A S T R O N O M I A |
Início |A Esfera Celeste...A Estrutura do Universo...História...Cartografia...Observação...Recursos... |
ligações: história (tópicos) | a era espacial | vida extraterrestre?
"O Princípio da Incerteza" Quanto mais precisa for a medida de uma grandeza (Jorge Sousa Braga, A Matéria Escura e outros poemas, (poesia inédita portuguesa, 173), Assírio & Alvim, Março de 2020)
(Jean-René Roy, L'Astronomie et son Histoire, Presses de l'Université du Québec/Masson, 1982, p.14))
o universo - modelo prevalecente | obstáculos | as componentes escuras e a teoria inflacionária | tipologias | a "teoria de tudo", etc. | o futuro
Como resumiu Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, Universo,
em sentido lato, é o conjunto de matéria e de energia existente no
espaço. Sua conceituação tem variado em extensão, forma e propriedade
ao longo da história da humanidade, de acordo com o seu estágio
científico e cultural. Assim, tal conceito tem traduzido, ao longo dos
séculos, a expressão de um antropomorfismo que, aos poucos, se
transfere para uma concepção cada vez mais abstracta (Da Terra às Galáxias: Uma Introdução à Astrofísica (3ª ed.), Vozes, 1982, p.293) Até
aos anos de 1860 a Astronomia era posicional. O seu múnus era
a determinação precisa dos movimentos dos corpos celestes do Sistema
Solar e reduzi-los minuciosamente segundo a Lei da Gravitação Universal
de Newton. Segundo William Whewell (o polímata do séc. XIX que cunhou o
termo "cientista") e outros autores coevos, esta excelsa ciência havia já alcançado um
elevado grau de refinamento e precisão. Poucos desenvolvimentos impactantes se poderiam esperar. Mas como Jean-Pierre
Verdet referiu, em 1900 ainda desconhecíamos tudo acerca do interior do
Sol e da origem da sua energia. Foi somente em 1908 que o Holandês
Jacobus Kapteyn conseguiu obter uma avaliação correcta da espessura
local da Via Láctea (Kapteyn J. C. (1909) Astrophysical Journal
29, 46 e 30, 284). Entretanto, permanecia a incerteza quanto ao seu
diâmetro e quanto à localização do Sistema Solar no seu seio. (Une Histoire de l'Astronomie, Éditions du Seuil, 1990). A Astronomia "legítima" transformou-se em Astrofísica. O termo é creditado a Johann Carl Friedrich Zöllner, escrevendo em 1865. Os esforços para mapear os espectros dos objectos celestes permitiram alcançar um novo entendimento do Universo, com novos e abismais desafios e complexidades. Assistiu-se a uma "refundação" da própria Astronomia. Segundo Robert W. Smith, não se tratou de uma transformação. Iniciou-se um percurso novo, diferente, enquanto Astrofísica. (Astronomy in the Time of Pannekoek and Pannekoek as an Astronomer of his Times, in: C. Tai, B. van der Steen, & J. van Dongen (eds), Anton Pannekoek: Ways of Viewing Science and Society. Amsterdam University Press, 2019, pp.110 et seq.) Praticamente toda a informação que temos acerca dos objectos celestes é conseguida analizando a energia que estes irradiam: ondas rádio, calor, luz, raios-X e gamma (γ). Tudo tipos de radiação electomagnética, energia que se propaga no espaço sob a forma de onda. Um aspecto interessante é que em encontramos coerência. Como Allan Chapman refere: elementos químicos, leis físicas, luz, ondas rádio, radiação atómica, tudo se relaciona de modo elegante. Por exemplo, as linhas “D” de sódio no espectro tanto podem ser activadas apontando um espectroscópio na direcção ao Sol como queimando uma pitada de sal comum (cloreto de sódio) numa chama.
Heinrich Olbers (1758–1840) havia manifestado uma perplexidade interessante (o "Paradoxo de Olbers"), partindo das premissas de que se o Universo é estático (sem mudança), homogéneo e com uma população "infinita" de estrelas, então deveria ser uniformemente brilhante em todas as direcções em que observássemos. Mas a noite é escura, portanto pelo menos uma das mencionadas premissas deve estar incorrecta. A explicação actualmente aceite é a de que o Universo está em expansão (ou antes, o espaço-tempo expande-se), fazendo aumentar os comprimentos de onda da luz das estrelas e galáxias. A escuridão da noite pode ser tomada como evidência de que o Universo é dinâmico e está em mudança. O modelo padrão actual sustenta-se na hipótese formulada, no início do Século XX, sobre a origem do Universo através do Big Bang (termo cunhado por Fred Hoyle (1915-2001) em 1949, curiosamente enquanto escarnecia da teoria que antagonizou, v. paper do historiador Helge Kragh, .PDF, 192KB), resultando na formação da matéria, do tempo e do espaço. A teoria foi desenvolvida nos anos 50 do século passado por George Gamow (nascido Georgiy Antonovich Gamov, 1904–1968) e seus colegas, a partir das conjecturas "dinâmicas" de Friedmann e Lemaître. A alternativa tradicional: Steady-state model
