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o sol e os planetas | a lua | os asteróides | os cometas | os meteoróides | os exoplanetas
O
sistema inclui oito planetas que orbitam
em torno do Sol com os seus satélites: Mercúrio,
Vénus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Neptuno. Plutão é
considerado como pertencendo à categoria "planeta anão" pela UAI (União
Astronómica Internacional). Além destes, fazem parte do sistema os
cometas e os asteróides (o termo, inventado por W. Herschel para
minimizar as novas descobertas, é equívoco e inadequado; "planetóides",
proposto por G. Piazzi para Ceres e Pallas, entretanto descobertos,
seria obviamente mais adequado). O Sol está no centro. A chamada nuvem de Oort
envolve todo o Sistema Solar como uma bolha gigante, remanescente da
formação dos sistema. Acredita-se que se situa a cerca de 50000 UA
("unidade astronómica", distância média Sol-Terra). É povoada por
planetesimais voláteis. Não se conseguindo uma observação directa da
"nuvem", acredita-se que interferências orbitais precipitem alguns dos
objectos para o interior do sistema, sendo a origem de muitos cometas,
particularmente os de longo curso. Origem A chamada nebulosa solar foi a nuvem de gás e poeira a partir da qual o sistema se terá formado há cerca de 4,6 mil milhões de anos. Acredita-se que a "nuvem" assumiu a forma de um disco achatado, dispersando-se por acção do violento fluxo do vento expelido pelo proto-Sol (que seria uma estrela muito jovem e com pouca massa, do tipo a que os astrofísicos chamam T Tauri, eruptivas e variáveis muito instáveis). Estaria no centro do disco gasoso em rotação, com os planetas a condensarem-se gradualmente a partir de matéria dos "anéis" mais afastados. Os cometas, os asteróides e os meteoritos, pela sua origem concomitante, disponibilizam importantes pistas quanto à composição dessa nebulosa primitiva. Trata-se, no fundo, de um refinamento da Hipótese Nebular inicialmente proposta no séc. XVIII pelo filósofo Immanuel Kant (talvez a partir de algumas ideias do sueco Emanuel Swedenborg) e principalmente desenvolvida por Laplace (1749-1827), que em tempos foi posta em causa por razões físicas relacionadas com a relativa falta de 'momentum angular' (associado à rotação) do 'Sol primitivo', mas entretanto reabilitada. Os
planetas rochosos (Mércurio, Vénus, Terra e Marte) coalesceram em
resultado das colisões numa época recuada da origem do Sistema Solar.
Os materiais que os constituem foram separados num núcleo metálico,
envolvido por um manto rochoso e com uma crusta exterior. Estiveram
sujeitos ao bombardeio meteorítico e apresentam amiudadamente as
crateras resultantes, sendo que na Terra estas foram sendo erodidas por
processos geológicos e atmosféricos. Estes quatro planetas (Mercúrio,
Vénus, Terra e Marte) são diferentes entre si, e.g.,
Vénus possui uma atmosfera densa, pricipalmente composta por diõxido de
carbono, Marte dispõe de um ténue envoltório gasoso, Mercúrio
praticamente não possui atmosfera enquanto a Terra está envolvida por
uma atmosfera rica em nitrogénio e oxigénio. Para além da chamada
"cintura" de asteróides, encontramos os "gigantes gasosos". Estes
planetas (Júpiter, Saturno, Úrano e Neptuno) têm muitas características
em comum: são grandes, exibem uma região central composta de gelo e
rochas envolta por manto líquido ou semi-sólido contendo hidrogénio e
hélio (no caso de Úrano e Neptuno trata-se de uma combinação de metano
congelado, amoníaco e água), campo magnético significativo (sendo o de Júpiter absolutamente
excepcional, 20000 vezes mais poderoso que o da Terra) e um número
significativo de satélites e sistemas de anéis.. Até aos anos vinte do
século passado acreditou-se que os planetas gigantes eram
predominantemente gasosos porque eram quentes. São, na realidade,
"mundos" constituídos principalmente pelos gases mais leves,
compactados sob pressões gigantescas no estado sólido e até metálico.
Todavia, são demasiado pequenos para que no seu interior as pressões e
temperaturas iniciem reacções como acontece nas estrelas.
- LONGITUDES ECLÍPTICAS - 2022-2060 (.PDF, 907KB) com valores diários para as 0H00 UT do Sol, Lua e dos 5 planetas observáveis a olho nu; também para as 12H00 UT no caso da Lua
- Trópico: tempo que o Sol aparentemente demora a voltar sucessivamente ao Ponto Vernal, é o ano das estações (365d 05h 48m 45s,2, um pouco menor do que o Sideral devido ao fenómeno da precessão dos equinócios - Wikipedia). - Sideral: "retorno" à mesma estrela fixa; equivale ao tempo que a Terra demora na sua translação relativamente à Esfera Celeste. Neste período o Sol percorre 360º. Duração: 365d 06h 09m 09s,8. -
Anomalístico: intervalo entre dois periélios consecutivos do nosso planeta ("Periélio" é o ponto da
órbita mais próximo do Sol). 365d 06h 13m 52s,5 (relativamente superior ao Sideral devido à perturbação
gravitacional dos planetas). -
de Eclipse:
tempo que o Sol demora a voltar ao mesmo nodo lunar, 346d
14h 52m 54s,7. É consideravelmente menor do que os
anteriores porque os
nodos regridem 19 graus por ano. É responsável pela recorrência dos
eclipses (solares e lunares). 19 destes anos equivalem quase
exactamente ao Saros (ciclo
dos eclipses solares e lunares; período após o qual o Sol, a Lua e os
nodos da órbita lunar retornam quase exactamente às mesmas posições
relativas. Demora 6585.32 dias, pouco mais do que 18 anos, e inclui 223
lunações).
