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A questão da Vida Extraterrestre

cartaz Earth vs Flying Saucers
Earth vs. the Flying Saucers (Columbia Pictures), filme de ficção científica de 1956 produzido por Charles H. Schneer e realizado por Fred F. Seas. O Espaço e os alienígenas tornaram-se um tema favorito da "pop culture" ao longo do século XX, principalmente veiculado pelas revistas "Pulp" e pelos filmes série B, mas também noutros estratos mais complexos e eruditos (e.g., a Sci-Fi de autores como Isaac Asimov, Sprague de Camp, Ray Bradbury, Philip K Dick, Frank Herbert, Larry Niven ou Arthur C. Clarke e filmes do calibre de 2001: A Space Odyssey, de Stanley Kubrick)


He, who through vast immensity can pierce,
See worlds on worlds compose one universe,
Observe how system into system runs,
What other planets circle other suns,
What varied Being peoples every star,
May tell why Heaven has made us as we are.

(Alexander Pope, An Essay on Man, 1734)


"Conversas sobre a Pluralidade dos Mundos" (Entretiens sur la pluralité des mondes) é um livro de divulgação científica do autor francês Bernard le Bouyer de Fontenelle, publicado em 1686. ["Pluralidade dos mundos" era como a vida extraterrestre era antigamente designada]. Fontenelle apresenta uma exposição inicial do pluralismo cósmico, o conceito de que os planetas são habitados e as estrelas são "sóis" distantes que podem ter seus próprios sistemas planetários, incluindo a possibilidade de vida extraterrestre, particularmente vida inteligente. Esta possibilidade foi comummente aceite nos séculos seguintes por filósofos, astrónomos e literatos.

Fontennele, Entretiens...

A ideia é surpreendentemente antiga e acompanha a demanda filosófica. Para Aristóteles (no tratado cosmológico Περὶ οὐρανοῦ, Lat. De Caelo), o mundo circular, circunscrito e central era necessariamente singular, único (Guthrie, W. K. C. (trans.), On the Heavens, Loeb Classical Library, 1953), lib. I, 8, 277a); todavia para Epicuro, sendo os "átomos" infinitos em número, não há obstáculos para a existência de muitos "mundos" (kosmoi) semelhantes e ou diferentes do nosso, incluindo mundos dentro de mundos e no espaço entre mundos ("Epistula ad Pythoclea", i.e. "Carta a Pítocles", preservada por Diog. Laertius, lib. X), in: Bailey, C., Epicurus: the Extant Remains, Oxford, Clarendon Press, 1926, pp. 56 et seq.). São dois filósofos do século IV a.C.

Muitos dos mais notáveis arautos da nova astronomia nos últimos dois ou três séculos não deixaram de acarinhar o tema. A questão central na época Iluminista era: ter-se-á a divina Criação estendido ao todo do Universo, sendo a Humanidade apenas parte de uma mais vasto plano? Ou terá Deus criado o Cosmos somente para nos colocar aqui?

Os cientistas geralmente acreditavam na pluralidade, de modo generoso e que hoje consideraríamos pueril. As opiniões de William Herschel (que acreditou que, tal como a Lua seria decerto habitável, também o Sol o deveria ser em regiões mais temperadas abaixo da camada "ardente" que observamos), Gruithuisen (que julgou observar uma cidade na Lua), Camille Flammarion (defensor eloquente da habitabilidade dos planetas), William Henry Pickering (persistindo, na década de 20 do século passado, na existência de vegetação e até de enxames de insectos ou "pequenos animais migratórios", explicando manchas variáveis observadas principalmente na cratera Eratóstenes) ou Percival Lowell (com a sua reconstrução das vicissitudes de uma civilização marciana em dificuldades) são disso testemunho. Selenitas, Venusianos e, acima de tudo, Marcianos, terão preponderância nas elucubrações científicas, algumas todavia gradualmente descartadas com o transcorrer do século XX. Surgiram paralelamente obras de ficção emblemáticas, algumas notáveis clássicos do género como The War of the Worlds ("A Guerra dos Mundos") de H. G. Wells, em finais do séc. XIX, com a igualmente célebre e impactante emissão rádio de Orson Welles em 1938. Mais tarde, em meados do século XX, em plena "Guerra Fria" e com o advento da Era Espacial e dos primeiros satélites artificiais, há uma enorme receptividade às ideias de alienígenas, naves espaciais e, no fundo, à substituição de antigas crenças e mitos por esta camada de temas com impacto cultural, com as suas expectativas, ansiedades e medos.

