Estrutura do Calendário Litúrgico e Calendário hagiológico

A partir do séc. XII eram observados, acima de tudo, cinco domingos "móveis":
- Septuagésima (Circumdederunt, do intróito do Salmo 17, 5-7 da antiga Vulgata: "Circumdederunt me fluctus mortis, et torrentes...");
- Quadragésima (o primeiro domingo da Quaresma);
- Páscoa;
- o que antecedia as Rogações (v. infra);

- Pentecostes.

N.B.: o termo "Paschalia" usava-se não apenas em relação à celebração da Páscoa mas era estendido, particularmente ao Pentecostes e ao Natal. Obviamente, todos os domingos (Dominicus ou dominica dies; "dies" tanto é masculino como feminino) estavam associados ao Mistério, o que decerto precedeu o próprio estabelecimento de uma celebração pascal anual nos séculos I-II (v. A. Adam, O Ano Litúrgico..., São Paulo, Edições Paulinas, 1983 [1979], pp.30, 35 e cap. 4). Encontramos em S. Justino, mártir no ano 165, a primeira descrição da reunião cristã dominical.

O Domingo era o primeiro dia sagrado, a Sexta-Feira um dia de penitência, oração e jejum. Note-se que a Semana tem origem Judaica, sendo entretanto adoptada no Império. Os romanos atribuiram aos dias os nomes dos seus deuses (correspondendo aos sete planetas e luminares, como ainda se verifica pelas designações dos dias em diversos idiomas atuais). É certo que uma semana corresponde aproximadamente ao intervalo de cada fase lunar. Contudo, se procurássemos contar as semanas pelas fases, rapidamente ficaríamos dessincronizados. Ao contrário do dia, do mês ou da estação do ano, a semana teve origem convencional, foi uma "invenção" humana.

Por volta do final do séc. II encontramos testemunhos da celebração anual da Páscoa disseminada pelas diversas igrejas. Era uma festa "unitiva" que celebrava a totalidade da manifestação de Cristo, da sua Encarnação à sua Ascensão: "It is important to note that the earliest celebration of Pascha was what we have come to call a unitive feast. It did not parcel out the events of Jesus’ passion, death and resurrection on several days but rather celebrated the whole event of Jesus Christ from incarnation to ascension in one feast that also looked forward to his final coming." (John F. Baldovin, "Christian Year", in: Wilde, James A. (ed.), At that Time: Cycles and Seasons in the life of a Christian, Chicago, Liturgy Training Publications, 1989, p.69).

A data da Páscoa da Ressurreição (Resurrectio, Solemnitas Solemnitarum, Dierum omnium supremus, Dominica gaudii [de alegria], Dies felicissimus, magnus, pulchra [linda, bela], regalis, sancta, Azymorum festum [referência aos pães ázimos]) será a data axial e omnipresente: "Resurrexi, et adhuc tecum sum" (Ressuscitei e ainda estou contigo), do texto antigo do Psalmus 138. A sua véspera era a nox Sagrata, no Sabbatum Luminum ou Magnum. A Semana Santa era conhecida, no ocidente latino, como Hebdomada Crucis, AuthenticaMagna, etc.). A celebração era antecedida por três dias (Lamentationum dies) em cujas matinas se cantavam as Lamentações de Jeremias (como se fazia no Tisha B’av hebraico). De resto, convém compreender que a instituição da Eucaristia na Última Ceia deu à Quinta-Feira Santa (Feria V in Cena Domini; intróito: in Coena Domini, "na Ceia do Senhor") e às quintas-feiras em geral um forte simbolismo cristológico na Idade Média. Na Igreja Grega: Anastasimos (de ανάσταση, "Anastasis", Ressurreição) hêmera (dia).

Em função da data fundamental, temos:

- Quarta-Feira de Cinzas (Dies Cinerum, 1º dia da Quaresma (Quadragesima dies; Quaresima, no Latim popular) e Caput ieiunii, i.e. cabeça ou initium do jejum quaresmal): 46 dias antes da Páscoa (40 dias, salvo os domingos). Um período de preparação para a Páscoa e de preparação dos catecúmenos (electi) para o Baptismo. Apela ao arrependimento e é um poderoso memento mori. Como sabemos, a mensagem da Quarta-Feira de Cinzas resume-se à terrível locução: "Memento homo quia pulvis es et in pulverem reverteris" (Lembra-te, homem, de que és pó e em pó te hás de tornar).

É antecedida pela terça-feira "gorda" de Carnaval (Carnicapium, Carniplarium ou Antecinerales feriae, i.e. o dia que precede a Cinza). Carnaval, Italiano Carnevale, talvez simplesmente carne vale ou mais provavelmente do Latim carnem levare: "Le carnaval est le temps qui précède le moment où l’on va s’empêcher de manger de la viande." (Chelini, Le Caledrier Chrétien, Picard, 1999, p.91). Introdução antitética à Quaresma. A personificação dos dois períodos está patente nas tradições populares medievais e também podemos encontrar o tema da "Luta entre o Carnaval e a Quaresma" interpretado, por exemplo, por Gil Vicente (Maria José Palla (2005), "O Combate entre Carnaval e Quaresma no Auto dos Físicos de Gil Vicente", in: Anuario de Estudios Filológicos [Universidad de Extremadura], vol. XXVIII, 229-247). No ritual popular, a Quaresma ("La Dame Carême", em França) vencia o seu oponente: o Carnaval era julgado, condenado e morto; as suas cinzas espalhadas. Iniciava-se a abstinência.

A tradição ancestral da Quarta-Feira de Cinzas recorda-nos que nos primeiros séculos, neste dia pela manhã, os penitentes se deviam apresentar diante dos sacerdotes destinados a este ministério nas diversas basílicas romanas – ou diante do seu bispo nas outras dioceses. Depois de confessarem as suas faltas, tendo sido graves e públicas, recebiam um vestido de tecido grosseiro coberto de cinzas e retiravam-se da comunidade, sendo privados de toda a actividade pública e familiar, para cumprir a penitência imposta para aqueles quarenta dias, sendo absolvidos na Quinta-Feira Santa. Esta é, como Aurélio Barradas refere, a origem das quarentenas que muitas vezes se encontram nas antigas fórmulas e concessões de indulgências (Martyrologium Lamecense (Texto e Comentário). [Tese Dout., Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2012], p.735). Petere penitentiam era o pedido; suscipere penitentiam era a penitência recebida. Historicamente, a Quaresma surge documentada desde o séc. III no Egipto, ganhando organização canónica definitiva (no contexto latino) no Concílio de Benevento de 1090 [ou 1091] (cf. Chélini, Le Caledrier Chrétien, p.18). 

