, quando ponderamos as abismais distâncias em presença. (NB: Alguns objectos do céu profundo (nebulosidades, associações ou enxames abertos amplos, como Mel 20 ou as Plêiades) ocupam uma área vasta. Nestes casos, utilizar baixa amplificação telescópica, equipamento RFT ("Rich Field Telescope", i.e, com campo amplo) ou binóculo, pode ser a estratégia mais adequada, proporcionando um campo de visão abrangente). As
dimensões habitualmente publicadas devem ser interpretadas tendo em
consideração que o tamanho aparente de um objecto depende sempre de
muitos factores: abertura do telescópio, condições do local de
observação (e.g., quão escuro é o céu), nível de adaptação ocular à obscuridade, etc.
- Os Enxames Globulares são radicalmente diferentes dos "abertos". Enquanto os últimos podem incluir centenas de estrelas, os globulares integram milhares e, em alguns casos, milhões. São muito mais antigos e habitam o halo galáctico. Alguns parecem ténues bolas de algodão. Outros, pela dimensão ou porque suportam ampliação, devolvem detalhe, e.g., magnificação aumentada permite observar o "granulado" que antecede a separação das estrelas mais periféricas. Eventualmente vê-se uma concentração de brilho na direcção do centro. Estas concentrações possuem estrelas antigas e avermelhadas da chamada Population II (ao contrário das jovens brancas e azuis, Population I, dos enxames abertos). Este objectos parecem semelhantes entre si, redondos e mais ou menos concentrados. Todavia, com maior abertura (> 25cm) e magnificação, percebem-se detalhes diferenciadores: eventual achatamento equatorial (análogo ao dos planetas gigantes), alinhamentos de estrelas, zonas escuras ou contornos irregulares. Os melhores globulares enquadram-se a meio da escala de Shapley (ver tabelas no final desta página), combinando a concentração com a resolução estelar que permitem. Convém compreender o enorme interesse cosmológico deste objectos antigos, "primitivos", "relíquias do passado", estudados em função da "metalicidade" em presença (os astrónomos designam todos os elementos mais pesados do que o Hidrogénio e o Hélio como "metais". Estes são produzidos nas estrelas por fusão nuclear, no caso dos mais pesados do que o ferro através de violentas explosões de estrelas enormes, enquanto supernovas). Ainda há muitos estudos em desenvolvimento relacionados com estes objectos impressionantes.
N.B.: A maior parte dos enxames abertos encontra-se aproximadamente no disco da Galáxia. O mesmo acontece com a maioria das nebulosas. Não acontece com os enxames globulares, que se encontram num amplo halo esférico.
- Galáxias - "As maiores unidades da Criação", como escreveu Robert Burnham Jr. A matéria do Universo não está uniformemente distribuída, formando estes "nódulos". As galáxias surgem nos equipamentos amadores como ténues manchas de luz, revelando pouco das suas formas e ainda menos dos detalhes. No entanto, verifica-se aquilo a que Neale E. Howard chamou "...the enchantment of distance and time" (The Telescope Handbook and Star Atlas, Thomas Y. Crowell, 1975, p.118), o conhecimento de quão longe e quão antiga é a luz que chegou até à nossa retina. (As distâncias são medidas em parsec e megaparsec: 1 pc é a distância a que uma Unidade Astronómica, i.e., distância média Sol-Terra, equivale angularmente a 1 segundo de arco de paralaxe. Corresponde a 3.26 anos-luz) As considerações respeitantes à observação das nebulosas também se aplicam às galáxias, Apesar de existir concentração no núcleo, são menos brilhantes do que as nebulosas mais conspícuas. Surgem, geralmente, como manchas planas e muito ténues. As espirais são mais brilhantes do que as elípticas e as espirais mais "perfiladas" são mais brilhantes do que as que estão "de frente", pois concentram a sua luminosidade numa "faixa". Estes "monstros" revelam tamanhos aproximados, sendo a sua magnitude determinada, principalmente, pela distância. Os detalhes estruturais são sempre muito difíceis de observar. Afinal, trata-se de objectos longínquos e fora da Via Láctea! A Via Láctea - Na prática, todas as nebulosas, enxames