Relatividade - Termo que designa colectivamente duas teorias, a Relatividade Especial e a Relatividade Geral. A teoria especial da relatividade, publicada em 1905, remete para as Leis da Física como experienciadas por observadores que se deslocam entre si a uma velocidade constante (i.e. não sujeitos a aceleração). Refere como o movimento de um observador relativamente a outro afecta as medições efectuadas por estes. Quando se trata de velocidades pouco elevadas, a relatividade especial reduz-se a situações explicáveis pela física clássica, traduzida pelas "leis do movimento" de Newton. As diferenças entre Newton e Einstein manifestam-se ou tornam-se aparentes somente em velocidades próximas da velocidade da luz. A teoria geral da relatividade (1915) descreve como a relacionação entre espaço e tempo é afectada pelos efeitos gravitacionais da matéria e como espaço e tempo se alteram quando experienciados por um observador num objecto acelerado. A teoria conclui que os campos gravitacionais criados pela presença da matéria determinam que o espaço-tempo se torne curvo. Esta curvatura é responsável pelo movimento dos corpos no espaço. (Ridpath, I. (ed), Oxford Dictionary of Astronomy (2nd ed.), Oxford University Press, 2007, p.417 [trad. nossa]). Curiosamente, por razões filosóficas (como Gerald Holton ou Lewis S. Feuer nos recordam (este último em Einstein and the Generations of Science...,), Einstein preferia e usou até 1911, usando uma expressão de Felix Klein: "teoria da invariância" (Invariantentheorie). Doravante, Velocidade, Tempo e Massa estão em interacção entre si, respondendo-se, i.e. não são absolutos, são relativos. Somente a velocidade da luz é invariável. Da Teoria Geral (1915), retira-se a conclusão de que Massa, Energia e Gravidade possuem a capacidade para distorcer o Tempo em seu redor. (v. infra resumo acerca das implicações das teorias de Albert Einstein). Cabe aqui referir, como curiosidade, que as famosas "viagens no tempo" são, de certo modo possíveis... para o futuro. O chamado "paradoxo dos gémeos", ou "paradoxo de Langevin" (que o enunciou numa tentativa algo precipitada de refutação da teoria), envolve a dilatação temporal, uma das consequências da Relatividade restrita: se alguém fizer uma viagem numa nave a grande velocidade (falamos de velocidades tecnologicamente impossíveis, mesmo muito elevadas, próximas da da luz), voltará mais novo do que seu gémeo que ficou na Terra movendo-se a velocidades quotidianas. Nessa medida, o primeiro "viajou" para o futuro na perspectiva do segundo.
Antes porém, Aleksandr Aleksandrovich Friedmann (1888-1925) havia publicado em 1922 um paper extraordinário, no qual chamava a atenção para a possibilidade de um modelo cosmológico não-estático. Ainda um segundo estudo, igualmente relevante, em 1924, um ano antes da sua morte prematura. O seu trabalho recebeu inicialmente pouca atenção da comunidade científica e o reconhecimento foi póstumo, chegando com a renovação do interesse nestas matérias trazido pelos trabalhos de Georges Lemaitre e H. P. Robertson (1903-1961). Ousado, Friedmann concluia que a “Constante Cosmológica” era uma adenda desnecessária e, no referido artigo de 1922, resolveu as equações de Einstein possibilitando a existência de um cenário dinâmico que virá a acomodar a expansão. O próprio Einstein inicialmente criticou os cálculos de Friedmann mas ulteriormente retirou essas críticas. Na realidade, Friedmann, Lemaitre e outros estavam verdadeiramente na vanguarda e, com uma perspectiva astronomicamente actualizada (sensível aos últimos desenvolvimentos) e muito ampla, foram absolutamente fundamentais na construção do modelo. Einstein somente acompanhará as conclusões que as suas próprias teorias sugeriam após conversar pessoalmente com Edwin Hubble e conhecer as conclusões das investigações feitas em Mount Wilson.
Em 1919, astrónomos Ingleses fotografaram um eclipse total na ilha do Príncipe (arquipélago de São Tomé e Príncipe), e em Sobral (no Brasil), testando a Teoria da Relatividade Geral de Einstein. A iniciativa, liderada por A. Eddington, notável cientista e "Embaixador da Ciência" (G. Abetti, Storia Dell’Astronomia, 1951), promoveu a medição da posição das estrelas em placas fotográficas feitas durante o fenómeno. O procedimento implicou fotografar meticulosamente o enxame das Híades (em cujas imediações acontecerá o eclipse) meses antes, evidentemente durante a noite. As placas obtidas durante o eclipse permitirama comparação com esses registos-base. Verificou-se, como previsto, que a luz estelar ao passar próximo do Sol foi desviada (no grau antecipado, maior do que o previsto na física clássica) pela gravidade do astro, determinando alterações na posição aparente das estrelas, cuidadosamente medidas (pois são pequeníssimas). Foi a primeira confirmação observacional da revolucionária teoria e a partir daí Einstein tornar-se-á uma celebridade. Sir Arthur S. Eddington (1882-1944) foi um cientista de vanguarda. Segundo Jean-René Roy, Eddington ...influencé le développement des idées dans plusieurs branches de l’astrophysique. Il a expliqué la nature des étoiles naines blanches, la relation entre la masse et la luminosité des étoiles, et proposé la fusion thermonucléaire comme source d'énergie dans les étoiles. (L'Astronomie et son Histoire, Presses de l'Université du Québec/Masson, 1982., p.295)
A Espectroscopia está na base da Astrofísica moderna. A natureza cromática da luz foi inicialmente demonstrada por Isaac Newton em 1666. Codificada nas linhas espectrais está a composição química, temperatura e pressão de qualquer objecto astronómico com luz própria. É particularmente útil em combinação com o efeito Doppler-Fizeau (fenómeno físico observado nas ondas quando emitidas ou refletidas por um objecto que está em movimento em relação ao observador. Descrito teoricamente pela primeira vez em 1842 por Christian Doppler, todos o conhecemos acusticamente: por exemplo ao escutar o som - que é uma onda mecânica - emitido por um veículo que passa em alta velocidade. O observador percebe que o tom, em relação ao original, fica mais agudo na aproximação, é idêntico no momento da passagem e mais grave quando o veículo se afasta).