- Desde o século IV que encontramos referências à Quaresma no Ocidente. Os domingos seguintes, 2º, 3º, 4º e 5º até à Páscoa, eram geralmente conhecidos pelos introitos e antífonas de entrada das respectivas missas (que eram em Latim, obviamente): Invocabit (Psalm. 90, 15), Reminiscere (Psalm. 24, 6), Oculi (Psalm. 24, 15-16), Laetere (Is. LXVI, 10-11) e Judica (Psalm. 42 [na antiga Vulgata; N.B.: numeração difere ligeiramente entre versões]). A Quaresma imita ou evoca os quarenta dias que Jesus jejuou no deserto depois do seu baptismo no rio Jordão (Mt 4,2; Lc 4,1s), os quarenta dias em que Moisés jejuou no Sinai (Ex 34,28) e o profeta Elias caminhou em direção ao monte Horeb, bem como os quarenta anos de peregrinação da nação de Israel pelo deserto.

- O Domingo de Ramos (Ramifera, Dominica Hosanna, Rami palmarum, Olivarum festum, Pascha competentium, ou florum, floridum) - domingo que antecede o Domingo de Páscoa)


- Os três "Dies tenebrarum" que antecediam a Páscoa (que conhecemos como Tríduo Pascal, assumindo doravante, após reformas litúrgicas, maior relevo tanto em relação à Quaresma como ao Tempo da Páscoa), estiveram sempre revestidos de enorme simbolismo:
.

Quinta-Feira Santa
:
Dies mysteriorum, Cena Domini, dies indulgentiae, Natalis Calicis, Sanguis Domini;
Sext
a-Feira Santa: Passionis lugubris dies;
Sábado Santo
(que chamamos "de Aleluia"):
Sabbatum Luminum, Dies lavationis, feria bona septima, viridus dies ["dia verde"], etc.
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Ainda hoje, desde a Quinta-Feira Santa até à Vigília Pascal há um "jejum dos ouvidos": os sinos não tocam! Em paralelo, refira-se o costume de velar as cruzes e as imagens dos santos, um "jejum dos olhos" (A. Adam, Op. cit., p.67). Sexta e Sábado antes da Páscoa eram
"Aliturgici dies", pois não tinham liturgia.

- O domingo que sucede ao da Páscoa (a que chamamos “Pascoela”) era conhecido como Clausum Pascha [Páscoa fechada], domingo in Albis [de branco*] ou Quasimodo (do intróito, Petr. 1, II, 2). O 5º domingo depois da Páscoa era seguido pelos três dias das chamadas "Rogações" (Dies lustrationis, as feriae, i.e. dias da semana, anteriores à tradicional quinta-feira da Ascensão).

* Hebdomada alba ou albaria era uma designação para a semana a seguir à Páscoa e também para a que se seguia ao Pentecostes.

- Na quinta-feira seguinte, 40 dias depois da Páscoa, encontramos a Ascensão (Ascensa ou Ascensio Domini). Dez dias depois acontece outro domingo fundamental, o de Pentecostes (Quadragesimum em Latim) ou "Páscoa do Espírito Santo" (Sancti Spiritus, Paraclitus, Adventus Spiritus Santi, Carismata, Dominica alba; também conhecido como Pascha Rosarum ou Rosatum, da chuva de pétalas de rosa que se lançava na conclusão da missa "materializando" a vinda do Espírito Santo [tradição começou em Itália provavelmente no séc. VII], bem como da cor associada à celebração); da liturgia: Munera quaesumus Domine oblata sanctifica... ("Pedimos ao Senhor que santifique as nossas ofertas..."): 7º domingo após o Domingo de Páscoa – VIIIº Domingo da Páscoa (contando o próprio). Antecedido de uma semana de espera, Hebdomada Expectationis. Esta celebração tem antecedente judaico na "Festa das Semanas" (Shavuot), sete semanas depois da festa dos pães ázimos, ação de graças pelas colheitas e entretanto também associada à Aliança e entrega do Decálogo a Moisés no Sinai. "Pentecostes" é a tradução Grega.

- A Trindade (sanctae Trinitatis, Trinitas aestivalis, Dierum Dominicorum rex; intróito: "Benedicta...") celebra-se no domingo sequente. O dogma desenvolveu-se entre os séculos II e IV mas a solenidade somente foi instituída em 1334, pelo Papa João XXII).

-Corpo de Deus (Corpus Christi, Festum Dei), celebração instituída em 1264, acontece na quinta-feira a seguir à SS. Trindade.

- Depois, contavam-se os domingos depois do Pentecostes (ou, por vezes, da sua oitava), que podiam no máximo ser 28, até aos 4 domingos do Advento ("Vinda", lat. Adventus, Ante Natale), que são os que antecedem o Natal (quatro na solução romana que prevaleceu). O Advento foi introduzido em Roma na segunda metade do séc. V. O seu 1º domingo é o mais próximo do dia 30 de Novembro (festa de S. André), podendo coincidir. O seu intróito: Ad te levavi ("Para ti elevo [a minha alma]", Psalm. 24, 1 na antiga Vulgata). O seu 3º domingo é conhecido como Gaudete ("Alegrai-vos"), tomado de Fl 4,4-5. O Advento parece ser característico das igrejas do ocidente, podendo ter começado como preparação para a Epifania (Ecce advenit, Ml. 3). O Natal (intróito Lux fulgebit, Is. 9) é outra das celebrações magnas: Verbum incarnatum, Nativitas Domini, Mater noctium.

A celebração da Natividade sobrepôs-se ao "Natale Solis Invictus" do deus-sol sírio de Emesa (Síria), instituido por Aureliano em 274. Alternativamente, como A. Adam refere (p.123), "A chamada «hipótese do cômputo» parte da constatação de que já no século II certos teólogos cristãos se empenhavam em computar a data do nascimento de Cristo, não indicada nos evangelhos. Neste cálculo, dedicava-se atenção especial aos equinócios e aos solstícios, por causa do simbolismo solar de Cristo, posteriormente enraizado na consciência cristã. Segundo esta hipótese, ter-se-ia chegado, entre outras coisas, à conclusão de que João Baptista teria sido concebido no equinócio de outono e dado à luz no solstício de verão. Como, porém, Cristo teria sido concebido seis meses depois de João, segundo Lc 1,26, sua concepção deve situar-se no equinócio de primavera (25 de março) e seu nascimento, consecutivamente, no dia 25 de dezembro." Segundo A. Adam (p.141), os mais antigos calendários litúrgicos já tinham uma série de festas de santos logo a seguir ao Natal. Na Idade Média, eram o "cortejo de honra" do Cristo Menino, os Comites Christi ("Companheiros de Cristo"). Na liturgia romana eram - nos dias sequentes, 26, 27 e 28 - S. Estêvão proto-mártir (i.e. primeiro mártir), o apóstolo e evangelista João e os Inocentes massacrados por ordem de Herodes, já elencados num calendário da cidade de Cartago do ano 505.