* UA - Unidade Astronómica:
medida da distância média da Terra ao Sol
Designações dos planetas em diferentes culturas
Os nomes dos planetas sobrevivem nas
designações dos dias da semana em diversos idiomas.
Na cultura Hindu há a considerar dois planetas imateriais suplementares, a "Cabeça do Dragão" e a "Cauda do "Dragão" (Rahu e Ketu,
respectivamente), associados aos nodos lunares, pontos onde
a órbita da Lua se cruza com a Eclíptica, causa dos eclipses. Na
Mesopotâmia, os planetas seguiam o “Caminho de Anu”, entre os de Enlil (ou Bel) a norte e o de Ea, a sul. No mundo Grego do período Helenístico, os nomes são (Toomer, 1984, p. 450 fn. 59): Stilbon (Mercúrio), Phosphorus (Vénus), Pyroeis (Marte), Phaethon (Júpiter) e Phainon
(por vezes associado a Saturno). Verificou-se ainda uma identificação
dual de Vénus, proveniente do Oriente Próximo, Esta sugere uma
polaridade sexualizada, segundo Anthony Aveni (Conversing with the Planets, Kodansha America, Inc. 1994, 62). Visível de manhã é Phosphoros (mais tarde o Luciferus, "portador da luz" latino) e também Eosphoros, seguindo o nome do deus da aurora, Eos), a estrela de Afrodite, equivalente grega de Ishtar. Na aparição crepuscular será Hesperos (Lat. Vesperugo (noctifer), Vesper, o "delegado da Lua" que prolonga a sua luz), divindade masculina, irmão
de Atlas.
Configurações Planetárias e Visibilidade
As
chamadas "estações" dos planetas acontecem quando estes passam do
movimento directo (na mesma direcção do Sol e da Lua) ao retrógrado ou
vice-versa, São a causa das chamadas "laçadas" que se observam se
seguirmos o seus percursos ao longo do tempo contra o "cenário" das
estrelas de fundo.
As distâncias (convencionais) relativamente ao Sol (que permitem a visibilidade dos planetas), encontram-se, por exemplo, na distribuição matutina/vespertina de Firmicus Maternus, autor do séc. IV: "Quando o planeta Saturno está a quinze graus de distância do Sol, isto é, quando nasce antes do Sol, é matutino. Da mesma forma o planeta de Júpiter é matutino quando precede o nascer do Sol por uma distância de doze graus; Vénus por oito e Marte também por oito. Mercúrio precedendo o Sol em dezoito graus torna-se matutino. Por outro lado, são vespertinos quando seguem o nascer do Sol pelo mesmo número de graus." (Matheseos, II, 9) Uma curiosidade: a "Lei" de Bode Como resumido em The Cambridge History of Astronomy (1997, pp.186 et seq.), Kepler, na sua tentativa de vislumbrar a motivação do Deus Geómetra ao desenhar o Sistema, manifestou perplexidade pelo enorme intervalo (quanto a si desproporcionado) entre os planetas Marte e Júpiter. Este "vazio" mereceu comentários de outros astrónomos, e.g., Newton, Lambert. No seu Astronomiae elementa de 1702, o professor de Oxford David Gregory (1659-1708) verificou que os raios das órbitas planetárias eram aproximadamente proporcionais aos números 4, 7, 10, 15, 52, 95. Em 1766, Titius (de Wittenberg), numa tradução de um tratado de um naturalista Francês, interpolou um parágrafo, alterando os valores de Gregory de 15 para 16 e de 95 para 100, sequenciando as distâncias: 4, 4+3, 4+6 (a Terra), 4+12, 4+48 e 4+96. O conhecido J. Elert Bode leu uma edição desse livro em 1772, ficou fascinado com esta sequência e com a possibilidade da existência de outro planeta, justamente nesse espaço equivalente ao 4+26 em falta. Assim nasceu a chamada "Lei de Titius-Bode" que não é, de facto uma lei. Apenas uma curiosidade fruto de coincidências, pois em 1781 o recém-descoberto Úrano virá a encaixar na sequência (4+192). E no espaço "vazio", entre Marte e Júpiter, serão mais tarde descobertos os asteróides, que no início são considerados planetas.
O Sol
O
Sol é a estrela central do Sistema Solar. Todos os outros corpos como planetas, planetas anões, asteroides, cometas e
poeiras, bem como todos os satélites associados a estes corpos, giram
ao seu redor. Responsável por 99,86% da massa do Sistema Solar, o Sol
possui uma massa 332 900 vezes maior do que a da Terra, e um volume 1
300 000 vezes maior do que o do nosso planeta. A distância da Terra ao
Sol é de cerca de 150 milhões de quilómetros ou 1 unidade astronómica
(UA). Em
1929, uma jovem astrónoma de Harvard chamada Cecilia Payne
(Payne-Gaposchkin será o apelido de casada), estudou aturadamente os
espectros estelares e descobriu que a maior parte da atmosfera das
estrelas era constituída por hidrogénio. Era uma novidade surpreendente
e a cientista foi pressionada a não publicar. As suas conclusões serão
ratificadas por Henry Norris Russell e Donald Menzel alguns anos depois
e o devido crédito dessa pioneira será reconhecido. O Sol é, portanto, composto primariamente de hidrogénio (74% de sua massa, ou 92% de seu volume) e hélio (24% da massa solar, 7% do volume solar), com traços dos outros elementos. A verdadeira atmosfera exterior do Sol é gigantesca e estende-se para além dos planetas (protegidos pelos respectivos campos magnéticos). A totalidade da região de influência é chamada Heliosfera. O Sol é também uma fonte de ondas rádio que causam estática.