Isaac
Newton foi o primeiro a espalhar o 'espectro' das diversas cores
contidas na luz branca do Sol, em 1664. Em 1814, Joseph von
Fraunhofer fez passar a luz do Sol e de algumas estrelas através de um
espectrógrafo (basicamente um prisma que divide a luz nas cores do
espectro, capaz de decompor a luz proveniente das estrelas nas suas
cores e projetá-las numa figura característica. A cada cor corresponde
um comprimento de onda). Verificou que os espectros incluiam a presença
de centenas de linhas ("linhas de Fraunhofer"), decerto significativas.
Mas somente em 1859 e 1860 é que Gustav Kirchhoff (cujas 'leis' formam
a base da espectroscopia) e Robert Bunsen
demonstraram que cada elemento químico produzia padrões característicos
no espectro. As linhas brilhantes a emissão, as escuras a absorção
pelo elemento químico particular, i.e. pelos elemento em presença no corpo estudado. Uma das aplicações mais úteis
foi descoberta em 1868 por William Huggins, primeiramente estudando a
estrela Sirius. Inspirado no trabalho de Christian Doppler (que
descobriu o já referido fenómeno físico observado nas ondas quando emitidas ou
refletidas por um objecto que está em movimento relativamente ao
observador),
concluiu que o deslocamento espectral explicava a direcção e velocidade
do movimento da fonte estelar em relação a nós (na direcção do vermelho
denunciava o afastamento, na do azul a aproximação). Edwin Hubble
aplicará este método às galáxias. Alguns "baluartes"
da razão, como Auguste Comte (1835) e George Biddell Airy (1857)
haviam declarado que poderíamos conhecer alguns aspectos (e.g.,
os movimentos) mas nunca a composição das estrelas. Rápida e
espectacularmente, como vimos, se provou estarem completamente errados. A escala do Universo alterou-se definitivamente nos anos 50 do século passado quando Walter Baade (no observatório do Monte Palomar) e A. D. Thackeray (utilizando o telescópio Radcliffe em Pretória) descobriram que Hubble subestimou as distâncias, i.e.errou no cálculo das distâncias inter-galácticas e assim o "Tempo de Hubble" expandiu-se repentinamente por um factor de 5 ou 10 vezes. Consequentemente, a idade do Universo também se dilatou. Incidentalmente, foi Baade (1893-1960) quem, juntamente com Fritz Zwicky, cunhou os termos "supernova" e "estrela de neutrões". Usando novos dados, Allan Sandage (1026-2010) recalculou sucessivamente a Constante de Hubble (a equação que traduz o fluxo da Expansão, i,e. valor actual do parâmetro Hubble H, ou parâmetro Hubble-Lemaître, constante de proporcionalidade existente hoje entre a distância e a velocidade aparente de recessão das galáxias do Universo observável). Em 1970, Sandage estimou um valor que era 1/9 do original de Hubble, com consequências profundas para a idade e consequente dimensão do Universo. Entre outros contributos decisivos refira-se o de Meghnad Saha (1893-1956), astrofísico indiano que desenvolveu uma equação de ionização (conhecida pelo seu apelido), usada para descrever as condições químicas e físicas das estrelas. Argumentou que o primeiro determinante do espectro estelar é a temperatura, o segundo factor é a pressão. O trabalho de Saha permitiu relacionar com precisão as classes espectrais de estrelas com suas temperaturas reais.
"Compreende-se que todos estivéssemos ali, disse o velho Qfwfq, e onde mais poderíamos estar? Ninguém sabia ainda que pudesse haver o espaço. O tempo, idem; que queriam que fizéssemos do tempo, estando ali espremidos como sardinha em lata? Disse “como sardinha em lata” apenas para usar uma imagem literária; na verdade, não havia espaço nem mesmo para estar espremido. Cada ponto de cada um de nós coincidia com cada ponto de cada um dos outros em um único ponto, aquele onde todos estávamos. Em suma, nem sequer nos importávamos, a não ser no que respeita ao caráter, pois, quando não há espaço, ter sempre entre os pés alguém tão antipático quanto o sr. Pbert Pberd é a coisa mais desagradável que existe.(...)" (Excerto de Tudo num Ponto (.PDF, 92KB), Italo Calvino, "As cosmicômicas", Companhia das Letras, 1992 [Le cosmicomiche. 1965], trad. Ivo Barroso; existe edição da Teorema ("As Cosmicómicas") datada de 1993)
O Modelo A construção teórica responde satisfatoriamente a um elenco abrangente de fenómenos observados: - a já referida expansão (comprovada pelo redshift (z) das galáxias distantes. É a alteração na forma como a frequência das ondas de luz é observada no espectroscópio em função da velocidade relativa entre a fonte emissora e o receptor (assumindo invariância da velocidade da luz no vácuo), habitualmente descrito numa analogia com o Efeito Doppler para se tornar facilmente inteligível, apesar de aqui se tratar de algo completamente diferente, uma vez mais é o espaço-tempo que se "gera", observando a chamada Lei de Hubble); [Um dos mais comezinhos efeitos das distâncias e velocidades em presença no nosso Universo actual é a chamada Aberração da Luz. Esta produz um movimento aparente de objectos celestes nas proximidades de suas localizações, dependendo da velocidade do observador. Aquela que se observa nas estrelas é um efeito do movimento do nosso planeta. É habitualmente utilizada a analogia da chuva que parece cair perpendicularmente ou com inclinação, dependendo, respectivamente, se estamos parados ou em movimento. Depende do rácio entre a velocidade (constante) da Luz e a do nosso planeta. O movimento da Terra é ligeiramente elíptico, o que faz com que as estrelas também descrevam uma elipse correspondente, mas minúscula, anualmente. Amplitude depende da posição da estrela na esfera celeste, mais excêntrica no plano da Eclíptica. Nunca ultrapassa cerca de 20" e pode ser infinitésimal.] - a estrutura em larga escala (o Universo é homogéneo e isotrópico), v. supra definição do Princípio Cosmológico, - a prevalência e abundância dos chamados elementos leves (e.g., Hidrogénio, Hélio, Lítio); - a chamada radiação de fundo micro-ondas (CMB), a chamada "relic radiation", dos primórdios (descoberta acidentalmente em 1964 pelos radioastrónomos Arno Penzias e Robert Woodrow Wilson). A célebre frase “olhar para longe é olhar para o passado” alcança a sua máxima relevância neste contexto. Emitida somente 300000 anos após o Big Bang, é a coisa mais antiga que podemos conhecer.