Com a Encarnação, o Tempo circular, do "eterno retorno", é substituído pelo linear, histórico: "Le Christianisme a marqué une rupture avec le temps circulaire. Nous vivons désormais dans un temps linéaire. Il y a un temps, une histoire pour tous qui a commencé et qui finira, une vie, une seule, pour chacun, qui a commencé et qui finira." (Chélini, Op. cit., p.14). A Encarnação é fundamental e o argumento que afirmava "sem Encarnaçáo não há Redenção" foi utilizado no séc. IV contra o Arianismo (Arius afirmava que Cristo era apenas um homem, adoptado por Deus mas sem ser Deus ou Filho de Deus).

Nas religiões Extremo-Orientais, o Tempo é eterno e circular. E para os filósofos Antigos, o Mundo não era finito. Aristóteles sustentava que não teria sido criado e não poderia ser destruído. Platão admitia que houvera um começo mas acreditava que nunca aconteceria um final. Os Atomistas postulavam a eternidade da matéria (somente a forma era mutável). Não será assim no Cristianismo. Santo Agostinho, concordando com a opinião expendida nas Divinae institutiones de Lactâncio, séc IV, de uma espécie de "Semana Milenar" ou "Universal" que emulava a da Criação: Hexaemeron. Para o bispo de Hipona, o mundo estaria na sua sexta e derradeira "Idade", a que seguiria uma sétima de Paz Eterna. E no primeiro milénio acreditava-se que o fim estaria iminente, com a segunda vinda de Cristo (Parúsia). A descrição dos sinais encontra-se, por exemplo, em Lc. 21-25-28. E Pedro escreve (I Pe. 4, 7): "O fim de todas as coisas está próximo; portanto, sejam criteriosos e sóbrios para poderem orar...". Mais tarde, Joaquim de Flora (Fiore) decalcará da Trindade a sua explicação para as (três) sucessivas Idades do Mundo, que terminará na "Idade do Espírito Santo" e a revelação do "Evangelho Eterno". É certo que a leitura literal do Apocalipse havia sido descartada pela Igreja, com a condenação precoce do Quiliasmo (Milenarismo) no Concílio de Éfeso. Mas permanecerá popular ao longo da Idade Média.
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O Ciclo do Natal é mais tardio do que o Pascal, encontrando-se mencionado oficialmente pela primeira vez num calendário romano de 336. (Chélini, p.19). Depois do Natal, assinalam-se outras importantes celebrações até à Epifania
(Apparitio Domini, Magorum festum, Stellae festum), celebração que outrora coincidia com o Baptismo de Cristo (Baptismus Christi), a vinda dos Magos e as Bodas de Canaã, o primeiro milagre de Jesus.

Duas festas relacionadas mas fora do "ciclo" do Natal eram a Candelária e a Anunciação. Eram consideradas festas Marianas:

- A Nª Sª das Candeias, "da Luz" ou "da Candelária" (Candelatio, Candelarum festum), 2 de Fevereiro, radicava em prescrições de pureza cultual exaradas no Antigo Testamento, obrigatórias no quadragésimo dia após o parto. Em Roma, segundo testemunho posteriores ao séc. V, realizava-se uma "procissão das luzes". O nome da celebração até 1969 era Purificatio Beatae Mariae Virginis. Hoje o enfoque é decididamente cristológico, Christi templo deductio ("Apresentação do Senhor").

A Anunciação (Incarnatio, Conceptio Domini, 25 de Março, distando 9 meses do Natal, i.e. o período de uma gestação) foi outra celebração fundamental. Marcava o ponto de partida do ano (i.e. o primeiro dia do novo ano) num dos estilos mais utilizados na Idade Média, havendo duas variantes. Também assinalou o início do ano em Portugal. [N.B.: é o momento da "Anunciação" que é relembrado na Hora do Angelus, mediante o Toque das Ave-Marias ou Toque das Trindades, correspondendo às 6, 12 e 18 horas. Neste formato "trino", data do séc. XV (Sisto IV e Alexandre VI)]-

A primeira celebração da Encarnação teve lugar a 6 de Janeiro (Epifania), celebrada no Oriente pelas igrejas regionais com diferentes focos: a Natividade em Jerusalém, o Baptismo do Senhor no Egipto. No séc. IV, quase todas as igrejas orientais (com a exceção temporária de Jerusalém e permanente da igreja da Arménia) aceitaram o dia 25 de Dezembro como data da Natividade, enquanto as igrejas ocidentais aceitaram o dia 6 de Janeiro como sendo a Epifania (com as várias nuances que esta festa assumiu: Magos, Baptismo e o Milagre nas Bodas de Canaã).

Quatro Têmporas:

Cada uma destas estava relacionada com uma das quatro estações do ano, como se pode verificar mais abaixo na listagem "Intervalos de datas".
1) quarta, sexta e sábado da semana da Quaresma
2) quarta, sexta e sábado da primeira semana depois do Pentecostes
3) quarta, sexta e sábado depois da celebração da Santa Cruz (14 Set.)
4) quarta, sexta e sábado depois do dia de Santa Lúzia (13 Dez.)

Litanias (Ladaínhas):

As “maiores”, reguladas por S. Gregório Magno (†604), aconteciam no dia 25 de abril, dia em que será mais tarde instituída a festa de S. Marcos.
As “Ladainhas menores” (Litania minor, Gallicana ou Rogações) foram, segundo a tradição, introduzidas em Vienne (sudeste da Gália) no séc. V por S. Mamertus e prescritas para toda a Igreja por Leão III (†816). Aconteciam ao longo dos dias anteriores à festa da Ascensão do Senhor.


"Dia de Todos os Santos" (Festum omnium sanctorum): a comemoração regular começou quando, em 13 de maio de 609 ou 610, o Papa Bonifácio IV dedicou o célebre Panteão de Agripa, em Roma, a Maria e a todos os mártires (i.e. "testemunhas", segundo a etimol. grega). Entretanto, na época carolíngia, verifica-se uma forte influência de clérigos insulares (das ilhas britânicas) no continente, nomeadamente através de Alcuíno de York. A data passou a coincidir com a tradicional festa Céltica do fim das colheitas e início do Inverno (Samhain ou Samaín), também uma ocasião em que os limites com o "ultramundo" se desvaneciam (perpetua-se parodiada no Halloween). Acabou definitivamente fixada em 1 de Novembro por Gregório IV no séc. IX, era Luís (o Pio) o Imperador Romano-Germânico.


