As origens Calendário Romano
De acordo com a tradição, Roma foi fundada durante o festival da Parilia, no dia 21 de Abril. O ano teria sido o equivalente a 753 a.C., originalmente sugerido por Varrão (Varro, 116-27 a.C.). 752 a.C., segundo Cato (Catão, o Jovem), 753 a.C.
As origens do calendário romano estão envolvidas em lenda. As fontes
são tardias e alguns académicos consideram que muito do que se concebe
não pode ser comprovado através de fontes credíveis e coetâneas e nem
sequer existiu. O calendário original era decerto lunar. Macrobius e
Censorinus descreveram um calendário supostamente inventado por Rómulo (Romulus), o lendário fundador e primeiro soberano de Roma. Ovídio e Plutarco também o mencionam. O ano começaria no equinócio vernal (N.B.: nos tempos históricos, o ano já começava em Janeiro) e teria apenas 304 dias, distribuidos por 10 meses: Martius, Maius, Quinctilis e October com 31 dias (pleni menses), restantes 6 meses com 30 (cavi menses). Seis dos nomes destes meses revelam a sua sequência tradicional, de cinco (Quintilis) a dez (December).
O intervalo invernal de duas lunações até Março não estava
aparentemente organizado, talvez por não ter importância agrícola ou
económica. Os dois primeiros autores acima mencionados descrevem, de
seguida, a reforma encetada por Numa Pompilius,
o segundo rei, que se afirma ter vivido entre 715 e 672 a.C. Diz a
tradição que estabeleceu um colégio de pontífices que também era
responsável pelas coisas do calendário. Teria sido Numa a acrescentar Januarius (Janeiro) e Februarius (Fevereiro), todavia talvez na ordem inversa! (E. G. Richards, Mapping Time...,
Oxford U. P., 1998, p.207). Outra tradição refere que estes meses
estavam inicialmente no final do ano (Fevereiro era o último mês, o que
parece fazer sentido pelo facto de se revestir de um simbolismo de
purificação e ser mais pequeno do que os restantes) tendo sido mais
tarde transladados para o início do ano.
«Numero deus impare gaudet.» (P. Virgilius Maronis, Ecloga, VIII, 75)
Como
se preferiam os números ímpares e os números pares eram vistos como nefastos, Numa acrescentou 1 dia a
Janeiro e diz-se que instituiu um mês intercalar (mensis intercalaris
ou interkalarius), conhecido popularmente, segundo Plutarco, como Mercedonius.
Este nome radica no vocábulo "merces", pagamentos do trabalho que eram
então efectuados. Na realidade este desenho é da época republicana,
todavia os relatos retornam sempre a Numa e aos veteres.
Outras reformas foram supostamente implementadas pelo rei Tarquinius Priscus (quinto rei de Roma, segundo a cronologia de Tito Lívio) e pelos Decemviri
(dez magistrados) por volta de 45 a.C. Segundo Ovídio, foram este que
permutaram a ordem de Janeiro e Fevereiro, deixando a abertura do ano
sob a responsabilidade de Janus,
o deus das portas, das transições e do tempo. Também regularizaram a
intercalação do mês suplementar ou de 22 e 23 dias a cada biénio,
sempre depois da festa da Terminalia
(23 de Fevereiro), suprimindo-se os últimos dias de Fevereiro. Este
calendário exigia ajustamentos deixados ao arbítrio dos sacerdotes (pontifices),
ao sabor de interesses políticos e económicos. Tudo o que foi relatado
é algo nebuloso. Mas foi este, grosoo modo, o esquema aproximado que se
manteve ao longo da República (a Monarquia havia terminado, segundo a
tradição, em 509 a.C.) até à instituição do Calendário Juliano em 45
a.C. O ano estendia-se normalmente por 355 dias. As tradições e
rituais, mesmo quando insuficientemente compreendidas, eram sempre
atribuídas à "Época de Romulus" ou ao "Tempo de Numa" (H. H. Scullard, Festivals and Ceremonies of the Roman Republic, 1981, p.13). Sabemos, pelos registos de eclipses e sua simulação que, antes da
implementação feita a mando de Júlio César. o ano estava praticamente 3
meses avançado em relação às estações, o que testemunha a ineficácia e
degradação a que havia chegado.