Samuel
Heinrich Schwabe (1789-1875), químico em Dessávia (Dessau, na Saxónia),
dedicou-se denodadamente à
observação e registo das manchas solares enquanto procurava o
hipotético planeta interior (seguindo o preconizado por Le Verrier, v. supra).
Comparando todas as suas anotações em 1843, verificou que existia uma
variação periódica de cerca de 10 anos: "Vergleicht
man nun die Zahl der Gruppen und der flecken-freien Tage mit einander,
so findet man, dass die Sonnenflecken eine Periode von ungefähr 10
Jahren hatten..." (Astronomische Nachrichten,
21 (15), 1834, p.235). De facto, a periodicidade resulta num ciclo de
cerca de 11 anos (valor médio), todavia com amplitudes entre 7 e 17
anos. Hoje sabemos que os próprios pólos magnéticos do Sol se invertem
nesse processo e que a verdadeira duração do ciclo de actividade solar
é de 22 anos. Na época, procuraram-se causas para este comportamento
cíclico, por exemplo na interacção com os planetas, nomeadamente
Júpiter. Entretanto, em 1851, Johann von Lamont descreveu
perturbações magnéticas (alternativamente mais fortes e mais ténues) em
instrumentos e no campo magnético terrestre, também apontando para a
mesma cadência de uma década (todavia não relacionou). O fenómeno das
auroras manifestava a mesma
periodicidade e outros cientistas (e.g.,
Edward Sabine, Rudolf Wolf) verificaram a coincidência entre
perturbações magnéticas e manchas solares. Mesmo o aparecimento de
uma única grande mancha produzia tempestades magnéticas no nosso
planeta. Assim se compreendeu um fenómeno magnético poderoso, notável,
também potencialmente ameaçador.
A
questão da habitabilidade do Sol foi surpreendentemente persistente.
Nesta breve resenha começamos somente no século XVIII mas a chamada
"pluralidade dos mundos" (nome que se dava à vida extraterrestre) vem
de trás (e.g., Nicolau de Cusa, Giordano Bruno). Um notável cientista que defendeu a ideia foi o jesuíta Roger Boscovich (1711–1787), que publicou em 1758 a sua Philosophiae naturalis theoria. Johann Elert Bode (1747–1826), o editor do célebre Astronomisches Jahrbuch
também não tinha dúvidas quanto à existência de "Solários", publicando
em 1776 um modelo do Sol adaptado à vida inteligente, com um suposto
corpo planetário escuro e temperado protegido por uma camada
protectora. Edward King argumentou que os raios somente produzem calor
quando interagem com os corpos materiais e escreveu em 1800 que tanto o
Sol como as estrelas eram "...merely
as so many mansions, and habitations of residence; merely as so many
Islands (as it were) of Bliss, placed in the vast ocean of space.".
No grande William Herschel (considerado o mais notável astrónomo da sua
época) encontramos também a inclinação para a afirmação da
habitabilidade do Sol, possível à existência de camadas opacas e
reflectoras que defenderiam o ameno interior do astro:
Revelam-se na liturgia e no culto vestígios da mitologia solar do paganismo, nomeadamente no simbolismo cardeal do culto e na orientação das igrejas, cuja ábside será, numa segunda fase (a partir do séc. IV), voltada tradicionalmente para o Oriente. "Au moment de la prière, les premiers chrétiens se tournaient vers l’est, et les premières églises avaient, comme les temples grecs et romains, leurs façades face au levant ; puis l’on s’aperçut que cette disposition rendait difficile les positions respectives des fidèles venant à l’église et de l’officiant. Dès le début du IV siècle, ce furent, non plus les façades, mais les absides qui regardèrent l’orient. Et, selon les premiers rites du baptême, le catéchumène commençait par renoncer au démon, face à l’ouest, côté de l'approche de la nuit, puis, s'étant tourné vers l’est, d’où le jour surgit, il s’attachait au Christ. (Verdet, Jean-Pierre, Le Ciel: Ordre et Désordre, Gallimard, 1988, p.189)
Descrições básicas respaldam-se, no essencial mas não exclusivamente, em textos da Enciclopédia Ilustrada do Universo (2ª ed., revista e actualizada), vol.2: O Sistema Solar, Duetto Editorial, 2012 (trad. Mónica G. F. Friaça); orig. publicado pela editora Dorling Kindersley [Martin Rees (general ed.); Peter Frances (senior ed.)]
Mercúrio É o menor planeta do Sistema Solar, o mais próximo do Sol (percorrendo a órbita mais excêntrica de todos os planetas). Possui elevada densidade, sendo o mais rico em ferro. Não há praticamente amosfera protectora pelo que o ambiente superficial é caracterizado pela elevadíssima amplitude térmica, entre 430ºC e, pelo menos, -180ºC, (diurna e nocturna, respectivamente). A superfície foi copiosamente afectada pela queda de meteoros, como as suas inúmeras crateras testemunham. Em termos observacionais, a sua proximidade do Sol dificulta. Copérnico afirmou nunca ter pessoalmente observado este planeta (lib. V, cap. 30 da edição latina original do De Revolutionibus Orbium Coelesticum). Vénus Uma cobertura de densas nuvens envolve o planeta permanentemente e, sob elas, revela-se um mundo tórrido, o mais quente em qualquer planeta, e uma paisagem dominada pelo vulcanismo. Vénus não tem estações devido à trajectória orbital quase circular e pequena inclinação do seu eixo. A lenta rotação do planeta (sendo aí o dia é mais longo do que o ano) decorre no sentido oposto ao dos outros planetas. A atmosfera é inóspita, três camadas ricas em dióxido de carbono e ácido sulfúrico, acentuadamente na camada inferior. A superfície é quase toda ocupada por planícies vulcânicas baixas, formadas por derramamento de lava.