COBE A missão do Cosmic Background Explorer (1989-1993) teve como objectivo mapear a radiação cósmica de fundo do Universo, a luz mais antiga que existe! A radiação
cósmica de fundo é um ruído cosmológico, evidência de uma época em que o universo era muito novo.
Este mapa coligindo dados recolhidos entre 1990 e 1992, recebeu imensa publicidade mas foi sucedido por outros mais precisos, resultantes da totalidade dos dados recolhidos ao longo dos 4 anos da missão. (NASA) Se a expansão tivesse sido uniforme, como explicar a heterogeneidade da distribuição da matéria ou a formação das galáxias? Esta missão parece ter encontrado respostas: as minuciosas diferenças de temperatura detectadas e rigorosamente medidas parecem estar relacionadas com ligeiras variações de densidade no universo arcaico, que deram origem às estruturas que hoje conhecemos, aos enxames de galáxias bem como, em contraponto, a amplas regiões vazias. (v. infra referência à extensa pesquisa ulteriormente efectuada pelo satélite WMAP) Relatividade... Na exímia síntese de Stephen Hawking, na "Breve História do Tempo..." (A Brief History of Time - From the Big Bang to Black Holes, Bantam Dell Publishing Group, 1988), "As leis do movimento de Newton acabaram com a ideia da posição absoluta no espaço. A Teoria da Relatividade acaba de vez com o tempo absoluto". Com Einstein, cada observador passou a medir intervalos de tempo diferentes entre os mesmos acontecimentos, consoante a sua própria velocidade. Cada um passou a ter o seu próprio Tempo!
Uma dúvida persistente é se a expansão do Universo é indefinida ou se é cíclica, ocorrendo um abrandamento progressivo que, em última análise, pressupõe uma contracção que conduzirá ao colapso (Big Crunch) e a um novo Big Bang (Universo Oscilatório ou Oscilante, sugerido por Friedmann e investigado nos seus detalhes por Richard Tolman, 1881-1948). Em causa está a massa total: se esta for menor do que um determinado valor, a expansão prosseguirá indefinidamente (como parece indicar o resultado das pesquisas da sonda WMAP): The Fate of the Universe (disponível versão .PDF, 47KB, arquivada do original) A extensa pesquisa da radiação cósmica de fundo levada a cabo pela sonda WMAP
(entre 2001 e 2010) teve um papel fundamental na consolidação da actual
perspectiva cosmológica. Assim, o modelo "Lambda cold dark matter" (Lambda-CDM ) é o mais simples capaz de explicar:
"What boundary may be set to creation we know not, but we can trace it far enough to perceive that, as far as our senses are concerned, it cannot be distinguished from absolute infinity." (Webb, T. W., Celestial Objects for Common Telescopes, Longman, Green, Longman, and Roberts) As
interpretações teológicas e filosóficas são interessantes. O longo e
intrínseco percurso das implicações teológicas das investigações
astronómicas é inseparável nas suas origens. A amplitude do projecto
conduz, amiudadamente, ainda hoje, a considerações onde se invoca
"Deus" (a sua "mente", a sua "partícula", a sua "fórmula", etc.). Parece inevitável,
uma verdadeira tentação, tanto dos próprios cientistas como
jornalística. J. D. North escreveu:
Segundo Mario Novello, conhecido cosmologista e antagonista do modelo prevalecente, a polpularidade da teoria do Big Bang pode ser atribuída ao facto de "confirmar" ou, pelo menos, não contrariar as explicações religiosas de que o Universo foi criado por Deus. Sabemos como o papa Pio XII procurou, de início, capitalizar a teoria como "dogma" de fé, e o honesto desconforto e intervenção pessoal de Lemaître. Na perspectiva de Stephen Hawking, estamos num Universo "sem limites no espaço, sem principio nem fim no tempo, e sem nada para um Criador fazer" (Breve História do Tempo..., trad. portuguesa de Ribeiro da Fonseca; vide prefácio de Carl Sagan). Noutro registo, o astrofísico e divulgador Neil deGrasse Tyson, comentando teorias com implicações no âmbito da tecnologia e Inteligência Artificial, não encontra um argumento válido que refute a hipótese de que podemos, com elevada probabilidade, estar a viver uma engenhosa experiência ou simulação criada por "alguém" (aceder). E acrescenta numa entrevista: "The universe is under no obligation to make sense to you" (ver). Em causa o argumento da simulação (.PDF, 234KB) de Nick Bostrom, da Universidade de Oxford. O matemático David Orrell também acredita existirem evidências de que vivemos uma realidade virtual (Truth or Beauty: Science and the Quest for Order, Yale University Press, 2012). Encontramos prestigiosos antecedentes no "Sonho da Borboleta" taoísta de Zhuang Zhou, a.k.a. Chuang Tzu (adaptado por Lovecraft em Polaris, por Queneau, “o célebre apólogo chinês” e por Jorge Luis Borges na sua “Nova refutação do tempo”) ou no conceito Hindu de Maya, "Ilusão". Descartes também utilizou uma metáfora relacionável, o "génio maligno", mas deixou autonomia para o cogito. Os cinéfilos conhecem "The Matrix", de Lilly e Lana Wachowski (ou, melhor ainda, a sua "inspiração" algo simétrica: Ghost in the Shell, Mamori Oshii, 1995) e "Existenz" (David Cronenberg).