Desde muito cedo, os romanos adoptaram um ciclo paralelo (com prováveis
raízes Etruscas), uma "semana" de oito dias independente dos meses, no
qual se realizavam mercados (num sentido lato, onde se comerciava mas
também se cuidava de questões pendentes, chamados nundinae)
de oito em oito dias (nove, se contarmos de modo inclusivo, como era
característica e como ainda hoje fazemos quando referimos "de hoje a
oito..." ou que Cristo ressuscitou "ao terceiro dia"): nundinum ("período de nove dias", a partir de novem, nove). Era o ciclo nundinal.
Fragmento dos Fasti Praenestini para o mês Aprilis (Abril), mostrando as letras nundinais na coluna da esquerda.
O intervalo entre mercados era chamado internundinum.
Todos os dias eram assinalados por uma letra (entre A e H).
Identificavam-se quais os dias fastos e nefastos, bem como as
actividade adequadas na vida pública (e.g., dies fasti, dies nefas, comitialis).
Os dias dos mercados eram assinalados pelas letras A e H. No séc. I a.C. estes dias passaram a ser exclusivamente fasti e comitia (assembleias e eleições) e contiones (reuniões públicas promovidas por magistrados) não se podiam realizar.
Para algumas elites, este ciclo assumiu
conotações negativas relacionadas com o "marketing" e a corrupção e,
deste modo, permaneceu até à Idade Média no significado de nundinatio.
Durante a República, ciclo parece ter sido fixo, sendo portanto útil
ferramenta cronológica. Na fase final e no Império houve adaptações
para que o dia fundamental não coincidisse com actos públicos políticos
ou religiosos importantes.
Para
além das letras nundinais, cada dia tinha uma outra letra que indicava se se
tratava de um dia vulgar ou festivo. Entre estas encontramos F, N, NP,
EN, C, R, C, F, Q, etc. Por exemplo, F era dies fasti, NP dies nefasti e C dies comitialis. Também havia dies Endotercisi que eram dias nefastes de manhã e ao final da tarde e fastes durante o meio do dia.
A semana de sete dias (proveniente das tradições Babilónica, Hebraica [o Shabbat de repouso] e Helenística, cuja astrologia associava os dias aos planetas/deuses) somente foi adoptada durante a época Imperial, tendo ainda coexistido com o antigo ciclo.
O calendário Juliano original, gizado por Sosígenes, era exclusivamente
solar e utilizou os bissextos quadrienais. Introduziu mais 10 dias, nos
meses mais pequenos, determinando assim uma diferença de 1 ou 2 dias
entre as datas pré-Julianas e as datas Julianas. Os meses de Janeiro,
Março, Maio,
Julho, Setembro e Novembro tinham 31 dias; os restantes 30, excepto
Fevereiro com 29 (30 caso ano fosse bissexto). Uma estrutura coerente,
na medida do possível. Todavia, em 7 a.C., Sextilis, o sexto mês do antigo ano romano que começava em Martius (Março), foi renomeado em honra de Augusto. E o novo mês (Augustus)
foi ampliado para 31 dias para igualar o de Júlio César. Retirou-se 1
dia a Fevereiro e, de modo a que não houvesse 3 meses seguidos com 21
dias, Setembro e Novembro foram reduzidos para 30 dias e Outubro e
Dezembro aumentados para 31. Uma vez que, desde 153 a.C., os cônsules
tomavam posse em Janeiro, este tornou-se inequivocamente o primeiro do
ano. Mais tarde, os Cristãos consideraram este costume pagão
indesejável e utilizaram datas alternativas, nomeadamente a Anunciação ou a Natividade
(decretada apostolocamente em 356 como o dia 25 de Dezembro). No
Oriente, a partir da adopção do ciclo tributário da Indicção (em 312)
por Constantino, perpetuou-se em Bizâncio o uso da data de 1 de
Setembro, com ele relacionada e já então tradicional.