A Terra A estrutura da Terra é semelhante à dos restantes planetas rochosos mas é única no Sistema Solar atendendo á água líquida abundante e atmosfera rica em oxigénio. A sua superfície está em constante mudança devido aos processos que ocorrem no seu interior, nos oceanos e na atmosfera. A rotação do planeta produz um ligeiro bojo na região equatorial (21km em relação aos pólos). O núcleo (com uma região central sólida e outra líquida) é de ferro com uma pequena fracção de níquel. Segue-se o manto contendo rochas ricas em magnésio e ferro. A crusta, com tectónica de placa, é diversificada mas predominam os silicatos. Diferencia-se numa crusta continental e numa oceânica, menos espessa. O planetaformou-se há 4.56 mil milhões de anos.
Marte Marte é um planeta rochoso com uma atmosfera ténue, com características de superfície que lembram tanto as crateras de impacto da Lua quanto vulcões, vales, desertos e calotas polares da Terra. O período de rotação e os ciclos sazonais de Marte são semelhantes aos da Terra, assim como é a inclinação que produz as suas estações do ano. A observação telescópica rigorosa de Marte começou em 1659 quando Christian Huyghens fez um esboço do planeta que claramente mostrava uma mancha em "V" assinalando a região a que se chamará Syrtis Major. É um planeta dessecado mas evidências geológicas indiciam que água líquida já terá escoado pela sua superfície. As complexas formações de marte incluem profundos sulcos, "canhões" e os vulcões mais elevados do Sistema Solar. O planeta possui uma órbita acentuadamente elíptica e a inclinação do seu eixo está sujeita a alterações.A densidade é relativamente baixa, sugerindo um núcleo contendo um elemento mais leve, e.g., enxofre. A atmosfera é fina, pressão média de somente 6 mbar (milibares), composta principalmente por dióxido de carbono. A cor ocre deve-se à suspensão de pequenas partículas de óxido de ferro. O sistema climático é dinâmico, com ventos, nuvens de poeira e tempestades. A temperatura média é de -63ºC.
Os Canais de Marte Os famosos "canais" de Marte constituiram literalmente uma das grandes ilusões da astronomia observacional. Marcações lineares aparentes, longas e rectilíneas, foram observadas por observadas em 1877 por Giovanni Schiaparelli. Este utilizou o termo Italiano "canali", que na sua neutralidade não pretendia definir se eram estruturas naturais ou artificiais. As suas descrições tiveram repercussão no início do século XX e a tradução em inglês consolidou uma leitura que favoreceu a artificialidade dessas formações. A ousada e fascinante ideia de Marte como uma "Segunda Terra" surge justamente na sequência dessa excelente oposição de 1877, quando toda a atenção se volta para o "planeta vermelho". O americano Percival Lowell, fascinado pelas interpretações do que era supostamente observado, defendeu que seriam faixas de vegetação, margeando canais de irrigação escavados por seres inteligentes! Construiu um observatório, doravante famoso, em Flagstaff (Arizona), observou e publicou as suas teorias acerca do planeta Marte e dos seus habitantes (que terão influência persistente na investigação e principalmente no imaginário com imensas e duradouras repercussões na cultura popular, e.g., filmes, séries, pulp magazines). Em breve, "extraterrestre" e "marciano" passariam a ser praticamente sinónimos. Lowell e outros observadores descreveram e mapearam supostas complexas redes de canais repletas de interseções escura ("oásis") cobrindo grande parte da superfície do planeta. A estruturada narrativa de Lowell manifesta-se nas suas descrições e esclarecimentos. Os canais seriam um esforço dos industriosos marcianos para contrariar a acentuada dessecação do seu planeta. (para uma excelente descrição vide Pierre Rousseau, L'Astronomie (Tout ce qu'il faut savoir sur...), col. "Le Livre de Poche", Librairie Générale Francaise, (Hachette, 1961 (1959), pp.237 et seq.). Rousseau descreve a vontade de comunicar com os inteligentes marcianos por parte de alguns eminentes sábios dessa época: "Que n’avions-nous pas à apprendre d’une civilisation aussi poussée? Quantité d’inventeurs se firent connaitre pour proposer de communiquer avec elle. Tsiolkovsky suggéra de correspondre avec les Martiens au moyen d’éclairs plus ou moins longs; Vinot, de se servir de la partie non éclairée de la Lune comme d’un miroir; Pickering, de construire des réflecteurs géants; Tesla, de lancer des messages par radio; Kuepper publia un code télégraphique terromartien et Mercier ouvrit une grande souscription." (ibid., p.240). Entretanto, um grupo representativo de astrónomos, por exemplo o escrupuloso E. Antoniadi que observou no observatório de Meudon, contestaram a existência dos supostos "canais". E provou-se estarem correctos. Todavia, a "guerra dos canais" só terminou nos anos 60 do século passado com as fotografias captadas de perto pelas das sondas do programa Mariner.