e estrelas que observamos a olho nu pertencem à Via Láctea. Esta foi "baptizada" obviamente enquanto observada "de dentro" pelos nossos antepassados, comparada a um rio, a uma "mancha leitosa", etc., dependendo da mitologia. Para os egípcios representava a deusa Nut. Era a Estrada de Santiago que na época medieval conduzia os peregrinos europeus em direcção ao sudoeste (Santiago de Compostela, "sudoeste" na perspectiva dos europeus que habitavam para além dos Pirinéus). Também se acreditou que assinalava o "caminho das almas" para o "Além". Segundo Jean-Pierre Verdet, "Un peu partout dans le monde, la Voie lactée est le chemin des âmes qui partent pour l’au-delà : à son extrémité se trouve le pays où séjournent les morts. Autant de traditions où la Voie lactée apparaît comme l’un des passages du terrestre au divin, assurant de nuit une fonction qui de jour incombe à l’arc-en-ciel." (Le Ciel: Ordre et Désordre, Gallimard, 1988, p.49) - Nebulosas Planetárias - Apresentam uma "concha" gasosa, constituída por materiais ejectados pela estrela central. São "anéis de fumo estelar", como lhes chamou Peter Grego em Stargazing (HarperCollins Publishers, 2005). No seu crepúsculo, as estrelas de massa semelhante à do Sol esgotam as reservas de Hidrogénio do seu núcleo e as reacções começam doravante a converter Hélio em Carbono. Nesta fase, a estrela começa a insuflar até se tornar uma gigante vermelha, libertando material para o exterior e, no seguimento, expelindo as camadas exteriores. Estas vão formar a nebulosa. O envelope ou concha rodeia o núcleo quente que agora constitui uma estrela anã, no centro. O tempo de vida das nebulosas planetárias é relativamente curto, razão pela qual não são muito comuns. A observação destas nebulosas exige magnificação e cartas de busca muito pormenorizadas. No geral, são alvos muito pequenos. Uma técnica habitualmente utilizada procede à ligeira desfocagem para destacar das estrelas adjacentes a nebulosa procurada. Com ampliações baixas e medianas observam-se punctiformes (como estrelas). Os exemplares do catálogo Messier (M27, M57, M76 e M97) são um pouco mais "generosos" mas continuam a ser objectos pequenos que exigem ampliação superior a 100x. M27, a chamada Dumbbell (dimens. 8'x5') é a única razoavelmente observada com binóculos comuns. Na observação, a atmosfera deve apresentar-se estável, pouco turbulenta. Filtro O-III (que, adequadamente, apenas permite passagem da luz do oxigénio duplamente ionizado) é por vezes essencial para observação dos objectos mais difíceis. A primeira nebulosa deste tipo (a anular da Lira, número 57 do catálogo de Messier) foi descoberta por Antoine Darquier em 1779. Foram chamadas "planetárias" porque, segundo Herschel, o aspecto e tonalidade destes objectos se assemelhava ao de discos planetários, como o do planeta Úrano. A maior parte das nebulosas planetárias dura menos de 50000 anos antes que a "concha" se dissipe, um breve "instante" em termos cósmicos. - Remanescentes de Supernova - As estrelas anãs brancas com uma massa acima do Limite de Chandrasekhar (que representa a máxima massa possível para uma estrela desse tipo,
1.4 vezes a massa do Sol) estão destinadas a terminar a sua vida numa
explosão, enquanto supernovas. Emitirão brevemente uma enorme
quantidade de luz, equivalendo à de milhões de estrelas. A libertação
de matéria pode destruir a estrela, deixando um invólucro de gás, o remanescente.
Na realidade, são muito escassas para o amador as possibilidades de
observação destas nebulosidades. No nosso hemisfério somente estão
dobserváveis as nebulosas M1 ("Nebulosa do Caranguejo", em Taurus,
registada nos anais Chineses numa data equivalendo ao nosso ano de
1054, remanescente descoberto por John Bevis em 1731) e a chamada
"Nebulosa do Véu" em Cygnus, esta última visualmente muito difícil. Filtros O-III ou UHC ("Ultra High Contrast") podem ajudar. - As Supernovas são raras. A última observada na nossa galáxia foi em 1604, na direcção da contelação Ophiuchus. Foi estudada por Johannes Kepler (1571-1630) e ficou conhecida como "A Estrela de Kepler".