As representações do tempo na Idade Média

Por um lado, o tempo (ou um determinado tempo) era “circular”, seguindo o ano litúrgico e o (correlativo) ano das estações. A vivência de um tempo cronológico rigoroso, como hoje concebemos era estranha, mesmo para muitos dos que viviam no saeculum, ou segre (percebido, de modo incerto, somente como um intervalo relativamente extenso). Na prática, porém, as representações do tempo não configuravam uma totalidade coerente, constituíndo implementações singulares, cada qual com as suas características, dependendo do contexto. A Idade Média constituiu um período dinâmico e plural, sendo que um denominador comum era a universal e inquestionável presença do divino, do numinoso. Quanto ao homem, existia um paradigma universal e eterno do humano. Teologicamente, os acontecimentos foram percebidos, desde muito cedo, numa perspectiva linear: da Criação até à Segunda Vinda de Cristo. Tradução dos desígnios da Providência Divina e palco da irrupção do sagrado no devir histórico. A duração era espiritualmente qualificada, plena de reverberações sobrenaturais. A sucessão dos momentos e das eras fora encetada na Criação e, tendo a Eternidade como pano de fundo, transcorria irrefragavelmente para o Fim dos Tempos (v. Leandro Rust, Jacques le Goff e as Representações do Tempo na Idade Média, in: «Fênix – Revista de História e Estudos Culturais», Abril/ Maio/ Junho de 2008, vol. 5, Ano V, nº 2, p. 3).o


ESTRUTURA e CICLOS

O "paradoxo" deste caledário já havia sido reconhecido por S. Jerónimo: todo o tempo pertencia ao Senhor e, consequentemente, não havia na realidade dias santos e nenhum dia seria mais abençoado do que qualquer outro no Cristianismo.

Todavia, os ciclos organizam, actualizam e consolidam a vivência religiosa, sacralizando o tempo. O ano é um círculo prenhe de significação na sua dinâmica sazonal. Elencam-se, seguidamente, os dois ciclos estruturantes, bem como os intervalos de datas (i.e. limites) das celebrações em função da data axial da Páscoa. O Temporale é o tempo propriamente litúrgico. Ao conjunto dos dois ciclos sobrepunha-se um outro, Quatuor Tempora ("Quatro Têmporas"), vestígio paleocristão que consistia em quatro semanas repartidas regularmente numa lógica sazonal (como prelúdio das quatro estações). N.B.: celebrações começam sempre na véspera, ao entardecer do dia precedente, ao modo judaico.

Ciclo Pascal

Septuagésima

9º domingo antes da Páscoa

Sexagésima

8º domingo antes da Páscoa

Quinquagésima

7º domingo antes da Páscoa

Quarta-Feira de Cinzas (início da Quaresma)

Quarenta dias antes do Domingo de Ramos

1º Domingo da Quaresma (Invocavit)

6º domingo antes da Páscoa

2º Domingo da Quaresma (Reminiscere)

5º domingo antes da Páscoa

3º Domingo.da Quaresma (Oculi)

4º domingo antes da Páscoa

4º Domingo da Quaresma (Laetare)

3º domingo antes da Páscoa

Domingo da Paixão (Judica; 5º da Quaresma)

2º domingo antes da Páscoa

Domingo de Ramos (6º da Quaresma)

1º domingo antes da Páscoa

Quinta-Feira Santa (Coena Domini)

Três dias antes da Páscoa

Sexta-Feira Santa (Parasceve)

Dois dias antes da Páscoa

Sábado Santo ou de Aleluia (bênção anual do Círio Pascal)

Véspera da Páscoa

Páscoa

[Celebração móvel fulcral]

Domingo "in Albis" (Quasimodo)

1º domingo depois da Páscoa

Rogações

Os quatro dias (domingo – quarta-feira) precedendo a Ascensão (5ª semana depois da Páscoa)

Ascensão

Quarenta dias após a Páscoa (quinta-feira)

Pentecostes (Espírito Santo)

Cinquenta dias (7º dom.) após a Páscoa

Domingo da Trindade

1º domingo depois do Pentecostes

Corpo de Deus

Doze dias depois do Pentecostes (quinta-feira). Instituída nos séc. XIII

Ciclo da Natividade

Concepção da Virgem Maria (Imaculada Concepção)

8 de Dezembro

Natividade da Virgem Maria

24 de Setembro

Apresentação da Virgem Maria

21 de Novembro

Anunciação (Conceptio Domini)

25 de Março

Visitação

6 de Abril

Natividade de Cristo (Natal)

25 de Dezembro

Circuncisão do Senhor

1 de Janeiro

Adoração dos Magos (Epifania)

6 de Janeiro

Apresentação de Jesus no Templo e Purificação da Virgem Maria

2 de Fevereiro

Assunção da Virgem Maria

15 de Agosto

 

Nº de domingos do Tempo Comum em função do intervalo de datas da Páscoa

Data da Páscoa:

Depois da Epifania

22 – 24 Mar.

1

25 – 31 Mar.

2

1 – 7 Abr.

3

8 – 14 Abr.

4

15 – 21 Abr.

5

22 – 25 Abr.

6

Data da Páscoa:

Depois do Pentecostes

22 – 26 Mar.

28

27 Mar. – 2 Abr.

27

3 – 9 Abr.

26

10 – 16 Abr.

25

17 – 23 Abr.

24

24– 25 Abr.

23


Datas extremas
- Os domingos assinalados a azul só se “realizavam” se a data da Páscoa o permitisse (v. tabela anterior); também se destacam as chamadas "Têmporas" (vernal, estival, outonal e hiemal).

Domingos e Celebrações (em latim)

Mínimo

Máximo

Dom. in oct. Circumcisionis

2 JAN.

5 JAN.

Dom. in oct. Epiphaniæ

7 JAN.

13 JAN.

Dom. 2ª post Epiphaniam

14 JAN.

20 JAN.

Dom. 3ª post Epiphaniam

21 JAN.

27 JAN.

Dom. 4ª post Epiphaniam

28 JAN.

3 FEV.

Dom. 5ª post Epiphaniam

4 FEV.

10 FEV.

Dom. 6ª post Epiphaniam

11 FEV.

14 FEV.

Dom. in Septuagesima

18 JAN.

22 FEV.

Dom. in Sexagesima

25 JAN.

29 FEV.

Dom. in Quinquagesima

1 FEV.

7 MAR.

Dies Cinerum (Caput ieiunii)

4 FEV.

10 MAR.

Dom. 1ª Quadragesimæ

8 FEV.

14 MAR.

F. 4ª IV Temporum vern.

11 FEV.

17 MAR.

Dom. 2ª Quadragesimæ

15 FEV.

21 MAR.

Dom. 3ª Quadragesimæ

22 FEV.

28 MAR.

Dom. 4ª Quadragesimæ

1 MAR.

4 ABR.

Dom. Passionis (5ª Quadr.)