"The Universe begins to look more like a great thought than a great machine" (Sir James Jeans, The Mysterious Universe) "O tempo é a substância de que sou feito. O tempo é um rio que me arrasta, mas eu sou o rio; é um tigre que me destroça, mas eu sou o tigre; é um fogo que me consome, mas eu sou o fogo" (Jorge Luís Borges, "Nova Refutação do Tempo", Obras Completas, II, 144)
Entretanto, o modelo foi desafiado por algumas questões "embaraçosas". Hawking elencou-as na supracitada obra de divulgação: 1) Por que motivo era o Universo tão quente no princípio? A perspectiva "inflacionária" procurará responder a algumas das pertinentes questões colocadas.
Um ponto indivisível que às vezes fica nu (Jorge Sousa Braga, A Matéria Escura e outros poemas)
As componentes Escuras e a Teoria Inflacionária Deduzida dos estudos dinâmicos, é a diferença entre a massa observada de certas estruturas do Universo e a massa dessa estrutura calculada a partir do movimento das galáxias que a constituem e do princípio da gravidade universal. A verificação indirecta resultante do comportamento gravitacional "inesperado" de galáxias no seu deslocamento ou colisão é, na perspectiva actual, somente compreensível na presença de uma grande quantidade de matéria não directamente “observável”, que deverá interagir muito, mesmo muito pouco com a matéria e radiação conhecidas, excepto através da gravidade. Como resume José Sande Lemos, do IST: "sabe-se o que faz, mas continua sem se saber o que é." (Visão, 09.10.2019). Esta dunkle materie ("matéria escura") foi formalmente inferida pela primeira vez em 1933 por Fritz Zwicky (Die Rotverschiebung von extragalaktischen Nebeln, Helvetica Physica Acta, 6: 110–127), a partir dos desfasamentos relativamente à (suposta) massa em presença que verificou no estudo das velocidades medidas em galáxias do enxame de Coma Berenices. No chamado modelo de concordância “Lambda.CDM” (Lambda-Cold Dark Matter), que explica a existência da chamada radiação de fundo (prova determinante do Big Bang e da idade do Universo), assim como a estrutura em grande escala e as observações efectuadas do comportamento das supernovas, a “matéria escura” (ou “matéria negra”) deverá constituir 85% da massa, somando com a “energia escura” 95% da massa-energia do Universo! Todavia, alguns astrofísicos procuram explicações alternativas (vide Hossenfelder, S.; McGaugh, S. (Aug. 2018). Is dark matter real?. Scientific American. 319 (2): 36–43). Neste âmbito, podemos referir os neutrinos, enigmáticas partículas que manifestam apenas uma ténue interacção com a matéria e, consequentemente, quando produzidos por reacções nucleares nas estrelas podem escapar se colidirem com o material circundante. Podem ser responsáveis por parte da matéria escura do Universo. Como Jay Pasachoff explicou relativamente ao Sol, apesar de a radiação electromagnética como os raios gama ou a luz não chegar até nós directamente a partir do centro do Sol, há um tipo de partícula subatómica que o faz (o neutrino). Como o seu nome sugere, é uma partícula pequena e "neutra" que não interage com o campo magnético solar. De facto, quase não interage com a matéria. Mas são formados no interior da estrela, onde esta gera a sua energia. (The Complete Idiot's Guide to the Sun, Alpha Books, 2003, pp.35-37 [trad. nossa]). Porque há vários "tipos" de neutrino e evidências de que estes sofrem alterações, os físicos consideram que os neutrinos devem ter alguma massa. As mencionadas alterações ou "mutações" são desafiadoras, no contexto da física das particulas elementares. Este é um notório problema/enigma: será o Universo esmagadoramente composto por matéria diferente da “vulgar” (bariónica, i.e. formada basicamente pelos habituais protões e neutrões; a que compõe tudo o que "conhecemos", o nosso corpo, uma abóbora, um pneu ou os planetas)? Segundo Domingos Sávio de Lima Soares (aceder), o perfeito entendimento (e detecção) destas componentes "escuras" será vital para a própria sobrevivência do modelo. O ponto 2 dos supramencionados "obstáculos" define o problema do horizonte (às vezes chamado problema da homogeneidade), sinalizado no final dos anos 60. Se diferentes regiões do Universo não "entraram em contacto" entre si devido às enormes distâncias, como compreender que tenham a mesma temperatura e outras propriedades físicas? Não devia ser possível, uma vez que a transferência de informação (energia, calor, etc.) pode acontecer, no limite, à velocidade da luz. Outra dificuldade é o entendimento da chamada "Singularidade", do "ponto de partida" de um Universo comprovadamente em expansão (o ponto de gravidade e densidade infinitas, ab initio): tudo se terá iniciado no desconhecido e no inexplicável ponto onde todas as Leis da Física, como a conhecemos, não se aplicam (o chamado Tempo de Planck). É insondável, a Relatividade aqui não funciona, somente explicável através de uma qualquer teoria quântica da gravidade que ainda não existe. A teoria básica do Big Bang baseia-se na Teoria Geral da Relatividade, que pode descrever o que acontece depois e não antes da Singularidade. Com a Teoria Inflacionária, passamos a ter duas "teorias do Big Bang", e apenas uma pode estar correcta! A alternativa sugere que o nascimento do Tempo e do Espaço deverá ter acontecido mais cedo, antes do "Bang", como parte de uma fase inflacionária quando o Universo não era dominado pela matéria e radiação mas por uma energia inerente a si mesma (ainda invisível e hipotética, somente conhecida pelos seus efeitos), a já