Astrofotografia Sabemos que acumulação de luz permite captar detalhes inimagináveis. Tradicionalmente, existem três métodos para fotografar com telescópio: - Foco Primário, colocando o corpo da máquina sem objectiva no suporte da ocular e utilizar o telescópio como objectiva. A câmara deverá ser tipo Reflex e a focagem feita através de espelho retráctil. A dimensão do campo fotografado dependerá, basicamente, da distância focal do telescópio. - Projecção da Ocular: coloca-se o corpo da máquina (sem objectiva) no extremo de um tubo (Extensor), o que permite fazer a projecção da imagem da ocular em uso num novo ponto de focagem (captando a imagem produzida e ampliada pelo telescópio). Reduz o campo e utiliza-se para fotografar objectos com pequena dimensão angular, e.g., planetas. - Piggyback: utilização da lente objectiva da própria máquina, usando o telescópio (c/ montagem equatorial) somente como suporte e guia (seguindo o movimento do céu). Utiliza-se para campo amplo e objectos dispersos. Podemos acrescentar a simples modalidade "afocal", quando a objectiva da máquina capta a imagem produzida pela ocular do equipamento de observação (telescópio ou binóculo). A astrofotografia exige, quase exclusivamente (para exposições que ultrapassem poucos segundos), a utilização guiada de montagem equatorial (que "segue" os arcos diurnos dos astros). Em termos de equipamento, a qualidade das montagens e motorizações é absolutamente fundamental.
O advento do digital (CCD, câmaras DSLR, stacking software para reduzir ruído e aumentar detalhe, etc.) abriu imensas possibilidades, existindo em linha uma imensidão de recursos nesta área muito "técnica". Na
astrofotografia pode utilizar-se um simples telemóvel+adaptador (com
resultados muito limitados), uma máquina fotográfica, uma webcam ou um equipamento CCD concebido para astronomia. Acima, técnicas fotográficas mais utilizadas com máquina Reflex: 1) sem telescópio 2) em paralelo (piggyback) 3) com adaptador T2 4) setup anterior com ocular interposta. Seguidamente: 5) captação digital com dispositivo de carga acoplada (CCD) e 6) moderna cámara CCD (fontes - imagens 1 - 5: Jean Victor, V., Op. cit., 2009; imagem 6: qsimaging.com. - Curiosidade: podemos ver mais com os nossos olhos! A fotografia (analógica ou digital) acumula luz mas não possui o mesmo escopo ou amplitude (range) do olho humano. Como exemplo, as fotos da Nebulosa do Orionte mostram uma mancha branca luminosa no centro enquanto os nossos olhos "sabem" que aí não há uma mancha mas sim o famoso sistema estelar múltiplo conhecido como "Trapezium" (vide Thompson, Robert B. & Barbara F., Astronomy Hacks, O'Reilly, 2005, pp. 68-9) Introdução A
observação astronómica é o teste mais severo a que pode ser submetido
um equipamento óptico e qualquer modesta imperfeição se torna evidente
quando se tenta focar uma estrela num ponto nítido de luz. As
imperfeições ópticas são chamadas "aberrações". A luz branca recolhida
por um sistema óptico é separada pelos seus diversos comprimentos de
onda constituintes quando chega ao ponto de focagem. Num sistema de
lente única, a luz vermelha forma uma imagem enquanto a azul forma uma
outra num ponto diferente. É a chamada "aberração cromática" que
amiudadamente atormenta os refractores. Quando em presença, tudo parece
rodeado por auréolas ou halos coloridos. Chester
Moor Hall (1729), inspirado pela ideia errada de que o olho humano, com
o seu cristalino e humor vítreo, produz imagens sem aberração
cromática, combinou dois diferentes tipos de lente de vidro,
conseguindo o primeiro "doublet" acromático, (English, Neil, Chronicling the Golden Age of Astronomy: A History of Visual Observing from Harriot to Moore, Springer, 2018, p.83). Passadas algumas décadas, o
especialista em
óptica John Dollond optimizou e rentabilizou a descoberta, combinando lentes de tipos
diferentes de vidro de modo a conseguir mitigar o efeito da aberração
cromática,
criando refractores "acromáticos". Os equipamentos refractores de maior