Ilustração Guerra dos Mundos 1906
Ilustração da edição de 1906 pelo magnífico artista e ilustrador brasileiro Henrique Alvim Corrêa

Vida Extraterrestre?

A hipótese afirmativa baseia-se na vasta dimensão e nas leis físicas consistentes do universo observável. De acordo com este argumento (defendido por cientistas como Carl Sagan ou Stephen Hawking), seria extremamente improvável que a vida não existisse em algum lugar fora do nosso planeta. Este argumento é incorporado num princípio que afirma que a Terra não ocupa uma posição única no universo, e no "princípio da mediocridade", que sugere que não há nada de especial ou irrepetível sobre a vida na Terra. A vida pode ter surgido de forma independente em muitos lugares em todo o Universo. Alternativamente, a vida também se pode desenvolver com menos frequência, mas disseminar-se entre planetas habitáveis ​​através da panspermia, a hipótese de que formas de vida básicas e resilientes estão presentes no Universo, viajam em meteoros ou planetóides, eventualmente chegando ao nosso planeta em meteoritos que abrigavam essas formas primárias: a exogénese.

As condições propícias para o aparecimento da vida exigem, como sabemos, imensos requisitos, começando pelos estruturais:
"For example, a slight change in the charge on the electron, with other physical constants held unchanged, would have made the mechanism of nuclear fusion in stars unworkable, and so would have made our form of life impossible." (North, J. D., The Norton History of Astronomy and Cosmology, W. W. Norton & Company, 1994, p.621)

Quimicamente, somente um dos tipos de átomo parece capaz de produzir os diversos 'grupos-de-átomos' complexos necessários à matéria viva: o átomo de Carbono (C, membro do grupo 14 da Tabela Periódica). Todo o material orgânico é, consequentemente, baseado nesse elemento: muitos outros estão envolvidos, mas esse é a base! A vida depende do carbono. Moléculas complexas estão estruturadas por átomos de carbono em ligação com outros elementos químicos, especificamente o oxigénio, o hidrogénio e o nitrogénio, sendo que o carbono é capaz de formar ligações com estes elementos (visto possuir quatro electrões de valência), geralmente chamadas moléculas orgânicas. Ou seja, apresenta uma grande afinidade para se combinar quimicamente com outros átomos pequenos, que podem formar largas cadeias. O carbono é abundante, leve e relativamente pequeno em tamanho, fazendo com que seja fácil para as enzimas manipularem as suas moléculas. É comummente assumido em Astrobiologia que se existir vida noutro lugar, será também baseada em carbono. 
 

Inteligência?

Uma cogitação interessante envolve o chamado "Princípio Antrópico". Este, também conhecido como "efeito de seleção de observação", é a hipótese, proposta pela primeira vez em 1957 por Robert Dicke, de que a gama de possíveis observações que poderíamos fazer sobre o universo é limitada pelo fato de que as observações só poderiam acontecer em um universo capaz de desenvolver vida inteligente em primeiro lugar. Os proponentes do princípio antrópico argumentam que ele explica por que este universo tem a idade e as constantes físicas fundamentais necessárias para acomodar a vida consciente, pois se qualquer um deles fosse diferente, não estaríamos presentes para fazer observações. O raciocínio antrópico é frequentemente usado para lidar com a noção de que o universo parece estar bem ajustado para a existência da vida... (ler mais; Wikipédia)

Outro tipo de argumento é o de que a natureza física do Universo é tal que deve ter dentro de si, em algum momento, seres vivos e até 'humanidade' em particular. Brandon Carter deu o nome de "princípio antrópico forte" ao princípio de que o Universo deve ser cognoscível e deve em algum momento, admitir a criação de observadores dentro dele. Os que favoreceram este princípio procuram descrever, em termos amplos, todos os "mundos" possíveis, alguns inevitavelmente adversos, outros capazes de suportar vida. A ideia é, pois, sinalizar as qualidades estruturais propícias à geração de potenciais "observadores". Habitamos, necessariamente, um dos "mundos" do estreito grupo assim descrito.

