O Calendário Litúrgico tem relação com o hebraico no que se refere à sua mais conspícua celebração. Um longo percurso e influências diversas determinam celebrações e datas significativas, mobilizando e acrescentando ao vasto substrato cultural pré-Cristão novo simbolismo. À celebração do 'Mistério Pascal', acrescentaram-se festas ideológicas, devocionais e temáticas, bem como algumas celebrações relacionadas com a História da Igreja. A celebração da Paixão e Ressurreição de Cristo constitui o "coração" do Ano Litúrgico. Inclui os ciclos festivos da Páscoa e do Natal, o chamado "Tempo Comum" e outras Solenidades e Festas consagradas ao "Mistério da Redenção".

Há dois ciclos que se desenvolvem em paralelo. Ao conjunto das celebrações que no calendário são "mutáveis", particularmente as vinculadas à Páscoa, dá-se a designação de Proprium de Tempore ou Temporale. O ciclo vinculado às chamadas "festas fixas", incluíndo a evocação dos Santos, é designado Sanctorale (Santoral), sendo divulgado nestas páginas o Calendário Romano Geral, que prevalece sobre os Calendários Diocesanos e Religiosos (Ordens).

Com o aumento gradual do número de celebrações ao longo do percurso, criou-se uma hierarquia através de precedências e 'Oitavas' (semanas festivas) privilegiadas. Após o Concílio Vaticano II, as celebrações dividem-se em 'Solenidades', 'Festas' e 'Memórias' (obrigatórias e facultativas).

O Ano Litúrgico é composto por dias que são santificados pelas celebrações litúrgicas, principalmente pelo Sacrifício Eucarístico e pela Liturgia das Horas (Ofício Divino), o conjunto de orações marcando as horas canónicas (Laudes, Vésperas, Hora Intermédia e Completa). É importante referir que a celebração do Domingo e das Solenidades começa com as Vésperas do dia anterior. De entre os Dias Litúrgicos da semana, o primeiro dia (Domingo, Dies Domini) celebra o Mistério Pascal de Jesus, obedecendo à tradição dos Apóstolos. Por esse motivo, o Domingo deve ser tido como o principal dia de festa.

- O Ciclo da Páscoa começa na quarta-feira de Cinzas e encerra no domingo do Espírito Santo (Pentecostes), durando 13 semanas e meia. A Quaresma decorre da quarta-feira de Cinzas ao domingo de Ramos, preparação penitencial para a Páscoa e para o Baptismo, época tradicional de abstinência da qual restam os dias de jejum obrigatórios da quarta-feira de Cinzas e sexta-feira Santa ou da Paixão. Na Quaresma a cor litúrgica é o roxo, sendo que no quarto domingo, Laetare (a antífona da entrada da Missa dá o tom da celebração: "Lætare Jerusalem", “rejubila” ou “sê feliz”), pode usar-se o rosa.

O Tríduo Pascal são os três dias que antecedem o Domingo de Páscoa, após a Última Ceia de quinta-feira Santa. A Oitava da Páscoa são os oito primeiros dias do Tempo da Páscoa - 'Pequena Oitava', em contraste com a 'Grande Oitava' de sete semanas que culmina com o "Espírito Santo" (Pentecostes: palavra que denuncia os cinquenta dias do período em causa) Na quinta-feira Santa é celebrada a Instituição da Eucaristia e do Sacerdócio e comemora-se o gesto de humildade de Jesus ao lavar os pés dos discípulos. Na sexta-feira Santa celebra-se a Paixão e Morte de Jesus Cristo. É o único dia do ano que não tem Missa, apenas uma Celebração da Palavra. Na noite de sábado, já pertencente ao Domingo de Páscoa, acontece a solene Vigília Pascal. A celebração da Páscoa da Ressurreição do Senhor estende-se por cinquenta dias entre o dia da Páscoa e o domingo do Espírito Santo, comemorando o "retorno de Cristo ao Pai" na Ascensão, e o envio do Espírito Santo. Estas sete semanas devem ser celebradas com exultação. A cor litúrgica é o branco, a luz, tipificando "a inocência e a pureza, a alegria e a glória".

- O Ciclo do Natal inicia o Ano Litúrgico com o 1º domingo do Advento e decorre até ao domingo que sucede à Epifania do Senhor (a festa do Baptismo do Senhor). O tempo do Advento inicia-se quatro domingos antes do Natal e termina no dia 24 de Dezembro, desembocando na comemoração da Natividade. Comemora-se a primeira vinda do Filho de Deus entre os homens. É também, por meio desta lembrança, a expectativa da segunda vinda de Cristo no fim dos tempos. No Advento a cor litúrgica é o roxo, sendo que no Gaudete (terceiro domingo deste período) a antífona de entrada começa com o imperativo “Alegrai-vos!” e pode usar-se o rosa. O Natal é tempo de alegria e acolhimento do "Filho de Deus que se fez Homem". O tempo do Natal vai da véspera do Natal de Nosso Senhor até ao domingo depois da Epifania, em que se comemora o Batismo do Senhor. No ciclo do Natal são celebradas as festas da Sagrada Família, de Santa Maria, Mãe de Deus, Epifania do Senhor e do Baptismo do Senhor.

Atualmente, somente a Páscoa e o Natal têm "Oitava" (termo que se referia ao Domingo, ogdôada ou "dia oitavo". Define aqui a semana que se segue às festas muito importantes, prolongando a sua celebração).

Por regra, não se podem celebrar Festas e Memórias de Santos durante a Quaresma e na segunda fase do Advento (17 a 24 de dezembro).

Restam 33 ou 34 semanas que constituem uma unidade designada "Tempo Comum". O número de semanas inclui na contagem, teoricamente, o domingo após a Epifania e o domingo do Espírito Santo. O Tempo Comum é dividido em duas partes: a primeira fica compreendida entre os tempos do Natal e da Quaresma; a segunda parte fica entre os tempos da Páscoa e do Advento. Comemora-se ainda o próprio "Mistério de Cristo" na sua plenitude, principalmente aos domingos, "um período que nos mostra que Deus se faz presente nas coisas mais simples e que devemos procurar ser um sinal de Cristo no mundo". O Tempo Comum é ainda tempo privilegiado para celebrar as memórias da Virgem Maria e dos Santos. A cor litúrgica é o verde, simbolizando a esperança.

Relacionadas com as estações do ano, as Quatro Têmporas (Quattuor Tempora) são (eram) quatro jejuns celebrados pela Igreja e relacionados com o ritmo sazonal. Ocorrem nas quartas, sextas e sábados de quatro semanas ao longo do ano. Os primeiros dias das quatro têmporas são: quarta-feira após o 1º domingo da Quaresma, quarta-feira após o Pentecostes, quarta-feira após a Exaltação da Cruz e a quarta-feira após o dia 13 de dezembro (Stª Luzia). Tal como em relação às Ladaínhas Menores (Rogações), outorgou-se às Conferências Episcopais a faculdade de determinar o tempo e o modo como devem ser celebradas.

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- Celebrações (listagem)

- "Festas Móveis"

- Ciclos Litúrgicos/ Leituras para os Domingos do Ano Litúrgico

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À esquerda: domingos antes e depois da Páscoa, distanciamento em semanas/dias, in Chronologiae compendium, descriptum ex recensione, Joannis Tassii, Hamburgo, 1691