8 MAR.

11 ABR.

Dom. Palmarum (6ª Quadr.)

15 MAR.

18 ABR.

Cena Domini

19 MAR.

22 ABR.

Parasceve

20 MAR.

23 ABR.

PASCHA

22 MAR.

25 ABR.

Dom. in Albis (1ª post Pascha)

29 MAR.

2 MAI.

Dom. 2ª post Pascha

5 ABR.

9 MAI.

Dom. 3ª post Pascha

12 ABR.

16 MAI.

Dom. 4ª post Pascha

19 ABR.

23 MAI.

Dom. Rogationum (5ª p. Pascha)

26 ABR.

30 MAI.

ASCENSIO DOMINI

30 ABR.

3 JUN.

Dom. in oct. Ascensionis

3 MAI.

6 JUN.

PENTECOSTES

10 MAI.

13 JUN.

F. 4ª IV Temporum æstiv.

13 MAI.

16 JUN.

Dom. Trinitatis (1ª p. Pentecost.)

17 MAI.

20 JUN.

Corpus Christi

21 MAI.

24 JUN.

Dom. 2ª post Pentecosten

24 MAI.

27 JUN.

Dom. 3ª post Pentecosten

31 MAI.

4 JUL..

Dom. 4ª post Pentecosten

7 JUN.

11 JUL..

Dom. 5ª post Pentecosten

14 JUN.

18 JUL..

Dom. 6ª post Pentecosten

21 JUN.

25 JUL..

Dom. 7ª post Pentecosten

28 JUN.

1 AGO.

Dom. 8ª post Pentecosten

5 JUL..

8 AGO.

Dom. 9ª post Pentecosten

12 JUL..

15 AGO.

Dom. 10ª post Pentecosten

19 JUL..

22 AGO.

Dom. 11ª post Pentecosten

26 JUL..

29 AGO.

Dom. 12ª post Pentecosten

2 AGO.

5 SET..

Dom. 13ª post Pentecosten

9 AGO.

12 SET..

Dom. 14ª post Pentecosten

16 AGO.

19 SET..

Dom. 15ª post Pentecosten

23 AGO.

26 SET..

Dom. 16ª post Pentecosten

30 AGO.

3 OUT.

Dom. 17ª post Pentecosten

6 SET.

10 OUT.

Dom. 18ª post Pentecosten

13 SET.

17 OUT.

Dom. 19ª post Pentecosten

20 SET.

24 OUT.

Dom. 20ª post Pentecosten

27 SET.

31 OUT.

Dom. 21ª post Pentecosten

4 OUT.

7 NOV.

Dom. 22ª post Pentecosten

11 OUT.

14 NOV.

Dom. 23ª post Pentecosten

18 OUT.

21 NOV.

Dom. 24ª post Pentecosten

25 OUT.

26 NOV.

Dom. 25ª post Pentecosten

1 OUT.

26 NOV.

Dom. 26ª post Pentecosten

8 NOV.

26 NOV.

Dom. 27ª post Pentecosten

15 NOV.

26 NOV.

Dom. 28ª post Pentecosten

22 NOV.

26 NOV.

F. 4ª IV Temporum autumn.

15 SET..

21 SET..

Dom. 1ª Adventus

27 NOV.

3 DEZ.

Dom. 2ª Adventus

4 DEZ.

10 DEZ.

Dom. 3ª Adventus

11 DEZ.

17 DEZ.

F. 4ª IV Temporum hiem.

15 DEZ.

21 DEZ.

Dom. 4ª Adventus

18 DEZ.

24 DEZ.

Dom. in oct. Nativitatis

26 DEZ.

31 DEZ.

 

Festividades "fixas" e calendário hagiológico (geral) que se cumpria em Portugal

Andrés de Li, Reportorio (excerto)

O culto dos santos, particularmente o dos mártires, parece ter nascido espontaneamente, recuando aos tempos remotos da história da Igreja. O conteúdo dos santorais assumiu uma enorme diversidade, que não foi normalizada até muito tarde. O denominador comum foi o uso romano, disseminado pela Europa na época Carolíngia, tendo como base os Sacramentais dos papas Gelásio I (492-496) e Gregório Magno (590-604). Note-se que a canonização é um procedimento somente introduzido no final do séc. XI (por João XV). O número das festas de santos incrementa ao longo dos séculos numa inflação que resulta da acumulação de personagens, bem como do desenvolvimento do culto das relíquias (multiplicação da “invenção” [i.e. descoberta] de relíquias), transladações (“treslações”, como se escrevia entre nós), datas de elevações (episcopais, papais, etc.) nas incumbências da burocracia da Igreja, difusão do perímetro geográfico de influência do hagiólogo das ordens religiosas, etc. Eleva-se às centenas no final da Idade Média, será pela primeira vez criticado oficialmente no Concílio de Constança (início do séc. XV), somente organizado depois de Trento e formalmente regulado através da bula “Universa per orbem” de Urbano VIII (1642). Em resumo, as listas que conhecemos do período tardo-medieval, em breviários e almanaques, são criações "artificiais", por vezes uma amálgama anárquica e imprecisa, sem um racional litúrgico. Assistimos à celebração em diferentes datas de efemérides diversas de um mesmo santo (e.g., natale [morte ou martírio, o "nascimento celestial"], data do nascimento propriamente dito, descoberta das relíquias, transladação), alterações pontuais relacionadas com a articulação com o Temporale (devido à sobreposição com celebrações mais importantes) ou mesmo alterações estruturais para abrir espaço e introduzir celebrações consideradas mais relevantes. Os nomes dos santos assumem amplas variantes, em parte resultado das traduções vernaculares.Quanto à descrição (idealizada) das suas vidas, um texto extremamente popular na Idade Média foi a chamada "Legenda Dourada" (Legenda aurea ou Legenda sanctorum) do dominicano Jacobus (Tiago) de Voragine (séc. XIII).

Apesar do que foi mencionado, podemos afirmar que as listagens perpetuam grosso modo as datas fundamentais da devoção no respetivo contexto cultural. Os dias de certos santos eram sinónimo das datas, conhecidos de todos e documentados nos registos e crónicas medievais. Todos sabiam quando era o São Vito, o São Crispim, o São Matias ou o São Bartolomeu. Todavia, faltam algumas referências portuguesas medievas incontornáveis, e.g., Stª. Iria (Herene), de Nabância (Tomar), vinculada a Santarém e ao nome da cidade (20 Out.); Iacobus (Tiago), dito Intercisus ("O Interciso", mártir Persa cujas relíquias supostamente chegaram a Braga, daí a presença do topónimo na sua nomenclatio, 26 Nov.); Verissimus, Iulia e Maximus, mártires de Vlixbona, i.e. Lisboa (1 Out.). Relacionados com Bracara (Braga) estão outros santos (alguns constam da listagem infra) portugueses ou estrangeiros mas associados a essa importante diocese: Martinus Dumiensis (Martinho de Dume), ep. (episcopus, bispo), m.579/80; Victor, m.300; Fructuosus, ep., m.66; e Geraldus, archiep. (arcebispo), m.1108.