qualidade (e preço), consegue debelar grande parte dos efeitos
indesejáveis. Os reflectores, por seu lado, estão isentos desta aberração pois os
espelhos reflectem toda a luz, independentemente dos diversos
comprimentos de onda, do mesmo modo. Todavia, são menos "luminosos". Todos os sistemas ópticos estão sujeitos a qualquer tipo de aberração. A "esférica" é causada quando a luz proveniente da lente ou espelho não culmina no mesmo foco (no mesmo ponto exacto), criando imagens sobrepostas. Em caso de "coma", as imagens dos pontos estelares assemelham-se a pequenas gotas. No "astigmatismo", a imagem não é formada no ponto de focagem, mas antes ou adiante, criando imagens desfocadas e indistintas (alongadas segundo um dos eixos, i.e. elípticas). Algumas aberrações estão interligadas, surgindo em simultâneo e tornando-se difícil isolá-las. Não existem equipamentos ópticos que produzam imagens completamente livres de aberrações. Vamos conhecer as principais e conceitos relacionados
Se apontarmos um telescópio para uma estrela (preferencialmente branca, pois uma que tenha tonalidade avermelhada compromete a experiência), o efeito da aberração cromática pode ser simulado. Se a ocular for inserida um pouco abaixo do ponto ideal de focagem, a imagem da estrela torna-se azulada, pois o olho fica doravante focado onde os raios azuis se focam, Se a ocular for puxada para fora relativamente ao ponto ideal de focagem, a imagem torna-se avermelhada, pois os raios de luz vermelhos têm uma focagem mais "comprida" do que os azuis. Na posição de melhor focagem, prevalece uma cor amarelada, rodeada por uma nebulosidade púrpura. Isto acontece porque a cor amarela se situa no meio do espectro visível. A "nebulosidade" circundante resulta de um pouco de vermelhos e azuis desfocados. (Muirden, J., The Amateur Astronomer's Handbook, Op. cit., p.18).
Aberração esférica
Curvatura do campo Coma Distorção Difracção
Em 1856, Norman Robert Pogson optimizou o tradicional sistema clássico de magnitudes. Verificando que, na escala de grandezas, uma estrela de primeira magnitude era aproximadamente 100 vezes mais brilhante do que uma estrela de sexta magnitude, estabeleceu a escala logarítmica ainda hoje utilizada. Esta implica que uma estrela de magnitude m seja 2,512 vezes mais brilhante que uma estrela de magnitude m+1 (factor de raíz quinta de 100). Este "salto" de 2,512 foi, portanto, escolhido para que uma diferença de cinco magnitudes corresponda a uma diferença de rácio no brilho de exactamente 100 (e.g., uma estrela de 6ª magnitude é 100 vezes mais ténue do que uma de 1ª magnitude). A estrela Vega (Alpha Lyrae) foi utilizada como referência na moderna escala, tendo-lhe sido atribuída a magnitude 0.0. Existem no céu cerca de 9100 estrelas com magnitude inferior a 6,5. Estas são as estrelas visíveis a olho nu. Assim, uma capacidade de captação de luz (equipada) que multiplique por 100x aquela que é possível a olho nu permite detectar 4 ou 5 magnitudes mais ténues (100x equivale a cinco magnitudes). - Tabela com rácios de brilho em função das diferenças de magnitude listadas (Burnham's Celestial Handbook, vol.1; .PDF, 541KB).
As magnitudes são habitualmente arredondadas: Algumas referências e limites aproximados: VÉNUS (máx.): -4 - CLASSIFICAÇÃO QUALIDADE VISÃO/ESTABILIDADE ATMOSFÉRICA (Escala Antoniadi)
As estrelas são classificadas segundo as temperaturas das suas superfícies irradiantes:
- DIAGRAMA DE HERTZSPRUNG-RUSSELL O diagrama de Hertzsprung-Russell (abrev. H-R) mostra-nos as mais importantes classes ou categorias em que as estrelas
foram agrupadas, estendendo-se das mais quentes e brilhantes (em cima à
esquerda) até às mais ténues e com menor temperatura (em baixo à
direita). Algumas estrelas são inseridas como exemplo. Na diagonal
central encontra-se a chamada "Sequência Principal", onde se enquadram
a maioria das estrelas conhecidas. O diagrama
demonstra graficamente a relação entre o raio teorético de uma estrela,
a sua luminosidade e a sua classe espectral (segundo a repectiva
temperatura à superfície).