Júpiter Júpiter supera em 2,5 vezes a massa combinada de todos os restantes planetas. O seu eixo está muito pouco (3.1º) inclinado, deste modo o planeta não exibe variações sazonais relevantes. É o mais rápido em termos de rotação sobre o seu eixo, resultando na sua aparência achatada. Como é típico dos gigantes gasosos, apesar da enorme massa revela baixa densidade. A sua composição é, de entre os planetas, a mais parecida com a do Sol. O hidrogénio e o hélio estão em estado gasoso nas regiões mais periféricas, no interior a pressão altera o estado desses gases. O hidrogénio passa a comportar-se como um líquido e, mais para o centro, é comprimido na forma metálica. O planeta possui um núcleo rochoso proporcionalmente pequeno. Possui ainda um poderosíssimo campo magnético e uma vasto "cortejo" de satélites. A sua atmosfera possui vários tipos de fenómenos activos, incluindo instabilidades das bandas, vórtices (ciclones e anticiclones), fortes tempestades e raios.
Saturno Uma
enorme bola de gás e líquido, possui um equador bojudo e uma composição
dominada pelo hidrogénio. Não possui superfície sólida e é pouco denso
(densidade é inferior à da água). No seu interior, a pressão faz com
que o hidrogénio e o hélio se tornem fluidos e ainda mais fundo os
electrões são arrancados dos átomos e os elementos referidos
comportam-se como metais. O eixo possui uma inclinação de 26.7º,
determinando a existência de alterações sazonais. Na atmosfera, as
nuvens superiores têm uma temperatura que ronda os -140ºC e parece
possuir diversas camadas de nuvens com uma presença notória de
amoníaco. Verificam-se enormes tempestantes. O icónico sistema de anéis
é o mais extenso e espectacular que conhecemos. Os anéis são formados
por colecções de componentes de gelo que seguem órbitas individuais
tendo, em conjunto, elevada reflexibilidade.
Úrano O terceiro maior planeta do Sistema Solar exibe um esparso sistema de anéis e vários satélites. O eixo do planeta quase coincide com o seu plano orbital. Foi o primeiro a ser descoberto com a ajuda do telescópio. O planeta deve ser menos denso que a Terra mas demasiado para que o seu componente principal seja o hidrogénio. É formado principalmente por gelo de água, de metano e de amoníaco. A sua cor azul é resultado da absorção dos comprimentos de onda vermelhos pelas nuvens de gelo de metano da atmosfera. Antes da sua descoberta como planeta, Úrano (que está no limite da observabilidade desarmada) foi observado em várias ocasiões, geralmente confundido com uma estrela e até catalogado enquanto tal. foi observado anteriormente mas identificado como uma estrela. John Flamsteed (o primeiro Astronomer Royal Inglês e autor do célebre Atlas Coelestis, publlicado postumamente em 1729), cerca de 90 anos antes da sua descoberta, catalogou-o como a estrela "34 Tauri". O astrónomo francês Pierre Charles Le Monnier também o observou diversas vezes entre 1750 e 1769. Finalmente, em 1781, Herschel observou-o e percebeu o seu lento deslocamento, julgando tratar-se de um cometa. Anotou: "In the quartile near ζ Tauri ... either [a] Nebulous star or perhaps a comet." (Royal Astronomical Society, MSS W.2/1.2, 23). O objecto encontrava-se na direcção da constelação dos Gémeos (Gemini). Acompanhou-o por algum tempo, verificando que se movia lentamente contra o fundo de estrelas, denunciando estar mais próximo do que estas. Continuou a acreditar tratar-se de um cometa e assim o divulgou. Todavia, alguns na comunidade astronómica já desconfiavam que poderia tratar-se de um planeta. Ora, em termos mecânicos, uma órbita pode ser determinada a partir de várias posições precisas observadas. O astrónomo Finlandês Anders Lexell estudou o "cometa" de Hershel e foi o primeiro a calcular preliminarmente a sua órbita (baseado em observações do próprio Herschel e de Nevil Maskelyne, o Astronomer Royal nessa altura), posteriormente com novas observações e comparando retrospectivamente com a posição de uma "estrela" (na realidade era o planeta) observada anteriormente (1759) em Pisces por Christian Mayer, que não constava do atlas de Flamsteed (nesse local) nem tinha aí sido observada por J. Bode. Lexell concluiu que obviamente não se tratava de um cometa (a órbita não era parabólica) mas sim de um planeta que orbitava o Sol segundo uma elipse a uma distância superior à de Saturno. Em breve os seus resultados foram confirmados e a notícia de um novo planeta (que mais tarde será chamado Úrano), o primeiro a ser descoberto para além dos tradicionais (conhecidos desde a Antiguidade), concitou surpresa geral e catapultou Herschel para uma notável carreira astronómica.
O menor dos "gigantes gasosos", o mais frio e distante do Sol. É o planeta com os ventos mais intensos do Sistema Solar. Isto acontece decerto devido ao calor interno que desencadeia mudanças atmosféricas em grande escala. As estações em Neptuno são longas. Demora 164,8 anos terrestres na sua translacção. A sua estrutura é similar à de Úrano. e nenhum deles possui superfície sólida discernível. Possui apenas uma "lua" principal: Tritão. Os restantes satélites são pequenos.
O
"Cinturão de Kuiper" (cuja existência, confirmada nos anos de 1990, foi
prevista pelos astrónomos Edgeworth e Kuiper) circunda a região
planetária do Sistema Solar, para além da órbita de Neptuno, sendo uma
vasta região de asteróides e origem de cometas. Consiste, maioritariamente, de corpos
menores ou remanescentes de quando o Sistema Solar se formou. Estes são
principalmente compostos de voláteis congelados ("ices"), como metano,
amoníaco e água. Conhecemos hoje muitos "Kuiper Belt Objects" (KBOs)
aos quais pertencem, entre os maiores, Xena (subsequentemente nomeada
Éris, é orbitada por uma lua), Plutão (c/ Caronte), Sedna, Quaoar, etc.