Outros santos de Portugal: S. Pedro de Rates, S. Félix eremita (que na lenda é responsável pelo achamento do corpo martirizado do anterior), S. Torpes, S. Torcato, Stº Ovídio, Stª Quitéria, S. Gens, St.ª Engrácia, etc.

Listagem seguinte respaldou-se em elencos um pouco tardios mas com vínculo inequívoco às principais celebrações e devoções medievais e tardo-medievais. Informação retirada dos "Reportorios dos tempos" de Andrés de Li (1552), André do Avelar (1602) e Manoel de Figueiredo (1603), bem como do Lunario de Geronimo Cortes (ou Cortez; impr. Pedro Madrigal, Madrid, 1598) e do Thesouro de Prudentes de Cardozo de Sequeira (edição de 1626). Consultou-se o Martyrologe Universel… de Chastelain (Paris, Frederic Leonard, 1709) bem como, para confirmação de alguns nomes, algumas listagens de calendários de ordens, dioceses ou jurisdições, disponíveis no programa informático Universal Calendar Calculator, v.1.55 [Cumberland F. Software, 2010]). N.B.: "Oitava" era um termo que se referia ao Domingo, ogdôade ou "dia oitavo", a semana que se seguia às festas muito importantes, prolongando a sua celebração. Recuam à época de Constantino e à dedicatória das basílicas. Hoje, apenas a Páscoa e o Natal conservam oitava.

Entretanto acontecerá a revisão tridentina (na sequência da decisão tomada no Concílio de Trento, 1545-63), divulgada na primeira edição do Breviário em 1568 e do Missal em 1570. Esse calendário, estabelecido por Pio V, foi o primeiro a ser considerado "geral" no rito romano. Antes, os termos pelos quais se podia conhecer a solenidade de uma festa eram, em muitas igrejas, diferentes dos termos que agora usamos.