Capa da revista "Fate" (detalhe); 1948 
"The Flying Disks": detalhe da (fantasiosa) ilustração da capa da revista Fate (vol.1, nº1, Primavera de 1948) representando o suposto avistamento (em 24 de Junho de 1947) por Kenneth Arnold junto do Monte Rainier, no noroeste dos E.U.A. O episódio dará início à mediatização e massificação do tema dos chamados "discos voadores" e da ovniologia.

Roswell - artigo jornal 1947
O "incidente de Roswell" noticiado no jornal local em 8 de Julho de 1947. A partir dos anos 70 gerou-se uma 'teoria da conspiração' que envolve a recuperação de destroços e até de cadáveres alienígenas pelas autoridades, após uma nave alienígena supostamente se ter despenhado num rancho nessa região do Novo México


Quanto à possibilidade de vida extraterrestre inteligente, o argumento probabilístico (a célebre "Equação de Drake" formulada em 1961, v. infra) avançado por Frank Drake (1930-2022) é sobejamente conhecido. Trata-se de uma ferramenta
obviamente conjectural que procura ponderar as variáveis. Em contrapartida, o chamado Paradoxo de Fermi (gizado pelo físico nuclear Enrico Fermi, 1901-1954) reflecte a aparente contradição entre as elevadas estimativas de probabilidade de existência de civilizações extraterrestres e a completa ausência de evidências.

Eis a mencionada equação:

Drake Equation
N é o número de civilizações extraterrestres na Galáxia, com as quais poderíamos ter possibilidade de estabelecer comunicação;
R* é a taxa de formação de estrelas na nossa galáxia;
fp é a fracção de estrelas que possuem planetas em órbita;
ne é o número médio de planetas que potencialmente permitem o desenvolvimento de vida (por cada estrela que possui planetas);
fl é a fracção dos planetas com potencial para vida e que realmente desenvolvem vida;
fi é a fracção desses planetas que desenvolvem vida inteligente;
fc é a fracção dos planetas que desenvolvem vida inteligente e, concomitantemente, tecnologias que emitem sinais detectáveis;
L é o período de tempo ao longo do qual tal civilização emite sinais detectáveis para o espaço.

 

"Arecibo message"
A chamada "Mensagem de Arecibo" (enviada em 1974 da infraestrutura radiotelescópica com esse nome) foi uma mensagem interestelar rádio com informação básica acerca da Humanidade e da Terra, apontada na direcção do enxame globular M13
(a mais de 20000 anos-luz, tempo que a mensagem demorará a chegar ao seu destino!). Na ilustração, uma demonstração dessa mensagem com cores adicionadas para permitir a visualização das suas diversas partes. Inclui os números de 1 a 10, números atómicos (de alguns elementos), fórmulas relacionadas com o ADN, "outline" da morfologia do ser humano, população da Terra, esquema do Sistema Solar e detalhes do radiotelescópio emissor. (Couper, H., & Murtagh, T., Heavens Above! Franklin Watts, 1981, p.58)

Tipologia dos Extraterrestres
Tipologia dos supostos "extraterrestres". O investigador Alvin Lawson estudou os relatos, descrições e representações e concluiu que estes se enquadravam
morfologicamente em seis categorias (crédito: Griffith Observatory; in: Krupp, E. C., Beyond the Blue Horizon, Oxford University Press, 1992, p.339)