referida "energia escura". Originalmente desenvolvida nos finais dos anos 70 e inícios dos 80 por Alexei Starobinsky, Alan Guth e Andrei Linde, esta variante propõe uma expansão exponencial num estágio primordial, logo após o Big Bang, antes da fase dominada pela radiação. Os modelos inflacionários têm como objectivo resolver os problemas que o Big Bang coloca (v. supra): homogeneidade para determinadas separações angulares da radiação cósmica de fundo, a chamada "planaridade" (relacionado com a densidade crítica, o valor atual do parâmetro de densidade é muito próximo da unidade; um desvio inferior determinaria um universo quase vazio, um desvio superior um universo efémero que não teria chegado a esta provecta idade), a ausência dos previstos monopólos magnéticos (partícula elementar hipotética, estável e pesada, que se comportaria como um íman com pólo único), previsíveis nas condições em presença nos primeiros estágios do Universo primitivo, etc. Em resumo, o Big Bang
"simples" criaria um Universo diferente, mais assimétrico, heterogéneo e
"confuso". Daí a pertinência desta curta fase. A aceleração
inflacionária deveu-se a um campo escalar hipotético que permeava todo
o espaço-tempo, designado "inflatão" na moderna teoria. Em
presença estaria um tipo "exótico" de matéria com efeito gravitacional
repulsivo (qualitativamente equivalente à chamada "energia escura"),
num ambiente de grande pressão negativa (a matéria "vulgar" tem, pelo
contrário, pressão positiva). Um processo de superesfriamento que
elevou exponencialmente a dimensão do horizonte causal e permitiu a
aniquilação de partículas doravante não detectadas. Tudo foi
homogeneizado e o modelo também prevê um espectro de perturbações de
densidade que dá origem às galáxias, com a óbvia consequência do que
somos e conhecemos. Neste modelo o Universo cresce por um curto período até
estabilizar no actual ritmo de expansão. O "bang" pode até nem ter
acontecido; a primeira matéria pode ter-se formado como uma flutuação
fortuita no vazio preexistente (Pasachoff, Jay M., Stars and Planets, (4th ed.), Houghton Mifflin Company, 2000, p.185). O cenário inflacionário resolve dificuldades, nomeadamente porque é que o Universo é tão vasto, tão uniforme e quase "plano". Daí o sucesso deste "complemento", doravante integrando quase todos os actuais modelos teóricos do Big Bang: o surto de crescimento inicial e exponencial que teria tornado o Universo enorme, suave e plano. antes que a gravidade tivesse a oportunidade de destruí-lo. Depois dessa fase, a inflação diminui, a sua energia converte-se em matéria e radiação e a expansão continua a um ritmo menor.
Velocidades... É costume referir que, na fase inflacionária, a expansão "ultrapassa" a Velocidade da Luz no vácuo ("c", cuja limitação se aplica a tudo o que está "dentro" do Universo, tratando--se de uma constante absoluta da Física). Na realidade, trata-se de um equívoco. O chamado "superluminal motion" é uma aparência do movimento na direcção do observador. Em todo o caso, a Expansão do Universo não tem uma “velocidade”. Quando as galáxias não estão muito longe, podemos medir seus redshifts cosmológicos e retrospectivamente definir uma “velocidade aparente”. Simplesmente não existe algo como a “velocidade”, entre dois objetos que não estão localizados no mesmo lugar. Na expansão do espaço, a distância é uma quantidade dinâmica que se altera com o tempo. A expansão do Universo é quantificada pela Constante de Hubble (uma constante de proporcionalidade da relação entre as velocidades das galáxias remotas e as respectivas distâncias). A "nossa" velocidade, por outro lado, é distância/tempo. Não são noções compatíveis! A aparente velocidade cosmológica não é mensurável como uma velocidade real. Na expansão é o factor de escala que caracteriza a distância relativa entre os pontos "comóveis" no espaço. A expansão do Universo é um "crescimento" do próprio espaço-tempo, sem lugar preferencial ou ponto de partida.
O contraditório A variante Inflacionária, acima mencionada, é decerto bem sucedida. Todavia, segundo algumas interpretações, os resultados obtidos pelo telescópio espacial Planck (ESA, 2009-2013) parecem não comprovar a inflação cósmica e “descartam” esse processo essencial para o actual modelo do Big Bang. Paul Steinhardt, da Universidade de Princeton afirma que a inflação não é a explicação simples e convincente que todos procuram. "O problema mais profundo é que, uma vez que a inflação começa, não termina da forma como os cálculos simplistas sugerem". Acrescenta que "em vez disso, devido à física quântica, ela leva a um multiverso, onde o Universo se divide num número infinito de fragmentos. ("Teoria dos multiversos ganha força", Redacção do sítio Inovação Tecnológica - 29/09/2014) Em contraposição, e adaptando um desenho conhecido, alguns teóricos sugerem de novo modelos "oscilatórios" ou "cíclicos". O Big Bounce, por exemplo, evita o "terror" que é a singularidade (através de "non-singular bounce solutions") e descarta a necessidade do período inflacionário. Neste modelo cíclico, o "universo anterior” entra em colapso e compacta-se, as suas irregularidades são eliminadas e dá-se uma regularização antes do recomeço (v. artigo, Quanta Magazine). De facto, surgiram diversas variantes, cujas arquitecturas procuram constituir alternativa ao cenário prevalecente. A de Steinhardt-Turok, por exemplo, descreve um Universo "explodindo na existência" não somente uma vez, mas repetidamente no tempo; ver overview .PDF, 527KB), etc.