Ilustração representando a Cintura de Kuiper e a Nuvem de Oort (NASA/JPL)
A Lua, o nosso satélite natural A sua proeminência no céu e a regularidade das suas fases tornaram-na, desde tempos imemoriais, uma incontornável referência cultural e simbólica, na língua, no cômputo dos calendários, na arte e na mitologia. É o maior satélite natural de um planeta no sistema solar em relação ao tamanho do seu corpo primário, pelo que podemos com propriedade falar de um "sistema Terra-Lua" com o seu baricentro (que se situa sob a superfície do nosso planeta). Como resultado, neste sistema, o centro de gravidade da Terra coincide com a órbita do planeta somente duas vezes por mês, quando a Lua cruza a órbita terrestre. A sua rotação, sincronizada com a Terra,
faz
com que a Lua nos mostre sempre mesma face. A influência da sua gravidade
está na origem das marés oceânicas (também age sobre a própria superfície sólida) e assim determina o aumento gradual do dia sideral da
Terra. Reflecte a luz solar (Anaxágoras, c. 450 a.C., foi provavelmente
o primeiro a reconhecer este facto) e o seu albedo
(coeficiente de reflexão) é modesto (em média apenas 12%), contudo
variável em função dos acidentes geológicos individuais, podendo
ultrapassar 25-30% em determinadas regiões mais elevadas. Também é
iluminada por luz reflectida pelo nosso planeta, visível nas suas
regiões não iluminadas particularmente durante a falcada, quando
apresenta um fino crescente. Lumen incinerosum em Latim, "earthshine" na literatura em Inglês. Quanto à sua origem geológica, a hipótese prevalecente é, como explica G.
Jeffrey Taylor, a de que o sistema Terra-Lua se formou como resultado
de um gigantesco impacto, durante qual um corpo de tamanho semelhante ao de Marte
colidiu com a recém-formada proto-Terra, projectando material que se aglutinou até formar a Lua (Origin of the Earth and Moon, 1998, LPI
Contribution No. 957, Lunar and Planetary Institute, Houston), A crusta
lunar, bastante fracturada pela acção dos meteoritos, é formada por
rochas semelhantes ao granito e ricas em cálcio. O manto é rico em
silicatos. Há muitos milhões de anos, a Lua deve ter estado bem mais
próxima da Terra do que está agora e a duração do dia era muito menor.
Podemos sabê-lo através do estudo dos depósitos sedimentares tidais,
resultantes das marés. A
Lua é, na
prática, desprovida de atmosfera. Por ser tão fina e rarefeita é que,
quando observamos uma ocultação, a estrela se "apaga" subitamente. Mas, como Patrick Moore nos recordou
na primeira crónica do seu The Wandering Astronomer
(IOP
Publishing Ltd, 1999)), já se acreditou em algo mais "substancial". Foi relativamente comum considerar que a Lua podia ter
uma atmosfera suficientemente densa para suportar vida. Esta era a
convicção de Johann Schroter (o primeiro astrónomo seriamente dedicado
ao estudo do nosso satélite) e do grande William Herschel (o
descobridor de Úrano e incansável catalogador), que curiosamente
também acreditava num Sol temperado e habitado, dotado de uma camada de
nuvens que servia de "escudo" e protegia os supostos habitantes da incandescente camada
superior. Em 1822, Franz von Paula Gruithuisen chegou a
"identificar" uma "cidade lunar" (a que chamou Wallwerk)
com enormes muralhas escuras (também acreditava na existência de
densas selvas venusianas, que rapidamente se desenvolviam graças ao
calor do Sol nesse planeta). Na década seguinte, um jornal
sensacionalista americano publicou uma notícia sobre a descoberta de
formas de vida. Em todo o caso, a possibilidade de existência de
um qualquer tipo de vegetação selenita foi generalizadamente considerada até ao
limiar do século XX. O último astrónomo a acreditar em algo mais
evoluído foi W. H. Pickering. Entre 1919 e 1924, estudou
diversas regiões lunares, focando-se particularmente na cratera Erathostenes.
Aqui observou algumas "manchas" que se deslocavam nas regiões
iluminadas e concluiu tratar-se, provavelmente, de "enxames de
insectos". Em 1924 publicou algumas conclusões que aventavam a
possibilidade de existência de pequenos animais gregários e migratórios
ainda mais complexos. Pickering faleceu em 1938 e jamais alguém voltou
a avançar a possibilidade de semelhantes prodígios.
Direcções cardeais nos mapas da Lua A
normalização das direcções cardeais pela União Astronómica
Internacional data de 1961. O pólo norte lunar é o ponto superior do
Quarto-Crescente, Este é no sentido da direita da linha equatorial (a
zona que primeiro surge iluminada após a Lua Nova). A zona ocidental é
a última a desaparecer no Quarto Minguante. Por outras palavras, a
região na direcção do Mare Crisium é Este. Na direcção de Grimaldi fica o Oeste. Isto provocou alguns "anacronismos", e.g., o Mare Orientale ficou doravante no Quadrante Sudoeste.