A exequibilidade de procura de sinais por radiotelescópio e de pesquisa no espectro das micro-ondas foi sugerida em Setembro de 1959 pelos físicos Giuseppe Cocconi e Philip Morrison no artigo "Searching for Interstellar Communications" publicado na revista Nature. Motivou iniciativas como o projecto SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence), que procura detectar evidências rádio (de baixa frequência) de tecnologia alienígena. O projecto Ozma (implementado por Frank Drake, da Universidade de Cornell, em 1960 no National Radio Astronomy Observatory, em Green Bank) foi a primeira tentativa sistemática de procura de civilizações alienígenas. Em 1980, Carl Sagan, Bruce Murray e Louis Friedman fundaram a U.S. Planetary Society, em parte tendo como objectivo a ousada pesquisa.

Entretanto, as sondas Pioneer 10 e 11 (lançadas em 1972 e 1973) e Voyager 1 e 2 (1977) transportaram mensagens para a eventualidade de uma comunicação com uma civilização alienígena capaz de as descodificar.As sondas Pioneer foram as primeiras a alcançarem a velocidade de escape do nosso Sistema Solar. Transportaram uma uma placa com mensagens para uma eventual comunicação (ver desenho; Ames Research Center, NASA-ARC). Foi concebida por Carl Sagan e Frank Drake, desenhada por Linda S. Sagan. O conteúdo foi criticado pela escolha de elementos e em diversos detalhes da representação, e.g., as figuras humanas não conseguem transmitir uma ideia "pan-racial", a figura masculina surge destacada, sendo a única que acena.

Voyafer - disco
Disco transportado pelas sondas Voyager (NASA/JPL)


As sondas espaciais Voyager 1 e 2 foram lançadas em 5 de setembro de 1977 e 20 de agosto de 1977, respectivamente. Projectadas pela NASA, as viajantes fizeram um "tour" pelos planetas Júpiter, Saturno, Úrano e Neptuno, observaram os sistemas de anéis que esses planetas gasosos possuem e passaram por dezenas das suas "luas". Em fevereiro de 1998, a Voyager 1 ultrapassou a sonda Pioneer 10 e tornou-se o objecto de fabrico humano mais distante no espaço, que decerto continuará a sulcar. A bordo de ambas as sondas seguem os célebres discos fonográficos dourados, com informação para eventuais extraterrestres que a consigam descodificar.

Os discos incluem informações e fotografia do Sistema Solar, ilustrações da estrutura do ADN, anatomia humana, processos de concepção e desenvolvimento da vida, etc. Há informações sobre tamanhos e idades médias dos humanos, imagens dos continentes terrestres, da formação dos elementos mais comuns no nosso planeta e fotografias de plantas e animais. Outras fotografias mostram seres humanos praticando acções quotidianas, aspectos da cultura, artefactos e construções. Ademais há a parte audio, com uma selecção eclética de música e sons do nosso planeta. Também uma mensagem de saudação em 55 línguas diferentes. Numa face há instruções gráficas acerca do funcionamento do disco bem como informações sobre a localização no Sistema Solar, posição do Sol na galáxia, mapa de um pulsar e diagrama da molécula de hidrogénio (informação já encontrada nas placas das Pioneer).

Estes esforços podem parecer demasiado optimistas ou pueris mas traduziram uma intenção notoriamente "ecuménica" de comunicar o que de melhor fazemos a hipotéticos (nós diríamos improváveis) interlocutores.

Entretanto, há outras hipóteses. Como exemplo, Susan Schneider, uma cientista cognitiva, sugere que as mais evoluídas civilizações no Universo serão super-computadores, formas de Inteligência Artificial criadas por formas de vida biológicas que entretanto pereceram ou se fundiram com a sua própria tecnologia (v. Alien Minds, in Steven J. Dick (ed.), "The Impact of Discovering Life Beyond Earth", Cambridge University Press, 2015, pp.189-206). Aqui se integram conceitos das disciplinas filosóficas, antropológicas e astrobiológicas. Para Schneider, as mais sofisticadas civilizações serão pós-biológicas, formas de inteligência que excedem os melhores patamares humanos em todos os campos, das competências sociais à sapiência em geral, passando pela criatividade científica, etc. (Op. cit., pp.189-90)
 
A autora explica: “Postbiological”, in the astrobiology literature contrasts with “posthuman” in the singularity literature. In the astrobiology literature “postbiological” creatures are forms of AI (Artificial Intelligence). In the singularity literature “posthumans” can be forms of AI, but they need not be. They are merely creatures who are descended from humans but which have alterations that make them no longer unambiguously human. They need not be full-fledged AI.
 