.janeiro
1
Circuncisão de N.º Senhor
2
Oitava de S. Estêvão (proto-mártir)
3
Oitava de S. João Evangelista
4 Oitava dos Inocentes
5 S. Simeão estilita
6
Epifania; Festa dos três Reis Magos
7
S. Julião, mártir
8 S. Severino, bispo
9 Stª Marciana, virgem
10 S. Paulo, primeiro ermitão; S. Gonçalo de Amarante
11 S. Ignio (Higino), papa e mártir
12 S. “Satyro” (Sátiro), mártir
13
S. “Ilario” (Hilário), bispo
14
S. Félix, sacerdote
15
S. Amaro, abade
16
“Os mártires [de Marrocos] que estão em Coimbra”; S. Marcelino, papa e mártir, no Lunario de Cortes.
17
S. Antão, ermitão
18
Stª Prisca, virgem
19
S. Ponciano, mártir
20
S. Fabião (papa) e S. Sebastião, mártires
21
Stª Inês, virgem e mártir. Vigília
22
S. Vicente, mártir
23
S. Ildefonso e Stª Emerenciana
24
S. Timóteo
25 Conversão de S. Paulo
26 S. Policarpo, bispo; S. Simplício, S. Severiano
27 S. João Crisóstomo, S. Julião
28 S. Sulpício Severo
29 S. Valério, bispo
30 Stª Aldegunda, virgem; S. Gemeniano
31 S. Ciríaco, mártir
.fevereiro
1 Stª Brígida, virgem
2 Candelária, Purificação de Nª Senhora
3 S. Brás, bispo
4 Stª Verónica, virgem
5 Stª Águeda, virgem
6
Stª Doroteia, virgem
7
S. Richarte (Ricardo), rei
8
S. Salamão [Salomão da Bretanha?, séc. IX], mártir; S. Ciro, bispo (segundo A. de Li)
9 Stª Apolónia, virgem e mártir
10 Stª Escolástica, virgem
11 Stª Eufrosina, virgem
12 Stª Eulália, virgem
13
S. Castor, sacerdote e Stª Fusca, virgem
14 S. Valentim, bispo e mártir
15 S. Faustino, mártir (Cortez grafa "Faustino y Iovita")
16 Stª Juliana, virgem
17 S. Policrónio, bispo
18 Constança, virgem; S. "Claude", S. Teotónio
19 S. Gabino e Stª Susana
20
S. Eustáquio; S.  Zenóbio, presbítero
21 S. Hilário, papa
22 Cadeira de S. Pedro
23 S. Geraldo, arcebispo de Braga
24 S. Matias, apóstolo
25 S. Vitorino
26 S. Nestório, bispo
27 S. Julião, mártir
28 S. Romão, abade
.março
1 S. Albino (ou Albânio), bispo
2 S. Simplício, bispo
3 S. Demétrio e “Celedom” (Celedonius)
4 S. Adriano, mártir
5 S. Eusébio, mártir
6 S. Victor e S. Vitorino)
7 S. T. de Aquino, Stªs Perpétua e Felicidade (Felicitas)
8 S. Adrião ou Arrião, mártir
9 "Os quarenta martires" (de Sebaste)
10
S. Alexandre, papa e mártir
11
S. Guilherme, mártir
10 S. Gregório, papa e doutor
13 S. Leandro, bispo
14 Stª Florência, virgem
15 S. Longino, mártir
16 S. Ciríaco, mártir
17 S. Patrício, bispo; Stª Gertruda, virgem
18 S. Gabriel, arcanjo; S. Anselmo, bispo
19 S. José, confessor
20 S. Vulfram [Vulfrano de Sens], conf.
21 S. Bento, abade
22 S. Paulino, bispo
23 S. Serapião, abade; S. Teodoro
24 S. "Agepicio"(Agapito)
25 Anunciação de Nª Senhora [Dominicae matris festiva, nove meses, o tempo de uma gestação, antes do Natal]
26 S. Castor, mártir
27 S. Roberto, bispo
28 S. Marcelo, papa
29 S. Quintino, mártir
30 S. Segundo e seus companheiros
31 Stª Sabina
.abril
1
Conversão de Madalena
2 Stª Teodósia, virgem
3 Stª Maria “Egiptiaca” (do Egipto); assoc. ao dia 1 no Lunario.
4 S. Ambrósio, bispo
5 S. Vicente da ordem dos pregadores
6 S. Diógenes, mártir
7 Celestino, papa
8 S. Apolónio, mártir; Dionísio, bispo e pregador
9 S. "Diascorio", abade; S. Procópio, mártir
10 Ezequiel, profeta; S. Apolónio e comp.
11 Eustórgio, presbítero
12 S. Júlio I, papa
13 Stª Eufémia, virgem; S. Justino, filósofo e mártir
14 S. Tibúrcio e S. Valeriano, mártir
15 Stª Helena, virgem
16 S. Frutuoso, arceb. de Braga; Engrácia, Isidoro, márt.
17 S. "Niceto" (Aniceto), papa e mártir
18 S. Eleuterio, bispo
19 S. Hermógenes, mártir
20 Stª Engrácia, virgem e mártir
21 S. Simeão, mártir
22 S. "Soterio" (Sotero), papa
23 S. Jorge, mártir
24 S. Alberto, bispo
25 S. Marcos, evangelista
26 S. Cleto, papa
27 S. Anastácio, papa (A. de Li elenca "Atanasio"; Cortez "S. Anastasia")
28 S. Vidal, mártir
29 S. Pedro, mártir
30 S. Eutrópio, bispo
.maio
1
S. Filipe e "Sanctiago" (S. Tiago)
2 S. Atanásio, bispo
3 "a invenção da Sancta Cruz" [inventio = "descoberta" das relíquias]
4 S. Floriano, mártir
5 S. Gotardo, bispo
6 S. João na Porta Latina ("ante porta latina", 1517)
7 Stª Domicília, virgem; S. Juvenal
8 S. Desiderato, bispo
9 Transladação de S. Nicolau e S. Gregório
10 S. Gordiano, bispo
11 S. Mamerto, bispo
12 S. Domingos da Calçada
13
Stª Teodora, virgem; S. Floriano, mártir
14 S. Bonifácio, mártir
15 S. Isidoro, mártir; S. Torcato
16 S. Peregrino, bispo; S. Ubaldo, bispo e conf.
17 "trelação" de S. Bernardo
18 S. Felice, bispo e mártir
19 Stª Potenciana, virgem
20 S. Bernardino, confessor
21 S. Prudente, mártir
22 Stª Helena, rainha
23 Stª Juliana, virgem
24 S. Desidério
25 S. Urbano, papa
26 S. Beda, sacerdote
27 S. João, papa
28 S. Guilhermo (Guilherme), bispo
29 S. Máximo, bispo
30 S. Felices (Félix), papa e mártir
31 Stª Petronilha (Petronilla), virgem
.junho
1
S. Nicomédio, mártir
2
S. Marcelino, papa
3 S. Erasmo, bispo e mártir
4 S. "Cerino" (Quirino), mártir
5 S. Bonifácio, bispo
6 S. Cláudio, bispo
7 S. Luciano, bispo
8 S. Medardo, bispo
9 S. Primo e Feliciano
10 S. Onofre, ermitão
11 S. Barnabé, apóstolo
12 Ss. Basílio e Basília
13 S. António de Lisboa
14 S. Exupério
15 Ss. Vito (Guido) e Modesto (e Crescência)
16 Ss. "Quirito, & Iulita"
17
Stª Paula, virgem
18 Ss. Marcelo e Marcelino
19 Ss. Gervásio e Protásio
20 Stª Florência, virgem
21 S. Albano, confessor
22 S. Acácio "& dez mil martires"
23 S. João, sacerdote
24 "Nascença" de S. João Baptista
25 S. Amândio, bispo
26 S. João e S. Paulo
27 "Os sete dormentes"
28 S. Leão II, papa
29 S. Pedro e S. Paulo
30 Comemoração de S. Paulo e S. Marçal
.julho
1
Oitava de S. João
2 Visitação de Nª Senhora
3 S. "Tebaldo" (Teobaldo), bispo (elencado no 1º dia do mês por Andrés de Li)
4 S. "Uldarigo" [Ulrich de Augsburgo], bispo
5 S. Laureano (Laurien), mártir
6 S. "Suero" (Severo? Severino de Campânia? Sisoé, eremita?); Oitava de S. Pedro e S. Paulo (após Trento)
7 S. Marçal
8 S. Procópio, abade
9 S. Cirilo, bispo
10 "Os sete irmãos [de Stª Felicidade] martyres"
11 S. Pio, papa e mártir
12
S. "Hermogário" (Hermágoras), bispo
13 S. Henrique, mártir
14 S. Boaventura, doutor
15 A divisão dos Apóstolos; "Quiriti e Juli." (Ss. Quírico e Julieta, ou Julita)
16 Aureliano, bispo; Eustáquio, mártir (segundo A. de Li)
17 S. Aleixo, confessor
18 Stª Marinha, virgem
19 Stª Justa e Stª Rufina, mártires
20 Stª Margarida, virgem
21 S. Victor, mártir
22 Stª Maria Madalena
23 S. Apolinário, bispo
24 Stª Cristina, virgem
25 "Sanctiago" (S. Tiago), apóstolo
26 Stª Ana
27 S. Simeão, S. Bertoldo (S. Pantaleão no Lunario de Cortes)
28 S. Pantaleão, mártir; "Zareo.& Celso" (Nazareo e Celso, mártires)
29 Stª Beatriz, Stª Marta
30 Ss. "Abdon, & Senen." [os persas Abdon e Senén]
31 S. Germano [Germain de Auxerre], bispo
.agosto
1
Cárcere de S. Pedro
2 S. Estêvão, papa e mártir
3 "invenção" [descoberta] de S. Estêvão
4 S. Domingos, confessor
5 Stª Maria da Neves
6 Transfiguração do Senhor
7 S. Donato, bispo
8 S. Ciríaco, bispo
9 S. Romano
10 S. Lourenço, mártir
11 S. Tibúrcio e Stª Susana, mártires
12 Stª Clara, virgem
13 S. Hipólito, mártir
14 S. Eusébio, confessor
15 Assumpção (Assunção) de Nª Senhora
16 S. Roque, confessor
17 S. Mamede, mártir
18 Agápito, mártir e Stª Helena
19 S. Luís, bispo
20 S. Bernardo, abade
21 S. Anastácio, mártir
22 S. Timóteo
23 S. "Zacheo" (Zaqueu), bispo
24 S. Bartolomeu, apóstolo
25 S. Luís, rei de França
26
S. Severino, mártir
27 S. Rufo, confessor
28 S. Agostinho, bispo
29 "Degolação de Sam João"
30 Ss. Félix e Audácio, mártires
31 S. Paulino, bispo.
.setembro
1
S. Gil, abade
2 S. "Amerigo" (Emérico da Hungria), duque
3 S. "Mansucto" (Mansueto), bispo
4 S. Moisés, confessor
5 S. Marcelo, mártir
6 S. Eugénio, bispo
7 Zacarias, profeta
8 "a Nascença de nossa Senhora"
9 S. Gorgónio, mártir
10 S. Nicolau de Tolentino
11 Ss. Proto e Jacinto (Procti et Jacincti)
12 S. "Maxiliano", bispo
13 S. "Maurilio" ou "Maurelio", bispo
14 Exaltação da Santa Cruz
15 S. Nicomédio, mártir
16 Stª Eufemia, virgem
17 S. Lamberto, bispo
18
S. "Richarte Emperador"
19 S. Januário, bispo
20 Stª Fausta
21 S. Mateus, apóstolo
22 S. Maurício, mártir
23 S. Leão, papa
24 S. Roberto, bispo
25 S. Firmino, bispo
26 Ss. Cipriano e Justina
27 Ss. Cosme e Damião
28 S. Venceslau, duque; S. "Exupiro" (Exupério), bispo
29 S. Miguel, arcanjo
30 S. Jerónimo, doutor
.outubro
1
S. Remígio, bispo
2 S. Leodegário, bispo
3 S. Ludovico, bispo
4 S. Francisco
5 S. Plácido, mártir
6 "Sancta Fee"
7 S. Marcos, papa
8 S. Demétrio, mártir
9 S. Dionísio, mártir
10 S. "Cribonio", "Criberio" (i.e. Cerbonius), bispo
11 S. Nicásio, papa
12 S. Maximiliano, mártir
13 S. Giraldo, confessor
14 S. Calisto, papa e mártir
15 Stª Aurélia, virgem
16 S. "Galo" (Gall, Gallus), abade
17 Stª Lucina Romana, virgem
18 S. Lucas, evangelista
19 S. Fabião e Stª Potenciana
20 S. "Carpácio" [Caprais de Aquitânia, séc. III], mártir
21 Stª Úrsula e as Onze Mil Virgens
22 S. Servando e Germão (Germán)
23 S. Severino, bispo
24 Stª Radegunda, rainha
25 Ss. Crispim e Crispiniano
26 S. Amador, bispo
27 Stª Sabina
28 Ss. Simão e Judas
29 S. Narciso, bispo
30 S. Marcelo, cavaleiro
31 S. Quintino, mártir
.novembro
1
"Todos os Sanctos"
2 "Comemoração dos finados"
3 S. Restituto, confessor
4 S. Amâncio [Amantii], bispo
5 S. Malaquias, bispo
6 S. Leonardo, confessor
7 S. "Florentim" (Florentino), bispo
8 "Os quatro Coroados"
9 S. Teodoro, mártir
10 S. Martinho, papa
11 S Martinho, bispo
12 Stª Benedita, virgem
13 S. "Bricio" (Briccii), bispo
14 S. João, bispo
15 S. Eugénio, bispo
16 S. Euquério, bispo
17 Ss. Acisclo (ou  Ocíselo), Amano(?) e Victoria; Gregório de Tours no Lunario de Cortez
18 Stª Eufrásia, virgem
19
Stª Isabel, rainha
20 S. Estêvão, confessor
21 Apresentação de Nª Senhora
22 Stª Cecília, virgem e mártir
23 S. Clemente, papa
24 S. Crisógono, mártir
25 Stª Catarina, virgem
26 S. Lino, papa e mártir
27 São "Fagundo" (Facundo) e S. Primitivo
28 S. "Iacobo Orador" [Jacobo da Marca, Franciscano, m. 1476]
29 S. "Sadorninho" (Saturnino)
30 S. André, apóstolo
.dezembro
1
S. "Eeloyo" (Elói, Elígio), bispo e confessor
2 Stª Bebiana, virgem
3 S. Cassiano e Stª Atalía [de Alsácia], virgem
4 S. Bárbara, virgem e mártir
5 Stª Crispina, virgem
6 S. Nicolau, bispo
7 S. Agatão, mártir
8 "A conceição de nossa Senhora"
9 S. Joaquim
10 Stª Olaia [Eulália de Mérida], virgem
11 S. Dâmaso, papa
12 S. Valério, abade
13 St* Luzia, virgem
14 S. Nicásio, bispo e mártir
15 S. Valeriano, bispo
16 Ss. Ananias (ou Hananias), Azarias e Misael
17 S. Lázaro, bispo
18 Nª Senhora do 'O'
19
S. Nemésio, abade
20 S. Tomé, apóstolo
21 S. Domingos, abade
22 Stª Teodósia, virgem
23 Stª Victoria, virgem e mártir
24 S. Inácio, bispo
25 Dia de Natal
26 S. Estêvão, mártir
27 S. João Evangelista
28 "Os Innocentes"
29 S. Tomás, arcebispo
30 "David Rey"; Sabina, mártir (no Lunario)
31 S. Silvestre, papa