- Diagrama H-R (Muirden, J., Astronomy Handbook, Arco Publishing, Inc./ Kingfisher Books, Limited, 1982)
N.B.: utiliza-se um "n" no final para assinalar presença de nebulosidade. Exemplo - Messier 29: "III 3 p n" (destacado, com estrelas de diferentes magnitudes, número reduzido de estrelas e nebulosidade associada)
Vide listagem em formato PDF, 208KB)
Em geral, as nebulae (que para os observadores do século XVII englobavam todas as ulteriores categorias, e.g., nebulosas, enxames) foram catalogadas por William Herschel, no seu trabalho pioneiro, segundo diferentes classes (com uma trad. nossa entre parêntesis):
I. Bright nebulae (nebulosas brilhantes) (Um "H" antecedia o número. O sistema, muito cómodo, oferecia ao observador uma descrição preliminar do aspecto do objecto)
As minúsculas são utilizadas na Designação Estelar de Bayer (utilizada pela primeira vez no Uranometria Omnium Asterismorum, Augsburg, 1603); fonte: Johnson, G. & Adler, I., Discover the Stars (Revised and Enlarged Edition), Sentinel Books Publishers, Inc., 1957)
Nota final: a Astronomia Amadora A
astronomia amadora constitui um passatempo gratificante. Como recusar o
convite dessa janela que permite lobrigar objectos tão
distantes e imensos? É baluarte da pura curiosidade científica,
exercício de rigor mas também de contemplação e fascínio, vínculo
cultural ao passado histórico e
mitológico e, incidentalmente, predispõe a uma atitude confiante no futuro. Todos
sabemos que a investigação decisiva, especializada, não está doravante
nas
mãos de amadores. Mas mesmo nesta vertente "útil", parafraseando James Muirden, o objectivo da
astronomia amadora não é descobrir coisas, trata-se em grande parte de
documentar coisas. E há decerto muitas coisas para serem documentadas noite
após noite. Todavia, o interesse parece sofrer um detrimento. Às gerações deslumbradas pelos satélites artificiais e pela ida à Lua, pelo desafio da exploração do Espaço, pela possibilidade de vida extraterrestre e viagens a distantes planetas desconhecidos (e pelas influentes e inúmeras interpretações criativas destes assuntos no âmbito da cultura de massas, e.g., livros, música, filmes, séries, BD, jogos arcade), seguiu-se a rotina, as "imbatíveis" fotografias Hubble (promovendo expectativas inalcançáveis), os efeitos especiais e a ubíqua mediação digital. Resultou em desinteresse. Perdeu-se esse vasto "horizonte de expectativa" e o hobby, consequentemente, envelheceu. As temáticas do Espaço e do Universo deixaram de ser mainstream. Entretanto, os dislates da poluição luminosa "esvaziaram" o céu estrelado, tornando-o opaco, cinza-alaranjado (como nos ambientes pós-apocalípticos do cinema). A adrenalina do gaming e as redes sociais marginalizaram os passatempos tradicionais. Como James Chen referiu: As amateur astronomy entered the new millennium, a downward trend became evident. The hobby was becoming progressively older. Those in the hobby tended to stay in the hobby. But younger people were not attracted to sitting in the night air peering through a telescope. The fascination of the Internet, computer gaming, and social media was far more powerful to the young than any telescope. (Astronomy for Older Eyes: A Guide for Aging Backyard Astronomers, Springer, 2007, pp.5-6). São poucos os que olham para cima, na mais ampla contemplação da natureza, procurando contextualizar o paradeiro da nossa pequena e insubstituível "casa comum". È pena pois esta "ascese do olhar" promove a consciência ecológica e uma sensação de pertença à escala do planeta, bem como uma sensação de "proximidade" com todos os que nele habitam. Carpe Noctem
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