As Fases da Lua 2022 - 2050 (em Inglês) - Fred Espenak
A órbita da Lua determina o Mês, mas há diversos "meses": - Sinódico: a chamada "lunação", intervalo entre duas Luas Novas sucessivas, 29d 12h 44m 02,9s. - Sideral: período que a Lua demora a completar o circuito da Esfera Celeste, "retorno" à mesma estrela fixa, 27d 07h 43m 11,6s. - Trópico: de equinócio a equinócio; tempo de uma órbita relativamente ao Ponto Vernal, 27d 07h 43m 04,7s. - Anomalístico: Intervalo entre dois perigeus sucessivos (Perigeu: ponto da órbita lunar mais próximo da Terra), 27d 13h 18m 33,1s. - Dracónico ou Draconiano: intervalo entre duas passagens sucessivas da Lua pelo nodo ascendente (os nodos lunares são os dois pontos de intersecção da sua órbita com o plano da Eclíptica, conhecidos historicamente como caput draconis e cauda draconis); a órbita lunar é inclinada cerca de 5º). Está relacionado com os eclipses e é de 27d 05h 05m 35,9s. fontes: Norton's 2000: Star Atlas and Reference Handbook (Longman Scientific & Technical, 1989) e OAL - Observatório Astronómico de Lisboa No séc. XVII, Manoel de Figueiredo (Chronographia: Reportorio dos tempos, no qual se contem VI partes, scilicet dos tempos..., "Empresso em Lisboa por Jorge Rodriguez a custa de Pero Ramires. Anno de 1603), refereia os vários tipos de mês, segundo os "antigos". O mês "peregratório" era o que se verificava no percurso da Lua desde o ponto zodiacal em que houve conjunção com o Sol (novilúnio) até voltar a esse mesmo ponto em que fez a passada conjunção. O mês "da pariçam" era desde quando a Lua aparecia (i.e. o primeiro crescente observável ou "prima luna") até à conjunção seguinte, contando a idade da Lua em dias até ao vigésimo oitavo. Outro era o mês "medicinal" de 27 dias e duas horas, segundo Galeno, para aferição dos dias críticos (utilizados na medicina para diagnósticos e tratamentos, i.e. administração de medicamentos, dietas, purgas e sangrias). Outro era o mês "consecutorio" ou "mênstruo", entre duas conjunções, "o qual consta de vintanove dias & doze horas & quarenta & quatro minutos" e este era o próprio lunar, segundo o tratadista.
Os Asteróides são objectos rochosos e metálicos que orbitam o Sol mas pequenos demais para serem considerados planetas. São conhecidos informalmente como "planetas menores". São, provavelmente, o material disperso de um planeta que não conseguiu forma-se devido às forças gravitacionais de Júpiter e Marte. Por isso são encontrados em grande número na chamada "Cintura de Asteróides", no intervalo entre as órbitas desses dois planetas. Mas foram descobertos desde o interior da órbita da Terra até para além da órbita de Saturno. Alguns têm órbitas que atravessam a órbita da Terra e muitos terão atingido o nosso planeta no passado. O termo asteróide, da palavra grega para "semelhante a uma estrela", nunca teve uma definição formal. Um asteroide é um planeta menor do Sistema Solar interno. Historicamente, o termo foi aplicado a qualquer objecto orbitando o Sol que não se transformou num disco e não manifestou características de um cometa activo. Asteróides maiores são frequentemente designados planetóides. Entretanto, já foram descobertos planetas menores no Sistema Solar exterior. Os asteróides da "Cintura" podem ser remanescentes do disco protoplanetário e, nesta região, a agregação de planetesimais em planetas durante o período de formação do Sistema Solar foi evitada pelas poderosas perturbações gravitacionais em presença na vizinhança. São objectos demasiado pequenos para reter atmosfera. A grande maioria dos asteroides conhecidos orbita dentro do referido cinturão principal ou são co-orbitais com Júpiter (e.g., os "Troianos"). No entanto, outras famílias orbitais existem com populações significativas, incluindo os "objectos próximos da Terra" (Near-Earth Objects, abrev. NEOs).
Os cometas são corpos planetários híbridos, acreditando-se que possuem um núcleo interno rochoso, coberto por uma camada de gelo ou por um aglomerado de gelo e fragmentos de rocha. O diâmetro do núcleo situa-se entre algumas centenas de metros a dezenas de quilómetros. Os cometas são "sobras" da formação do Sol e dos planetas do Sistema Solar. Descritos como "bolas de gelo sujas", adquirem as suas características distintivas quando estimulados pela acção do vento e do calor solares. Neste processo evaporam material, tornando-se plenamente kometes, "estrelas com cabeleira". Essa "desgaseificação" produz uma atmosfera visível ou coma e, às vezes, a característica "cauda". Embora esta resulte, em parte, do movimento do cometa através do Sistema Solar, forma-se através da libertação de poeiras (pela pressão da radiação do Sol) e de gás (pelo efeito do magnetismo do vento solar). Esta diferenciação explica porque determinados cometas podem apresentar duas caudas, uma de poeiras e outra gasosa. A distante "Nuvem de Oort", nos confins do nosso Sistema, aloja cometas gravitacionalmente pouco ligados ao Sol. Quando uma qualquer perturbação altera as suas órbitas, podem ser lançados na direcção do Sistema Solar interior. Muitas pessoas associam os cometas a objectos velozes que cruzam o céu rapidamente. Na verdade alcançam grandes velocidades mas devido às enormes distâncias a sua velocidade aparente é reduzida. Podem, quase sempre, ser observados ao longo de várias semanas enquanto evoluem sobre o fundo de estrelas. O movimento de um cometa através do céu não é perceptível na observação visual, somente em observações espaçadas. Estes corpos não "atravessam" o céu fugazmente como os meteoros. Aristóteles considerava que eram fenómenos sublunares, resultado de "emanações" ou "exalações" da atmosfera. No passado, significavam presságios terríveis, que colocavam em causa a ordem estabelecida. Enquanto a Astrologia tendia a considerá-los "causas" de nefastos acontecimentos, a interpretação Cristã via-os como "sinais" de castigo divino ou mesmo da aproximação do Apocalipse. Trariam escassez, guerras e pestilência! Este legado continuou com a exaltação temerosa ou ansiosa sempre que se verificou uma aparição notável. Um exemplo serôdio da chamada "febre do cometa" verificou-se aquando da passagem do cometa Halley em 1910. No livro The Story of Comets... (2nd edition), Oxford, Clarendon Press, 1910, George F. Chambers, competente divulgador,
traduziu o estado do conhecimento sobre os cometas no início do século
XX. Algumas concepções e dúvidas que aí encontramos estam tão
distantes das actuais que quase nos parecem inacreditáveis.