Deveremos acreditar que criaturas tão diferentes de nós, não biológicas, i.e. não baseadas em carbono mas em sílica. podem ter consciência, experiência interior? Falamos da nossa consciência, da corrente de experiências (“The Cartesian Theater”, segundo Daniel Dennett, Consciousness Explained. New York, Penguin Press, 1991), no qual um "palco" se apresenta perante o "olho da mente" (metafóricamente falando), estimulado pelo "imput" sensorial, parecendo existir um "si", um ser consciente, ensimesmado, que assiste, de modo síncrono, ao "espectáculo". As entidades artificiais podem, segundo Schneider, provavelmente (e sugere-o cautelosamente) ter uma experiência consciente, como nós temos. (v. argumentos nas pp.194 et seq.)

Algumas referências relacionadas:
- Cirkovic, M. and Bradbury, R., 2006. Galactic Gradients, Postbiological Evolution and the Apparent Failure of SETI. "New Astronomy" 11, pp.628-639.
- Bradbury, R., Cirkovic, M., and Dvorsky, G., 2011. Dysonian Approach to SETI: A Fruitful Middle Ground?, "Journal of the British Interplanetary Society", 64: 156-165.
- Davies, P., 2010. The Eerie Silence: Renewing Our Search for Alien Intelligence. Houghton Mifflin Harcourt.
- Dick, S., 2013. Bringing Culture to Cosmos: the Postbiological Universe, In S. J. Dick, and M. Lupisella (eds.), "Cosmos and Culture: Cultural Evolution in a Cosmic Context"
- Shostak, S., 2009. Confessions of an Alien Hunter. New York: National Geographic.


Terra Rara

 
Numa direcção totalmente diversa temos a hipótese da "Terra Rara" ou "Singular". Estipula que a emergência de vida complexa multicelular (metazoa) na Terra requereu uma combinação improvável de eventos e circunstâncias astrofísicas e geológicas. O termo "Terra Rara" tem origem no livro Rare Earth: Why Complex Life Is Uncommon in the Universe (2000), de Peter D. Ward, geólogo e paleontologista, e Donald Brownlee, astrobiólogo. A Hipótese da Terra Rara é o contrário do Princípio da Mediocridade e, na vastidão do Espaço e do Tempo, as enormes distâncias e a raridade de oportunidades de ultrapassagem dos complexos obstáculos ao desenvolvimento de vida complexa, resolveriam o Paradoxo de Fermi. Nesta perspectiva, a vida complexa necessita de uma grande quantidade de eventos casuais: zona habitável da galáxia, estrela central e sistemas planetários com as características indispensáveis, zona habitável na órbita estelar, o tamanho do planeta, o benefício de um satélite grande, condições necessárias para assegurar que o planeta tenha um campo magnético e placas tectónicas, a química da litosfera, atmosfera, oceanos, o papel da "bomba evolucionária", tais como a glaciação em grande escala e impactos raros de meteoros. Enfim, tudo o que conduziu à misteriosa explosão de deversidade e complexidade biológicas do chamado Período Câmbrico (na Era Paleozóica). Nesta linha de raciocínio, o aparecimento de vida inteligente exige outra vasta e periclitante cadeia de eventos raros.


Distâncias...