- Na Idade Média, os chamados Catorze Auxiliadores (Quattuordecim auxiliatores) eram santos cuja intercessão se considerava eficaz contra determinados males físicos e da alma. A tradição parece ter surgido num convento dominicano em terras alemãs no séc. XIV, quando a peste negra assolava a Europa, sendo estimulada pela visão de um pastor a quem o Menino Jesus supostamente aparecera, rodeado de catorze crianças (depois associadas aos intercessores). Houve pequenas variantes no elenco e estes santos são habitualmente dispostos por ordem alfabética: Acácio, Bárbara, Brás, Catarina de Alexandria, Ciríaco, Cristovão, Dionísio, Egídio, Erasmo, Eustáquio, Jorge, Margarida, Pantaleão e Vito. Todos foram mártires (martírio = passio) exceto S. Egídio. As três "virgens mártires" (Santa Margarida de Antioquia, Santa Bárbara e Santa Catarina de Alexandria) era conhecidas como "Santas de Casa".

- A veneração Mariana é de origem popular (provável transformação espontânea de remotos cultos da Terra-Mãe). Na verdade, encontram-se parcas referências à Virgem na Bíblia e verificou-se um óbvio desinteresse nos primórdios do Cristianismo, até às questões levantadas pelas primeira heresias (Docetismo e Arianismo). O enfoque era cristológico, no Senhor (Kyrios). É somente no Concílio de Éfeso (431) que se proclama dogmaticamente Maria como "Mãe de Deus" (Theokotos, lit. "Portadora de Deus"). Os documentos que enquadram a posição Católica atual, emanados do Vaticano II, são: Lumen Gentium VIII, Marialis Cultus e Redemptoris Mater.

Relação rimada (já do séc. XVII) das principais celebrações e devoções que se guardavam, bem como quando se jejuava (Thesouro de Prudentes, Trat. prymeiro, Cap. oytavo)