Verificamos que ainda não se sabia como enquadrar estes corpos numa
tipologia ou categoria com características peculiares. As dimensões dos
cometas eram francamente hiperbolizadas. Veja-se a seguinte
ilustração.
A
estrutura dos cometas é diversa e muito dinâmica, mas todos desenvolvem
uma nuvem de matéria difusa que geralmente cresce em
diâmetro e brilho enquanto o cometa se aproxima do Sol. Geralmente observa-se, no meio de uma espécie de "coroa", um núcleo pequeno (menos de 10 km de diâmetro) e
brilhante. Estes corpos possuem órbitas muito excêntricas
que os trazem muito próximo do Sol e os levam longe no espaço, por vezes
para além da órbita de Neptuno. Quando os cometas se aproximam do Sol desenvolvem enormes caudas de
matéria luminosa que se estendem por milhões de quilómetros, na
direcção oposta ao Sol. Quando estão longe do Sol, o núcleo está muito
frio e a sua matéria está congelada dentro do núcleo.
Ao passar perto do Sol, por acção da temperatura, começam a libertar gases (desgaseificação). Isso produz uma atmosfera visível ou coma e, às vezes, também uma cauda. Fenómenos devidos aos efeitos da radiação solar e da acção do vento solar sobre o núcleo do cometa. Os núcleos dos cometas variam de algumas centenas de metros a dezenas de quilômetros de diâmetro e são compostos de colecções soltas de gelo, poeira e pequenas partículas rochosas. A coma pode ter até 15 vezes o diâmetro da Terra, enquanto a cauda pode estender-se para além de uma unidade astronómica. Diagrama mostrando as características físicas de um cometa. a) Núcleo, b) Coma, c) Cauda de gás/ioniz. d) Cauda de poeiras, e) Envoltório de hidrogênio, f) Movimento do Cometa g) Direcção ao Sol; Sanu N., lic. Creative Commons Attribution-Share Alike 4.0 International)
Os
cometas são baptizados a partir dos nomes dos seus descobridores (até três
nomes ou, em alguns casos históricos, por quem calculou a respectiva
órbita, e.g.,
Halley, Encke,
Crommelin). Poderão sê-lo em função do observatório, telescópio, missão
ou satélite artificial a partir dos quais são descobertos (e.g., NEOWISE, Pan-STARRS), o que é obviamente cada vez mais comum. A designação dos cometas integra (desde 1995) o ano e mês
da sua descoberta. Cada mês divide-se em duas metades, designadas por
uma letra maiúscula de A a Y (omitindo o "I"), sequenciadas ao longo
dos meses (e.g., em Março
letras serão "E" e "F"). Acresce um numeral que se refere à ordem de
descoberta na respectiva quinzena. O prefixo "P/" ou "C/" refere se o
cometa é Periódico (P/) ou não. Assistimos a ondas de choque, calor e ionização quando ocorre a passagem ou entrada de um objecto sólido proveniente do espaço na atmosfera terrestre. A explicação adoptada para os fenómenos testemunhados nos quais os meteoros resistem e caem no solo (i.e. meteoritos) foi, até muito tarde, aristotélica. Jean Baptiste Biot foi, no início do séc. XIX, o primeiro cientista a concluir que há pedras que, de facto, caem do céu. Os meteoróides são significativamente menores que os asteróides e variam em tamanho de pequenos grãos (como os que provocam o fenómeno a que chamamos popularmente "estrelas cadentes") a objectos maiores (habitualmente até cerca de 1 metro). Objectos menores são classificados como micrometeoróides ou poeira espacial. A maioria são fragmentos de cometas ou de asteróides, enquanto outros são detritos de impacto de colisão ejectados de corpos como a Lua ou Marte. Exoplanetas - a procura de planetas fora do Sistema Solar Acredita-se hoje que o processo de formação de quase todas as estrelas resulte também na formação de sistemas planetários. Não é fácil encontrá-los porque as estrelas são tão grandes e brilhantes que os planetas, comparativamente exíguos, se tornam "invisíveis". Alguns dos métodos de busca:
- Trânsito: procuram-se estrelas cujo brilho decresce quando um hipotético planeta transita (passa à sua frente);
São principalmente detectados pela variação dos comprimentos de onda das suas estrelas. O primeiro destes planetas, orbitando uma estrela semelhante ao Sol (51 Pegasi), foi descoberto em 1995 pelo suiço Michel Mayor e pelo seu tutorando Didier Queloz no Observatório de Genebra. Trata-se do planeta 51 Pegasi b, oficialmente chamado "Dimidium" e fica a cerca de 50 anos-luz. Entretanto já foram descobertos alguns milhares na nossa galáxia.
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