Vamos rapidamente percorrer algumas das alternativas de resposta ao "desafio" cosmológico: - Flutuações Quânticas e Energia de Vácuo. Baseia-se na manifestação temporária de partículas de energia fora do espaço vazio, como permitido pelo Princípio da Incerteza de Werner Heisenberg. Quando o estado fundamental de uma partícula é atingido, estado de energia mínima, chamado "estado fundamental", observado rotineiramente em processos envolvendo colisões de partículas, a flutuação de energia transforma-se em matéria. Daqui a extrapolação para a cosmogénese. - a chamada "Brane Cosmology" (baseada na Teoria das Cordas (v. infra), que procura harmonizar a interacção gravitacional com o mundo quântico, visando abordar vários enigmas teóricos, e.g., como é que a gravidade funciona para objetos minúsculos como electrões e fotões? Todavia, esta abordagem acarreta complexidades matemáticas: não funciona nas quatro dimensões familiares (três do espaço e uma de tempo), exigindo mais seis dimensões adicionais! Aqui, o Universo é como um holograma, no qual a realidade física em espaços 3D pode ser reduzida matematicamente a projecções 2D nas suas superfícies). - "Eternal Inflation Theory", na qual a dinâmica inflacionária termina confinadamente/localmente e novos "universos-bolha" vão surgindo aleatoriamente. - "Hartle-Hawking state", teoria na qual somente o espaço (e não o tempo) existia ab initio, o Big Bang representando um limite para o tempo mas sem "singularidade" (Universo auto-suficiente). O Universo primitivo tinha uma "fronteira", e isso permitiria previsões científicas mais fiáveis sobre sua estrutura.
1. 2. 3. (Jorge Sousa Braga, A Matéria Escura e outros poemas)
Na conclusão desta brevíssima resenha, devemos reconhecer que a chamada "Cosmologia pré-Big-Bang" é puramente especulativa. Em rigor, nada sabemos acerca de algo como uma "origem". James E. Peebles (Nobel da Física em 2019) afirma claramente: "It's very unfortunate that one thinks of the beginning whereas in fact, we have no good theory of such a thing as the beginning." (Hooper, Dan (12 Oct. 2019), "A Well-Deserved Physics Nobel - Jim Peebles's award honors modern cosmological theory at last"). Percorremos algumas opiniões do renomado Físico, que refere que o termo "Big Bang" é bastante inapropriado: "(...) conota a noção de um evento e uma localização, os quais estão completamente errados", acrescentando que não há evidências concretas de uma explosão gigante. Argumenta que somente deve ser validado o que está no âmbito do escrutinável, após cientificamente testado. É, consequentemente, céptico relativamente às teorias desprovidas de demonstração e não testadas que elucubram acerca do que está para além, nessa "pretérita fase misteriosa" ("the mysterious phase before"). Afirma todavia que "possuímos uma teoria bem testada, desde os primeiros segundos após a Expansão até ao estado actual do Universo". Relembra que "os mais antigos 'fósseis cosmológicos' são a criação do hélio e outras particulas como resultado da nucleossíntese, quando o Universo era muito quente e muito denso". No que diz respeito à Inflação ("inflation model"), considera que é uma bela teoria mas as evidências empíricas são muito escassas: "It's a beautiful theory. Many people think it's so beautiful that it's surely right. But the evidence of it is very sparse". (fontes: phys.org; tradução PT-BR, G1.Globo.com; aqui em .PDF, arquivado dos originais, 162KB)
...Se mesmo o positivo é sonho e controvérsia (Jorge de Lima, XIV Alexandrinos)
O problema central é a incompatibilidade, as diferenças no seu âmago: enquanto a relatividade geral e a física da gravidade explicam o "espaço-tempo" como uma estrutura geométrica curva e escorreita (como uma "folha de borracha" maleável e flexível, determinada pela gravidade que em tudo actua), a teoria quântica tem no seu núcleo algo como o "Princípio da Incerteza" (Werner Heisenberg, 1927), que define que não há como medir precisamente as partículas quânticas, como átomos e moléculas, quando estudadas em sistemas de escalas reduzidas, restando o cálculo das probabilidades de onde e como os mecanismos se comportarão. No universo "micro" há, portanto,sempre um grau de imprecisão. O estudo do problema da origo (se o Universo teve ou não uma "origem") ou a sua origem assumida segundo o modelo prevalecente num Big Bang exige a combinação das duas vertentes: o começo numa "dimensão de Planck" ou escala infinitesimal (até na perspectiva de uma escala ao nível atómico), matéria, energia e a ulterior criação do espaço tempo.
O "Multiverso" e a tal String theory. Ficção científica? Multiverso Mysteries remain: Was this Big Bang really the start of everything, or is our universe just one inflating bubble in a much larger multiverse? (Jo Marchant, The Human Cosmos: Civilization and the Stars. Dutton, 2020, ix) As diversas especulações do chamado "Multiverso" estão relacionadas com o princípio antrópico
(não entendido aqui etimologicamente mas sim no sentido lato de vida
cognoscente ou inteligente). Num dos inúmeros "universos" possíveis,
decerto seria uma realidade.
Talvez
aqui se aplique o que Allan Chapman refere acerca das imaginativas
"realidades alternativas" da ficção científica, na qual a Física é
deixada de lado:
"But we have to be careful never to conflate science fact, measured,
tried, and tested, with science fiction. Hollywood and other branches
of the media entertainment industry have created a whole new
“alternative reality” for many people worldwide, and Star Trek,Star
Wars, Doctor Who, and similar space fantasy creations have come to be
elevated to religious cult dimensions. In this never-never world,
characters may hop from star to star, or galaxy to galaxy: may
materialize, dematerialize, and cross infinities of time and space at
the flick of a switch; but let us remember that this is not physics.