O historiador da ciência Allan Chapman, no último capítulo do seu Comets, Cosmology and the Big Bang - A History of Astronomy from Edmond Halley to Edwin Hubble, Lion Hudson  (2018), manifesta uma opinião céptica quanto à possibilidade 'física' de "viagens às estrelas":

"The distances, quite simply, are too vast, and the laws of physics, space, and time are stacked against such adventures. Nor can we conceive of the psychological pressures that might act upon human beings trapped for years, decades, or a lifetime in a spaceship from which there can be no escape or relief. It would be nothing like what Renaissance sailors had to put up with during the months of a long-haul sea voyage, for there would be no sunshine, blue skies, sweet breezes, scenic variety, or normal food and drink, and no joyous homecoming to look forward to for people heading for a galactic exoplanet. A life sentence in Dartmoor Prison would be like a holiday camp by comparison. In Dartmoor, at least you could enjoy the passing seasons and the sunshine, have visitors, meet new faces, and cherish the hope of escaping. How would people cope with the eternal boredom of a long-haul space voyage? Would they go mad, kill, and perhaps even eat each other? When we try to turn Hollywood science fiction into science fact, we must add in all the down-to-earth human components as well as the visionary."

E adiante questiona:
"Why are so many people unhappy with the human race being “alone” in the universe, and willing to invest their intellectual and emotional energies in all manner of future possibilities which go quite beyond the laws of physics as they have been built up, tried, and tested, over the centuries?".

Outra opinião a ter em conta é a do astrónomo que descobriu o primeiro exoplaneta (planeta fora do Sistema Solar):

"If we are talking about exoplanets, things should be clear: we will not migrate there", disse Michel Mayor, co-descobridor do primeiro exoplaneta e laureado em 2019 com o Nobel da Física, numa entrevista à France Press em 2019 (à margem de uma conferência em Madrid). E acrescentou: "These planets are much, much too far away. Even in the very optimistic case of a livable planet that is not too far, say a few dozen light-years, which is not a lot, it's in the neighbourhood, the time to go there is considerable.".

Mayor também afirmou sentir a necessidade de rebater o equívoco de algumas opiniões: “[to] kill all the statements that say, "OK, we will go to a livable planet if one day life is not possible on Earth."" (v. trad. PT-BR em uol.com.br; aced. 03FEV.24).

Vidas extremas...

No que diz respeito à amplitude dos ecossistemas possíveis, surgiu, baseada da constatação feita pelos biólogos (a partir das décadas de 1980 e 1990) de que a a vida microbiana tem grande flexibilidade para sobreviver em ambientes inóspitos (do ponto de vista humano), a descoberta dos Extremófilos.

Diversidade de ambientes extremos na Terra
Diversidade dos ambientes extremos no nosso planeta (Merino N, Aronson HS, Bojanova DP, Feyhl-Buska J, Wong ML, Zhang S and Giovannelli D (2019) Living at the Extremes: Extremophiles and the Limits of Life in a Planetary Context. Front. Microbiol. 10:780. doi: 10.3389/fmicb.2019.00780)

Falamos de organismos capazes de prosperar em condições físico-geo-químicamente extremas para a maioria dos outros seres vivos do nosso planeta, sejam ambientes naturais (e.g., vulcões, oceanos, alta atmosfera, desertos) ou antrópicos, i.e. modificados pela actividade humana (minas, áreas contaminadas, radiação, etc.), expandindo os limites da vida como a conhecemos. A descoberta de bactérias, Archaeas (domínio que agrupa microrganismos unicelulares procariontes, i.e. sem núcleo celular) e inclusivamente animais que vivem ou toleram esses ambientes levanta discussões sobre início da vida na Terra e, num contexto mais abrangente, os limites em que a vida consegue prosperar e, consequentemente, a possibilidade de vida para além das modalidades que conhecemos.


HWO
A maioria dos exoplanetas foi descoberta pelo telescópio espacial Kepler, lançado em 2009. Nesta ilustração, uma antevisão do Habitable Worlds Telescope (HWO), em órbita com o seu "starshade" aberto. O lançamento está previsto para finais da década de 2030 ou inicio da de 2040. O objectivo é a procura de "mundos habitáveis", assinaturas espectrais dos elementos químicos relevantes para a vida, aquilo a que os cientistas responsáveis pelo projecto chamam "biosignatures". (NASA/Robert Lea)


 

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