Nor should we lull ourselves into thinking that what we might summon up
with our imagination stands the remotest chance of becoming physical
reality. I fully admit that no one knows what we will discover in 100
or 500 years’ time, but what has been a sheet anchor to astronomy over
the centuries has been an emerging and beautifully integrated body of
ideas called the laws of physics. Think of Roger Bacon and the optical
physics of the rainbow in c. 1260, William Gilbert and terrestrial
magnetism in 1600, Kepler’s Laws of Planetary Motion, 1609–18,
Newtonian gravitation, Faraday’s electromagnetism of 1831, Clerk
Maxwell’s energy equations, the electron and neutron parts of the atom,
Einstein’s relativity, quantum, Lemaître’s expanding universe, and
radio waves. Each stands upon its predecessors not merely in a purely
intellectual, but also in an observational, experimental and
substantive tradition, and can be tested and verified by anybody, of
any nationality, in the international market-place of science. Between
them, they form the “laws of science”, and within their rich
explanatory structure I can see no room for the space fantasists’ world
being anything other than a fantasy." (Comets, Cosmology and the Big Bang - A History of Astronomy from Edmond Halley to Edwin Hubble, Lion Hudson, 2018, ch. 29) Cordas... Seriam "cordas" unidimensionais (na realidade, tubos de espessura infinitesimal) em vez de partículas sem dimensão. Os seus diferentes "estados vibratórios" determinariam (como as cordas de um violino emitem as diferentes notas) as propriedades das diferentes partículas constituintes da matéria, sejam quarks, electrões, etc. Resumimos doravante um artigo de Mariane Mendes (brasilescola.uol.com.br/fisica/teoria-das-cordas.htm). (...) Apesar do sucesso
dessas teorias (a Relatividade
Geral, de Albert Einstein, e a Física Quântica), elas deixaram algumas questões em aberto. Primeiro, a
relatividade geral não consegue explicar a teoria do Big Bang
nem o comportamento dos buracos negros. Em segundo lugar, a Física
Quântica não oferece uma explicação satisfatória para a gravitação. fonte: brasilescola.uol.com.br/fisica/teoria-das-cordas.htm (aced. Dez.2023)
Ao
afirmar que tudo o que forma o universo é constituído de uma única
forma, a teoria das cordas consegue hipoteticamente unificar todas as
teorias da Física. Já que todas as partículas que formam a matéria são
formadas por apenas uma entidade, todas elas podem ser explicadas por
apenas uma teoria. É por isso que a teoria das cordas também pode ser
chamada de teoria de todas as coisas (Theory of Everything - TOE). Voltemos à Física! Neste momento, o Universo está repleto de estrelas. Parece algo óbvio mas nem sempre foi assim e também não será no futuro distante. Como David Harper explica (A Brief History of the End of the Universe, in: Yearbook of Astronomy 2023, David Jones (ed.) Pen & Sword Books, 2022), vivemos num período a que os cientistas chamam "Era das Estrelas" (Stelliferous Era). As primeiras estrelas (que os astrofísicos designam de modo pouco intuitivo Population III) formaram-se meio milhão de anos após o Big-Bang e eram constituídas somente por hidrogénio e hélio, únicos elementos então existentes. Geralmente efémeras, foram estas que no seu rápido colapso forneceram ao Universo os elementos pesados (e.g., oxigénio, carbono, ferro; em Astrofísica, qualquer elemento para além do hidrogénio e do hélio é designado um metal), aproveitados pelas gerações estelares seguintes. Após algumas gerações (o Sol pertence à terceira), o hidrogénio eventualmente acabará e esta Era chegará ao final. Se, como algumas teorias preconizam, os protões forem instáveis, a própria matéria bariónica (ou "normal") colapsará e decairá em fotões, numa larga escala de tempo. Quando o buracos negros das galáxias "evaporarem", entraremos numa Era Escura... será o final. Também o astrofísico Martin Rees descreve o devir do Universo (citado em Henbest, N., & Couper, H., The Story of Astronomy, Cassell Illustrated, 2012, pp.196-97): "Suppose
we look ahead to when the Universe is a hundred billion years old. It
will be a dull and dark place, because all but the faintest and most
slow-burning stars will have died, leaving dead remnants like white
dwarfs, neutron stars, or black holes. Now, let’s go ahead to when the
Universe is, say, a trillion, trillion years old: all the stars will
have died, and the Universe wouldbe very, very dispersed indeed.". Nem os átomos nem os próprios buracos negros são eternos: “They
gradually decay. If you waited a number of years — actually, one
followed by about 35 zeros — all the dead stars would erode away. You
still have dark matter and black holes. But we believe that even black
holes don't live forever, and eventually evaporate.". Quanto ao futuro
mesmo, mesmo longínquo: "When the Universe is so old that — in years —
it’s one followed by 100 zeros, even the biggest black holes will
probably have gone. Then the Universe will just be very, very dilute
radiation and dark matter, plus nothing else but a few electrons and a
few positrons, and that’s all. And in that state, the Universe can go
on expanding for the infinite future."
Com o auxílio do instrumento MUSE (Multi Unit Spectroscopic Explorer), composto por 24 espectrógrafos que trabalham em conjunto e montado no VLT (Very Large Telescope) da ESO
no Chile, foi levado a cabo o rastreio espectroscópico mais profundo
realizado até à data. Activo desde 2014, o MUSE consegue obter milhares
de imagens em muitas cores diferentes simultaneamente, ou seja, obter
ao mesmo tempo uma quantidade de espectros numa ampla parte do céu.
Isto significa que os astrónomos podem, por exemplo, observar uma
galáxia e obter informação espectral de todas as suas regiões. A partir
dos espectros, conseguem, por exemplo, determinar a composição química
da galáxia, informação crucial para compreendermos como é que os
elementos que nos compõem se formaram. Esta imagem ilustra a observação
detalhada de regiões do chamado "Campo Ultra Profundo" previamente
explorada pelo Hubble Space Telescope. (ESO/MUSE Consortium/R. Bacon)
[voltar] |